SOBRE A PROPAGANDA OFICIAL A FAVOR DO INGRESSO DA TURQUIA NA U.E.
Há muito tempo que não encontrava um texto tão asqueroso como este. (Aqui pode ler-se o texto completo, em pdf).
Trata-se de um panfleto editado pelo «Foreign Policy Centre», organização lançada por Tony Blair, o que diz muito sobre o nível hierárquico que a sujidade intelectual já alcançou na Europa.
O modo como propagandeia o valor do ingresso da Turquia na U.E. chega a ser repulsivo, tal é a baixeza e o descaramento da sua argumentação. Com efeito, quem o escreve inverte de tal maneira a ética política democrática, que chega ao ponto de dizer que os líderes estatais que querem impedir a entrada da Turquia, «têm demasiado medo do seu próprio povo». Isto é uma maneira de denegrir a atitude mais puramente democrática - é tentar fazer crer que o respeito pela opinião do povo é «mostrar medo do público». É, assim, desautorizar por completo a própria Democracia. Em termos de estilo, faz lembrar um deputado comuna qualquer que, na Assembleia da República, declarou qualquer coisa contra «a ditadura da maioria».
Ora, na verdade, quem afinal tem medo da opinião do povo é precisamente a tropa pró-turca - essa gente é que tem medo do referendo, porque sabe que a maioria dos Europeus não quer a Ásia Menor enfiada pela Europa adentro. Enquanto o referendo sobre este tema não vem, os pró-turcos entretêm-se a tentar arranjar justificações para a maneira como a vontade popular se tem exprimido a este respeito. Há umas semanas, ouviu-se na tsf um qualquer intelectual europeu a dizer que a resposta negativa dos Franceses no referendo sobre a Constituição Europeia, se deveu a qualquer coisa como «uma vontade de dizer não porque não, só para contrariar». Em nada exagero. Certifiquei-me que estava mesmo a ouvir isto, porque a afirmação foi repetida.
Agora, neste texto, lêem-se interpretações mais complexas, mais cuidadas, mais bem elaboradas, e igualmente falaciosas, como seria de esperar – perante o facto, nunca posto em causa, de a maior parte dos Franceses e dos Holandeses ter votado «Não» porque se opõem à entrada da Turquia, este panfleto afirma que tal postura se deve a uma recusa, por parte dos povos, a que a U.E. se alargue. Portanto, o problema não é a Turquia, é o alargamento em si. Ora o facto de não ter havido qualquer protesto europeu de relevo a respeito do anterior alargamento a vinte e cinco países, deita por terra esta vontade de contornar o problema dos politicamente correctos: é que os Europeus não querem mesmo os Turcos no seu espaço. E, «por coincidência», esta repulsa europeia é mais forte nos países onde há mais imigrantes turcos (Alemanha, Holanda)… e, a respeito deste facto, quem escreveu o texto resolve apelar para o batido problema da falta de integração dos Turcos e tal, o já enjoativo choradinho do imigrante, que até contribui para o seu próprio isolamento, pura e simplesmente porque a maioria dos Turcos não quer viver à maneira alemã e, em muitos casos, sente repulsa pelos Alemães. («Então o que é que estão lá a fazer?», é pergunta que surge de imediato em qualquer mente normal, ao que a mente doentia responde «Têm direito a lá estar porque o mundo é de todos!»).
O resto do excerto que tive tempo de ler (não o do pdf), repete de várias maneiras o argumento já aqui rebatido – o do medo, da intimidação, da extorsão, que é este: a Europa tem de aceitar a Turquia, senão… senão os Turcos juntam-se aos maus da fita.
Ora, numa perspectiva saudável, a verdade é que a Europa se afigura cada vez mais como potência mundial, economicamente rival dos E.U.A., apesar dos seus problemas internos. Do grupo dos «G8», quatro são europeus. Militarmente, basta dizer que tem em si duas das cinco potências nucleares do planeta (Inglaterra e França). Por isso, é a Turquia que precisa da Europa, não é a Europa que precisa da Turquia, a qual deve por isso agradecer por poder ter o estatuto de parceria privilegiada.
