Cresce no Ocidente a Paganidade em versão mais «soft», «pink» e «in» - não me agrada imensamente; mas, quase-semi-parafraseando o irlandês Oscar Wilde, só há uma coisa pior do que o Neo-paganismo «níu-êigico» estar a crescer, e essa coisa é não haver absolutamente nenhum paganismo a crescer. Mal por mal, antes haver uma chusma crescente de jovens e de maduros a dedicar ritos e pensamentos «à Deusa» e «ao Cornudo» (o Esposo da Deusa) do que andarem estes mesmos homens e mulheres de várias idades a sacrificar os joelhos atrás do judeu morto na cruz ou pura e simplesmente deixarem-se ficar na modorra deprimente e marásmica do ateísmo, ou, como está na moda, do «agnosticismo» (que é quase sempre ateísmo, mas enfim).
Na mais poderosa nação europeia, por exemplo, onde há uns séculos apareceu um pastor alemão a querer que o Cristianismo voltasse à sua pureza primitiva, judaica, contrária ao fausto e à idolatria católica, verifica-se actualmente um crescimento exponencial do número de teutões que se dedicam ao oculto e a bruxarias várias, deixando os locais de culto do judeu morto de tal modo desérticos que a padralhada é obrigada a encerrá-los. A claque do Crucificado bem tenta arranjar desculpas para o seu fracasso, ele é a crise de valores, ele é o problema da divisão da Alemanha, ele é os traumas das duas guerras, e tal, argumentação esta que cai quase toda por terra logo à partida, assim que vem à mente que o mesmo fenómeno - queda do Cristianismo, ascenção das práticas alternativas - se verifica em todo o Ocidente. E um dos que assim fala em lamento por este estado de coisas, o teólogo Hansjoerg Hemminger, diz uma coisa especialmente estimulante:
"
We are reverting back to a pre-Christian heathen society where people gather in clearings and worship tree sprites."
ou seja,
«Estamos a voltar a uma sociedade pagã pré-cristã onde as pessoas se reúnem em clareiras e prestam culto aos espíritos das árvores.»
Os Deuses te oiçam, ó pastor...
E onde a choraminguice toca as raias do queixume desbragado e descontrolado é quando o pensador cristão se põe a atirar com várias acusações ao ar, sem dar conta de que está a enterrar-se em contradições: alega que a Igreja foi reprimida pelo Comunismo, e que, antes disso, o povo sofreu uma «lavagem cerebral» nacional-socialista no sentido de apologia do Paganismo, porque os ns chamavam «Yule» e «Solstício de Verão» ao Natal (que, em Alemão e em Inglês, tem na palavra o nome de Cristo: e «Christmas», respectivamente, enquanto o português «Natal» deriva do pagão romano «Natalis») e diziam que o Pai Natal era um espírito teutónico, desancoselhando a que o chamassem «São Nicolau»; depois, continua o teólogo, as pessoas do pós-guerra revoltaram-se contra a religião dos seus pais e aderiram ao Hinduísmo, ao Budismo, etc..
Ora, se o povo se revoltou contra o que era anteriormente vigente, e se tudo o que era nazi foi absolutamente vilificado, não seria natural que o Cristianismo, supostamente atacado pelo Estado nazi, tivesse sido exaltado, e que o Paganismo acabasse consequentemente rebaixado? Afinal, as pessoas revoltaram-se no pós-guerra contra quê?
De resto, é um descaramento de alto lá com ele, isso de vir dizer que o NS lavou as mentes dos Alemães para que estes abandonassem o Cristianismo - em matéria de lavagem cerebral (ou poluição), não há maior mestre do que a «escola» de missionários cristãos, que em toda a parte usurparam, demonizaram, distorceram tudo o que podiam do antigo Paganismo para em toda a parte imporem a sua fé no Nazareno.
