A respeito de um pergunta que o camarada Rebatet, do blogue Batalha Final, me fez há umas semanas numa caixa de comentários, a respeito do problema de harmonizar a liberdade individual com o dever para com o povo, reforço o que já tinha dito: esta harmonização deve suceder numa sociedade em que o indivíduo não se veja como separado, na sua identidade, do Povo de que faz parte.
A salvaguarda da identidade nacional é por isso algo que está acima do livre arbítrio de qualquer um, como é evidente, tão somente porque, uma vez que a liberdade de um indivíduo termina onde começa a liberdade do outro, tem-se que um indivíduo não pode pôr em risco o que aos outros também pertence, a saber, neste caso, a Nação.
E é assim que o Génio Nacional deve ter um direito soberano em cada Estado.
Há quem despreze de tal modo a vontade do Povo que a queira castrar, transformando toda uma Nação num rebanho obediente a pastores iluminados. Tenho para mim que este desprezo para com o Povo não passa de um temor de impotentes que, por falta de argumentos, não querem ver as suas tíbias certezas mandadas às urtigas por parte de uma população «deseducada», leia-se, não domesticada por «princípios» dogmáticos e mutiladores das verdadeiras identidades.
Por conseguinte, ficam em pânico perante a própria ideia de Democracia, e de ver o Povo a escolher o seu próprio destino, e os seus próprios líderes, caindo no ridículo de lhe chamar «totalitarismo rousseuniano».
Ora não foi Rosseau que inventou isso, se é que inventou algo de semelhante a isso. Na verdade, a ideia do líder eleito entre iguais que é vigiado pelos seus iguais, já era praticada na antiga Europa germânica antes da conquista romana.
Numa sociedade realmente justa e democrática, o líder nada mais é do que um administrador eleito pelo Povo, e que é mantido no seu lugar apenas enquanto corresponder à vontade popular. Para o problema da falta de estabilidade é que existe o prazo de quatro a cinco anos que dura, em princípio, o mandato de um líder governativo...
Assim, quem neste contexto denuncia o «totalitarismo rosseuniano», está na verdade a fazer um malabarismo de palavras para amaldiçoar a própria Liberdade dos povos, advogando em vez disso um totalitarismo de facto, a saber, um regime inteiramente dominado por uma elite supostamente detentora da verdade, que nem sequer tem de explicar com que base é que lhe foi revelada essa verdade; até porque, se tiver de o fazer, o mais provável é que, para além dumas platonadas mal amanhadas, coladas com cuspe e engendradas com um carinho muito beato e ignaro, acabe por se vislumbrar a única e verdadeira fonte de tanto «saber»: o ensinamento dogmático, universalista e alienígena da Bíblia.
Quem pugna por este ideal dogmático, chega ao ponto de inversão de dar a entender que o Estado vale por si mesmo, como estrutura que administra a Justiça.
Ora, na verdade, a acção governativa é nada mais do que uma excrescência necessária da comunidade, pois que, de facto, é o governo que serve a Nação, não é a Nação que serve o governo.
Quem odeia este modo democrático de conceber o poder, argumenta contra a vulnerabilidade e volatilidade inerentes da vontade dos indivíduos.
E haverá outro modo de governar além da vontade dos indivíduos?
Haverá alguma máquina governativa infalível?...
Ou, «quem sabe» (muitas aspas ;)), prepara-se uma elite iluminada que tem o exclusivo da comunicação directa com Deus, estando por isso dotada de toda a sabedoria possível em todas as matérias?...
Já exauridos, os inimigos da Democracia descem à grosseria de a tentar caricaturar, acusando os democratas de promoverem concepções simplistas de poder:
«Quem observa a correcção de algo à luz da vontade popular encontra-se cativo de uma concepção simples, mas errada. “Eu gosto porque os outros gostam”! Daí emerge o seu sucedâneo “eu sou democrata, gosto do que (e porque) os outros gostam. Tu não és democrata, portanto concordas com o que é feito contra a vontade popular.” A estreiteza de perspectiva é evidente...»
