O Dr. António da Cruz Rodrigues, autor do blogue
Aliança Nacional voltou a responder a respeito do Nacionalismo - em termos ideológicos, manteve ponto por ponto o seu ideário, como se esperava; em termos de forma discursiva, foi mais fundo na senda da acusação ao adversário dos seus próprios males. O próprio título da sua mensagem o indica: afirma-se contra o nacionalismo provinciano, quando não há ideologia mais provinciana do que a sua, herdada do salazarismo e pretensamente projectada como único futuro possível para o Nacionalismo. Sonha ainda com o Império; só que, na impossibilidade total de fazer Portugal retomar o seu antigo território ultramarino (não suponho que ACR acredite que tal retorno seja possível...), ACR engendra uma doutrina política que, a ser posta em prática, significaria a concretização do Império todo dentro de Portugal, um autêntico «vá para fora cá dentro», como dizia certo «slogan» turístico de há uns anos.
Faz-me, entretanto, várias outras acusações.
Diz que eu renego à parte «mais nobre e essencial da Nação Portuguesa», a qual será, segundo o lugar-comum que ACR promove, as Descobertas e a Expansão pelo Mundo, o que constitui deformação da verdade, pois que eu nunca me afirmei contra os Descobrimentos; quanto à Expansão, teve a sua glória, no seu tempo, e ninguém lha nega - mas não é aí que reside o cerne da Nação.
O cerne da Nação, reside na sua própria identidade, e não num dos seus feitos. Quanto a estes últimos, não sei porque é que as conquistas ultramarinas hão-de ser consideradas mais importantes para definir Portugal do que o próprio processo que deu forma à Pátria, a saber, a Reconquista, ou seja, o combate, na Ibéria, contra as forças norte-africanas do crescente mafomético.
Um dos problemas graves do «Nacionalismo de futuro»(que é mero patriotismo internacionalista imperialista, cadáver ideológico que pode causar doenças à população se não for devidamente sepultado) é a velha confusão sobre o que é a «vocação atlântica» dos Portugueses - no dizer de ACR, e de outros, essa tendência nacional consiste em ir dar beijinhos e abraços a povos exóticos do outro lado do mar; quanto a mim, significa tão somente o poder naval, militar e potencialmente mercantil, que os Portugueses, por terem tradição marítima, podiam desenvolver.
Não é fraternidade inter-racial, é força no mar. Só isso, por mais prosaico que possa parecer a adeptos de misticismos cristãos.
Quanto ao «fundamento cristão», há a considerar, antes de mais nada, que o Cristianismo é uma religião de conversão, isto é, trata-se de uma doutrina que exige uma decisão pessoal, individual, uma escolha subjectiva da parte do crente.
Assim, ao afirmar que Portugal é obrigatoriamente uma nação cristã, ACR impinge um fundamentalismo de índole totalitária: ao apoiar o que diz o
Pasquim da Reacção sobre o assunto, promove a ideia de que um determinado indivíduo (porque de uma religião do indivíduo se trata) é automaticamente cristão só porque nasce em Portugal.
Repito por isso aquilo que respondi, na secção de comentários da mensagem que ACR exaltou:
A Nação não serve como contingente humano para servir uma qualquer doutrina que dela não deriva necessariamente. Isto é, ninguém pode ser levado a contribuir para a causa de certa e determinada ideologia só porque nasce numa certa e determinada Nação.
É por isso que não há, não pode haver, Nação Cristã. Se existisse tal coisa, um indivíduo, só porque pertencia a uma certa e determinada família de um certo e determinado povo, era automaticamente obrigado a crer que há dois mil anos um certo e determinado carpinteiro judeu morreu na cruz para salvar a Humanidade e que, por isso, ele, indivíduo, estava eticamente obrigado a seguir a moral ditada pelo falecido filho de Maria, que, em relação aos Portugueses e outros Ocidentais, é de um povo alienígena. E acrescento agora: pretender que uma Nação é cristã à partida e que por isso deve dar seguimento, ad eternum, a um plano mundial cristão, é o mesmo que registar um recém-nascido como militante do PCP ou do PSD e desse indivíduo exigir, mais tarde, que seja um devoto cristão.