Uma variante do argumento do medo, é a particularmente revoltante referência às comunidades muçulmanas na Europa – dizem os pró-turcos que é preciso mostrar aos muçulmanos na Europa que os Europeus não são contra a religião muçulmana… Ora, estes pró-turcos são também, sem excepção (que eu conheça) igualmente favoráveis à imigração vinda de fora da Europa, inclusivamente do mundo islâmico. Foram estes, ou outros quejandos, quem meteu na Europa tão grande quantidade de muçulmanos, especialmente de turcos. E agora, usam este mesmo argumento para intimidar os Europeus, como quem diz: «Ou deixam entrar os Turcos em vossa casa, ou então os Mafomas que nós já metemos em vossa casa, põem-vos uma bomba na sala de estar.»
Mais uma vez, não exagero absolutamente nada - de facto, o texto faz referência ao problema do terrorismo como motivação para os Europeus aceitarem a Turquia no seu seio. Passo a citar:
At the same time, in the wake of 9/11, the Madrid bombings and the attacks on London, we cannot hide from the problem of militant Islam and its appeal to young Muslims living in the West.
Ou seja,
Ao mesmo tempo, no despertar do 9/11, das bombas de Madrid e dos ataques em Londres, não podemos esconder-nos do problema do Islão militante e do seu apelo junto dos muçulmanos jovens a viver no Ocidente.
Este argumento é portanto o daqueles que pactuam com o terrorismo islâmico. É o daqueles que fazem com que o terror muçulmano seja compensado. É o daqueles que fazem a vontade «ao Sr. Bin Laden», mesmo que, descaradamente, clamem o contrário.
Que a Europa esteja cultural, mediática e politicamente nas mãos de uma «elite» que preconiza a rendição como ideal e «politicamente inevitável», é um sinal de morte iminente.
Para cúmulo da desfaçatez, o(s) autor(es) do artigo, antes da passagem supracitada, escrevem: «European politicians are rightly sceptical of the American inclination to see a ‘clash of civilisations’ in the 21st Century.»
Isto é,
«Os políticos europeus têm razão em ser cépticos relativamente à inclinação americana de ver um «choque de civilizações» no século XXI.»
Dito por outras palavras: «Não há nenhum choque de civilizações, isso é paranóia americana! Mas, pelo sim pelo não, é melhor mostrar aos muçulmanos que até somos amigos deles, que é para ver se não nos deitam mais bombas em cima...».
Outro argumento aqui aduzido a favor do ingresso da Turquia na U.E., é o da «esperança»: pode ser que assim surja uma nova versão do Islão, mais moderada...
Ora, se essa versão europeia do Islão não surge no seio das comunidades muçulmanas a viver em solo europeu, antes pelo contrário (alguns dos islâmicos que mais odeiam o Ocidente, vivem na Europa) , porque cargas de água é que há-de surgir num Estado muçulmano integrado à força na U.E.? Quando o governo de Erdogan quis implementar uma lei punitiva do adultério de acordo com o Islão, a Europa opôs-se. Tayyp Erdogan mostrou irritação, indignando-se com a intervenção europeia nas leis do seu país. Será que esta irritação turca, crescente, não diz nada aos pró-turcos ingénuos?
Trata-se de um panfleto editado pelo «Foreign Policy Centre», organização lançada por Tony Blair, o que diz muito sobre o nível hierárquico que a sujidade intelectual já alcançou na Europa.
O modo como propagandeia o valor do ingresso da Turquia na U.E. chega a ser repulsivo, tal é a baixeza e o descaramento da sua argumentação. Com efeito, quem o escreve inverte de tal maneira a ética política democrática, que chega ao ponto de dizer que os líderes estatais que querem impedir a entrada da Turquia, «têm demasiado medo do seu próprio povo». Isto é uma maneira de denegrir a atitude mais puramente democrática - é tentar fazer crer que o respeito pela opinião do povo é «mostrar medo do público». É, assim, desautorizar por completo a própria Democracia. Em termos de estilo, faz lembrar um deputado comuna qualquer que, na Assembleia da República, declarou qualquer coisa contra «a ditadura da maioria».