Multiplicam-se os grupos pagãos em toda a Germânia, tendo quadruplicado desde a sua reunificação, diz certa bruxa de sucesso especialmente na parte leste, onde o anterior regime comunista era militantemente ateu - sinal saudável da mais genuína reacção espiritual. A mesma feiticeira, Maddalina, de credo wiccano (a Wicca é a forma de neo-paganismo mais divulgada na actualidade), afirma que a internet em muito auxiliou o desenvolvimento do Paganismo, o que, pelo que tenho visto, é inteiramente verdade.
Mais adianta que outra grande ajuda à divulgação do Neo-paganismo têm sido as produções de ficção que recentemente têm agradado às massas, tais como as séries televisivas «Charmed» e «Sabrina», além do filme em que Nicole Kidman interpreta o papel de bruxa (reedição de «Bewitched», que em Portugal recebeu o título de «Casei com uma feiticeira», título este que implica uma abordagem curiosamente centrada no marido e não na mulher, mas as feministas lusas não deram por nada, que eu saiba, ou então não querem saber, que isso de armar barraca por causa de pormenores destes tem mais a ver com a mentalidade americana).
Concorda, a senhora, com o teólogo cujas palavras foram já mencionadas, na medida em que muita gente está espiritualmente vazia. A diferença é que, enquanto o teólogo Hemminger vê diminuir as cabeças de gado do seu rebanho, a bruxa Maddalina vai arrebanhando mais e mais «perdidos» (e, daí, achado não é roubado) para a sua grei de neo-paganada.
O novo paganismo cresce também na Grã-Bretanha, liderada pela Inglaterra, nação irmã da dos filhos de Arminius (o equivalente «alemão» do «luso» Viriato). Aliás, pode até dizer-se que foi na velha Albion que começou a nascer o Neo-paganismo, na Idade Moderna, mais precisamente no século XVII, quando surgiram os primeiros agrupamentos neo-druídicos em Gales.
Na actualidade, lojas
como esta lucram estrondosamente, sobretudo quando adquirem fama de serem locais onde se podem curar maleitas diversas, como é o caso deste mesmo estabelecimento.
Estava tudo a correr bem, neste artigo, dentro do possível, até que dou de caras com isto:
Psychologist Dr Susan Blackmore, a visiting lecturer at the University of the West of England, Bristol, with an interest in science and religion, says that it has a lot to do with the current political climate. "We all have natural religious impulses - a need for ritual, and some explanation as to the meaning of things in life. But at the moment with all the friction between Christianity and Islam, people are looking for some other outlet for these impulses," she says.
"Wicca is a safe religion - it doesn't have a theistic god, it isn't regimented, and wiccans are not known for their wars or aggression. On the whole it is far enough removed from the religious struggles going on at the moment to appeal."Ou seja, há gente a aderir à Wicca porque não querem ter nada a ver com os conflitos entre Islão e Cristianismo.
Temos o caldeirão da bruxa entornado. Já me parecia que algumas destas pessoas apreciavam especialmente o refúgio num mundo cor-de-rosa, de fadas e duendes (ignorando, por exemplo, que, em tempos arcaicos, os povos tinham receio de lidar com a corte oculta das florestas), mas isto atinge as raias do perigo. Pobres ingénuos, desconhecem os planos que a tropa islâmica poderá ter para eles, se o crescente vier a conquistar o Ocidente… nunca ouviram dizer que os muçulmanos até toleram os cristãos, desde que estes se submetam, mas que desprezam e odeiam os pagãos… não lhes passa pela cabeça que, no Islão, a «chirque» (idolatria) é muitas vezes considerado como o maior pecado que se pode cometer (isto é, prestar culto a Outro que não Alá).
Mas enfim, fora isso, esta onda neo-pagã tem a singeleza do Romantismo europeu e do amor ingénuo, e poético, pela Natureza. Trata-se, enfim, de uma espiritualidade de ninfas.
Não será talvez por acaso que, em Galego, uma das palavras para dizer «bruxa» é «meiga»…