Repare-se na repetição do termo «servir», logo na primeira frase do texto acima transcrito... mantenho essa repetição para frisar que ACR e os seus não valorizam a Nação em si senão como instrumento que existe para servir uma doutrina, que é, não a da Nação ou da Identidade, mas sim do Universalismo Cristão.
Não são pois autênticos nacionalistas, os que como ele pensam, mas sim cristãos que acham que a Nação é útil tão somente para levarem a água ao seu moinho. Nisso, fazem lembrar Estaline que, para erguer resistência ao avanço militar alemão pela União Soviética adentro, apelou, não aos ideais do «proletariado» ou do «igualitarismo universal», verdadeiros valores do Comunismo, mas sim ao Patriotismo russo, evocando uma entidade mística denominada «Mãe Rússia», totalmente estranha e oposta, na essência, a qualquer materialismo internacionalista. Salvaguardadas as devidas distâncias, a verdade é que ACR, o Corcunda e Stalin estão de acordo em utilizar a Pátria como ferramenta para servir(cá está outra vez a subserviente palavrita...) um ideal universalista igualitário.
Depois, ACR estende-se sobre considerações a respeito da validade da raça, da etnia e, como não podia deixar de ser, da nação em si.
Começa, nesta parte do seu libelo, por tentar denegrir o valor do (nosso, dos nacionalistas) sangue, chamando-lhe «aguadilha». O que quererá com isso dizer, não sei ao certo, mas, se tiver a ver com a velha, batida e já enjoativa questão da maior ou menor pureza da raça, trata-se de matéria cuja discussão já cansa, pelo que vou responder neste caso com o mínimo de palavras possível: no que diz respeito à raça, o Nacionalismo não defende necessariamente purezas, mas sim essências, isto é, no caso português, o tipo físico caucasóide que, contra e apesar dos esforços de alguns, continua a caracterizar o grosso da população portuguesa, como sempre aconteceu ao longo da História Pátria. Em deixando de ser assim, deixa pura e simplesmente de haver Portugal, porque a raça e estética física de uma Nação são a parte corporal da Estirpe, sem a qual a dita Estirpe não passa de um fantasma, isto é, um espírito desencarnado, uma entidade espiritual que perdeu o suporte carnal.
Seguidamente, ACR tira por completo a sua fatiota nacionalista ao referir-se, com desdém, à Nação em si, conforme ficou evidente nos trechos que passo a citar:
«
Pequenos nacionalismos de pequenas naçõezinhas a sonharem com o protectorado de algum III ou IV Reich…»
«
Quero, no fundo, dizer que o nacionalismo que permaneça fundado puramente no “sangue”, na raça, acabará sempre por não passar de pouca coisa.»
Nestas duas asserções, é visível o desprezo que ACR vota à Nação em si quando esta é encarada como valor maior e autónomo, não domesticada e engajada em rebanho ao serviço do seu pastor, o hebreu crucificado. É a essa submissão subalternizante da Nação que ACR chama «universalismo lúcido».
Fez questão de, na primeira frase acima transcrita, mostrar desagrado em relação ao possível protectorado de um IV Reich... talvez porque ele próprio, ACR, prefira o protectorado de um Brasil neo-imperial, tendo como serviçais Portugal e as suas antigas províncias ultramarinas.
E, no fim, insiste em considerar o Nacionalismo como «velho», dizendo que esta doutrina não é útil para atacar as tarefas que o Ocidente enfrenta – esquece-se, no entanto, de apontar a que tarefas se refere. Quanto a nós, os maiores perigos que o Ocidente enfrenta são, para já, a expansão islâmica e a eventualidade da diluição étnica europeia por meio da miscigenação e da iminvasão vinda do terceiro mundo. Ora, o pensamento de ACR apresenta-se, cada vez mais, como agente apoiante desta última ameaça.