segunda-feira, janeiro 04, 2016

SOBRE O TESTEMUNHO DE UM TÍPICO INTELECTUAL ANTIRRA QUE NÃO QUER ADMITIR QUE A DEMOCRACIA DÁ FORÇA AOS «RACISTAS»

É particularmente interessante e elucidativo este texto de um intelectual da Esquerda típica, anti-racista, Alain Badiou: http://www.esquerda.net//artigo/o-racismo-dos-intelectuais-por-alain-badiou/40427?utm_source=dlvr.it&utm_medium=facebook
Diz o seguinte, no essencial: «A importância do voto em Marine Le Pen envergonha e surpreende. Procuram-se explicações. A minha tese é que é preciso apontar dois grandes culpados: os sucessivos responsáveis pelo poder de Estado, tanto de esquerda quanto de direita, e um número significativo de intelectuais.»

No corpo do artigo destacam-se passagens particularmente saborosas (o destaque a negrito é da minha autoria):
«O pessoal político recorre à sociologia portátil: a França dos de baixo, dos provincianos perdidos, dos operários, dos sub-educados, assustada pela mundialização, pelo recuo do poder de compra, pela desestruturação dos territórios, pela presença à sua porta de estranhos estrangeiros, quer recuar para o nacionalismo e a xenofobia. Já é, aliás, essa França “retardatária” que foi acusada de ter votado "não" no referendo ao projecto de Constituição europeia. Opunha-se às classes médias urbanas educadas e modernas, que constituem o sal social da nossa bem temperada democracia.
Dizemos que esta França dos de baixo é de qualquer forma, nestas circunstâncias, o burro da fábula, o pelado e sarnento “populista” de onde nos vem todo o mal lepenista. É estranho este ressentimento político-mediático contra o “populismo”. O poder democrático, de que nos orgulhamos tanto, será alérgico ao que preocupa o povo? Trata-se da opinião desse povo, em qualquer caso, e cada vez mais. À pergunta “os responsáveis políticos preocupam-se com o que pensam as pessoas como vós?”, a resposta totalmente negativa “de forma nenhuma” passou de 15% em 1978 para 42% em 2010! Quanto ao total das respostas positivas (“muito” ou “bastante”), passou de 35% para 17% (consulte-se, para esta indicação estatística e outras de grande interesse, o número especial da revista La Pensée com o título “O povo, a crise e a política” de Guy Michelat e Michel Simon). A relação entre o povo e o Estado não é feita de confiança, é o mínimo que podemos dizer.
Devemos concluir que o nosso Estado não tem o povo que merece e que o sombrio voto lepenista atesta essa insuficiência popular? Seria então preciso, para reforçar a democracia, mudar o povo, como ironicamente propunha Brecht...»

Fabuloso, este último parágrafo - o autor, Badiou percebe perfeitamente o que está em causa politicamente falando: se for aceite que a raiz da actual ascensão do Nacionalismo está no seio do próprio Povo, mais concretamente na maior parte da população, das classes baixas e médio-baixas, então, por esta lógica, todo o antirra bem pensante ver-se-á inclinado a querer rejeitar este povo e criar outro...

Criar outro povo ou... ou, acrescento eu, mandar vir outro povo, através da imigração, porque um povo oriundo de uma nova imigração, ou produto de miscigenação recente, estaria absolutamente distante de qualquer tentação nacionalista étnica europeia... «se calhar» é por isso que a elite reinante tanto quer impingir a imigração aos Europeus...

Ora Badiou reage, ele reage!, recusa-se a aceitar que seja o povo a querer o «racismo», resolve por isso, Badiou, culpar, ele resolve culpar, ele culpa, ora vamos lá ver a quem é que cabe a culpa quando o ponteiro da roda parar de rodar, ele culpa... ele culpa... ele culpa os intelectuais de Direita e «os políticos». Pois claro, é fácil bater nestes, em quem toda a gente bate... Vejamos, a título de exemplo, o que diz do seu bode expiatório tão alegre e triunfalmente encontrado:

«Foi um primeiro ministro socialista, certamente para grande gáudio dos seus “inimigos” da direita. Quem teve a bela ideia de declarar que Le Pen levantava problemas reais? Um militante alsaciano da Frente Nacional? Não, foi um primeiro-ministro de François Mitterrand. Não foram subdesenvolvidos do interior que criaram os centros de detenção para lá aprisionar, fora de qualquer direito, as pessoas a quem se privava também a possibilidade de adquirir os documentos legais da sua presença.»