De facto, a estreiteza da perspectiva é evidente.
E é evidente porque se trata de uma invenção particularmente marreca, e das mais incompetentes, com o intuito de denegrir a Democracia.
Na verdade, o democrata não diz «Eu gosto porque os outros gostam”!»
mas sim
«Eu gosto mesmo que os outros não gostem e tenho o direito de usufruir do que gosto desde que não ponha em causa o usufruto do que os outros gostam.
O que eu não tenho é o direito de impor a todos o meu gosto, alegando que o gosto deles todos é «volátil, instável e fútil», ao passo que o meu GOSTO é «Conhecimento Solene e Objectivo, Justo e Estável».
Isto sim, é a base do verdadeiro totalitarismo, em que uma elite supostamente detentora da Verdade Última e inquestionável (ui que horror!, ter de prestar declarações ao povinho...) se permite impor a todos os seus valores e as suas decisões sem admitir oposição.
É, enfim, um truque velho por demais infantil que pura e simplesmente já não pega. O Homem Ocidental sempre teve no fundamento da sua cultura o amor à liberdade, como já Aristóteles observava, ao contrário do Oriental que, embora sendo capaz de criar grandes civilizações, não amava a liberdade motivo pelo qual vivia subjugado (Aristóteles).
Isto é especialmente verdade agora, que os Orientais muçulmanos vivem cada vez mais submetidos a um Islão imperialista e totalitário, ao passo que os Ocidentais já se habituaram à individualidade livre, estando longe de sentirem necessidade de se espojarem aos pés de um «líder iluminado».
Donos da verdade já não impressionam ninguém.
E quem não percebe isso, anda roto pela rua a julgar que lhe vão oferecer um trono.
Perante tudo isto, os acima referidos anti-democratas costumam declarar coisas deste jaez:
Temos o DIREITO de mostrar aos outros a Verdade, à luz de toda a Filosofia, de toda a Religião e da Moral Inteira! Você, como é um relativista, não percebe isto. Julga que cada um deve poder pensar o que lhe apetece. Escapa-lhe por completo que há pensamentos que podem levar por maus caminhos e urge por isso detectá-los, neutralizá-los e corrigi-los. Se um dia se inventar uma máquina de ler pensamentos, será de grande valor ter pelo menos uma em cada esquina, devidamente administrada por quem de direito - quem conhecer os Princípios Imortais de Toda a Justiça!
E acredite, porque eu lhe digo, que em cada momento da vida humana se pode incorrer em erro. É por isso que, pessoalmente, simpatizo com o Islão, que apresenta regras precisas que regulam a intimidade de cada um. Creio até que a limpeza anal de cada indivíduo deve obedecer a regras estritas, baseadas em conceitos higiénicos e científicos avançados, sobre o melhor papel a utilizar, os melhores materiais para a fabricação desse papel, as melhores posições para garantir uma limpeza completa, eficaz e económica, etc.
Não me venha agora com argumentações e direitos, e liberdades, que isso é tudo de somenos importância. O seu Locke não tem o direito de querer que as pessoas possam ser livres. As pessoas não têm de ser livres, têm é de concordar com o que os meus tutores espirituais proclamaram. Os meus tutores não admitem que se mije fora do penico ou que se vá para a cama sem beber o leitinho e lavar os dentinhos. E posso provar-lhe que assim deve ser, citando amplamente Platão, Chesterton, Amanwith Ataperecorder Uphisnose, Charles Mollins, Robert Highins, Aristóteles, Sócrates, Sodoff Youvagrant, Bossuet, Eckart, Aindaestásalerphodass Olhagotake Intheass, Upyours Smithsonian, Herbert Johnson, Donovan Sykes, Black & Decker, Mymaster Toldme, etc..
Você não tem preparação filosófica, por isso esteja calado.
É, enfim, o triste produto do fanatismo beato a produzir gente incapaz de sustentar visões totalitárias e escravizantes dos indivíduos e dos Povos.