Ora, na verdade, quem afinal tem medo da opinião do povo é precisamente a tropa pró-turca - essa gente é que tem medo do referendo, porque sabe que a maioria dos Europeus não quer a Ásia Menor enfiada pela Europa adentro. Enquanto o referendo sobre este tema não vem, os pró-turcos entretêm-se a tentar arranjar justificações para a maneira como a vontade popular se tem exprimido a este respeito. Há umas semanas, ouviu-se na tsf um qualquer intelectual europeu a dizer que a resposta negativa dos Franceses no referendo sobre a Constituição Europeia, se deveu a qualquer coisa como «uma vontade de dizer não porque não, só para contrariar». Em nada exagero. Certifiquei-me que estava mesmo a ouvir isto, porque a afirmação foi repetida.
Agora, neste texto, lêem-se interpretações mais complexas, mais cuidadas, mais bem elaboradas, e igualmente falaciosas, como seria de esperar – perante o facto, nunca posto em causa, de a maior parte dos Franceses e dos Holandeses ter votado «Não» porque se opõem à entrada da Turquia, este panfleto afirma que tal postura se deve a uma recusa, por parte dos povos, a que a U.E. se alargue. Portanto, o problema não é a Turquia, é o alargamento em si. Ora o facto de não ter havido qualquer protesto europeu de relevo a respeito do anterior alargamento a vinte e cinco países, deita por terra esta vontade de contornar o problema dos politicamente correctos: é que os Europeus não querem mesmo os Turcos no seu espaço. E, «por coincidência», esta repulsa europeia é mais forte nos países onde há mais imigrantes turcos (Alemanha, Holanda)… e, a respeito deste facto, quem escreveu o texto resolve apelar para o batido problema da falta de integração dos Turcos e tal, o já enjoativo choradinho do imigrante, que até contribui para o seu próprio isolamento, pura e simplesmente porque a maioria dos Turcos não quer viver à maneira alemã e, em muitos casos, sente repulsa pelos Alemães. («Então o que é que estão lá a fazer?», é pergunta que surge de imediato em qualquer mente normal, ao que a mente doentia responde «Têm direito a lá estar porque o mundo é de todos!»).
O resto do excerto que tive tempo de ler (não o do pdf), repete de várias maneiras o argumento já aqui rebatido – o do medo, da intimidação, da extorsão, que é este: a Europa tem de aceitar a Turquia, senão… senão os Turcos juntam-se aos maus da fita.
Ora, numa perspectiva saudável, a verdade é que a Europa se afigura cada vez mais como potência mundial, economicamente rival dos E.U.A., apesar dos seus problemas internos. Do grupo dos «G8», quatro são europeus. Militarmente, basta dizer que tem em si duas das cinco potências nucleares do planeta (Inglaterra e França). Por isso, é a Turquia que precisa da Europa, não é a Europa que precisa da Turquia, a qual deve por isso agradecer por poder ter o estatuto de parceria privilegiada.
Uma variante do argumento do medo, é a particularmente revoltante referência às comunidades muçulmanas na Europa – dizem os pró-turcos que é preciso mostrar aos muçulmanos na Europa que os Europeus não são contra a religião muçulmana… Ora, estes pró-turcos são também, sem excepção (que eu conheça) igualmente favoráveis à imigração vinda de fora da Europa, inclusivamente do mundo islâmico. Foram estes, ou outros quejandos, quem meteu na Europa tão grande quantidade de muçulmanos, especialmente de turcos. E agora, usam este mesmo argumento para intimidar os Europeus, como quem diz: «Ou deixam entrar os Turcos em vossa casa, ou então os Mafomas que nós já metemos em vossa casa, põem-vos uma bomba na sala de estar.»
Mais uma vez, não exagero absolutamente nada - de facto, o texto faz referência ao problema do terrorismo como motivação para os Europeus aceitarem a Turquia no seu seio. Passo a citar:
At the same time, in the wake of 9/11, the Madrid bombings and the attacks on London, we cannot hide from the problem of militant Islam and its appeal to young Muslims living in the West.
Ou seja,
Ao mesmo tempo, no despertar do 9/11, das bombas de Madrid e dos ataques em Londres, não podemos esconder-nos do problema do Islão militante e do seu apelo junto dos muçulmanos jovens a viver no Ocidente.
Este argumento é portanto o daqueles que pactuam com o terrorismo islâmico. É o daqueles que fazem com que o terror muçulmano seja compensado. É o daqueles que fazem a vontade «ao Sr. Bin Laden», mesmo que, descaradamente, clamem o contrário.
Que a Europa esteja cultural, mediática e politicamente nas mãos de uma «elite» que preconiza a rendição como ideal e «politicamente inevitável», é um sinal de morte iminente.
Para cúmulo da desfaçatez, o(s) autor(es) do artigo, antes da passagem supracitada, escrevem: «European politicians are rightly sceptical of the American inclination to see a ‘clash of civilisations’ in the 21st Century.»
Isto é,
«Os políticos europeus têm razão em ser cépticos relativamente à inclinação americana de ver um «choque de civilizações» no século XXI.»
Dito por outras palavras: «Não há nenhum choque de civilizações, isso é paranóia americana! Mas, pelo sim pelo não, é melhor mostrar aos muçulmanos que até somos amigos deles, que é para ver se não nos deitam mais bombas em cima...».
Outro argumento aqui aduzido a favor do ingresso da Turquia na U.E., é o da «esperança»: pode ser que assim surja uma nova versão do Islão, mais moderada...
Ora, se essa versão europeia do Islão não surge no seio das comunidades muçulmanas a viver em solo europeu, antes pelo contrário (alguns dos islâmicos que mais odeiam o Ocidente, vivem na Europa) , porque cargas de água é que há-de surgir num Estado muçulmano integrado à força na U.E.? Quando o governo de Erdogan quis implementar uma lei punitiva do adultério de acordo com o Islão, a Europa opôs-se. Tayyp Erdogan mostrou irritação, indignando-se com a intervenção europeia nas leis do seu país. Será que esta irritação turca, crescente, não diz nada aos pró-turcos ingénuos?
1 Comments:
Acho oportuno transcrever aqui excertos de uma entrevista dada por Fernando Gil (FG) ao Jornal «O Diabo» (OD).
OD- E em relação à religião?
FG- Há, naturalmente, uma associação muito forte entre o terrorismo e uma certa interpretação perfeitamente autorizada do Corão! O Corão autoriza. Não digo que convide absolutamente, embora haja muitas pessoas que pretendem que ele convida mesmo. E eu, só para não parecer fanático ou faccioso, é que digo que autoriza. Porque de facto, também penso, convida. Mas autoriza com certeza, isso é impossível negá-lo, uma interpretação militar, belicosa, do Islão.
OD- Mas correntes mais moderadas de pensamento islâmico assinalam que o Islão é uma religião absolutamente pacífica.
FG- Não é. Pode dizer-se o que se quiser! Mas que é uma religíão dirigida contra todas as outras religiões, é só ler os textos! As pessoas que dizem isso, dizem-no erradamente. Porque os apelos à guerra e à destruição, são às centenas no Corão! Não são passagens isoladas.
OD- Isso levanta uma séria questão em termos éticos...
FG- Tem toda a razão...
OD- Depois do que acaba de dizer, como encara a entrada da Turquia na União Europeia?
FG- Eu sou das pessoas que desconfiam muito da bondade da entrada da Turquia. Pelas razões óbvias, que são aquelas que todos os oponentes dessa entrada apresentam.
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