Antes e depois desta passagem, o fulano enumera casos em que, tal como neste, políticos de Esquerda e intelectuais de Direita, diz ele, «declaram» que Le Pen «levanta» problemas reais. 
Ora das duas uma: ou Badiou vive numa redoma de cristal e não tem ideia do que se passa na sociedade ou então quer simplesmente, num acto de mediocridade política cada vez mais ridículo, seguir a via mais habitual no seio da sua hoste política, que é fazer de conta que os problemas reais «levantados» por Le Pen não existem. 
Em suma, ou o autismo ou o descaramento mais obsceno e insultuoso. 
E depois admira-se... e depois é gente desta laia que se «surpreende» por o voto no Nacionalismo estar a crescer a olhos vistos...

Só quem não tenha nem sombra de ideia do que é a realidade propriamente real, a das ruas, das escolas, dos transportes públicos, dos bairros onde a polícia ora evita entrar ora é vítima de emboscada por parte dos gangues de «jovens» oriundos do lado sul do Mediterrâneo, só quem ignore isto tudo é que pode ter a estúpida lata de vir dizer que o voto na FN «surpreende». A justiça poética faria com que o sujeito fosse obrigado a ficar uns anitos a viver num desses bairros para ver como é a sociedade multicultural que ele e coisas afins querem impingir ao seu próprio povo. Enfim, podia até acontecer que, mercê de tanta falta de vértebras, Badiou acabasse por vir a dar-se muito bem, muito bem até, estabelecendo alianças e boas convivências com os «jovens», a quem se calhar forneceria uns dinheiritos, de vez em quando, por solidariedade, por consciência social ou para evitar que lhe dessem no focinho, enquanto assistiria a casos em que vizinhos seus, franceses, com menos «flexibilidade» de carácter e sem sofisticado jogo de cintura, seriam esmagados de várias maneiras, quotidianamente, por esses mesmos «jovens» contra os quais marcha o voto na FN...

Ou então este Badiou está simplesmente em negação. E é um optimista. Ele queria por força continuar a ser democrata, a orgulhar-se da sua democraticidade, e vai daí arranja um intrincado esquema político-mental de culpabilização dos «outros», dos que mais não fazem do que reconhecer o que o povo já sabe há colhões de anos, e reconhecem-no, não para «incitarem ao racismo», mas para fazerem a parte de que estão preocupados com a real opinião do povo e assim evitarem perder (muitos) votos...

É um autêntico marido enganado, Badiou: quer por força acreditar que a «sua» esposa Democracia o ama, mas a Democracia põe-lhe os cornos à força toda, indo cada vez mais vezes para a cama com «fascistas» e com «racistas».

2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Veja este outro;

http://www.geledes.org.br/racismo-e-baixa-inteligencia-e-falta-de-carater-por-leandro-karnal/

4 de janeiro de 2016 às 21:48:00 WET  
Blogger Caturo said...

Ora bem, outro típico... se bem que este tem um discurso mais inteligente e elaborado. Começa mal, como seria de esperar - defende, sem mostrar vergonha, o principio de que é bárbaro quem não pensar como ele, porque ao fim ao cabo é isso que está a fazer quando promove a ideia segundo a qual é bárbaro quem exclui o outro. O que ele aqui exalta é um princípio totalitário: toda a gente no mundo tem de aceitar uma espécie de ordem global sem fronteiras ou então deve ser «reeducado» (sic), inclusivamente com o recurso a «electrochoques» (sic), ao nível dos pedófilos (outro traço do totalitarismo: equacionar a discordância ideológica como crime dos piores e, de preferência, dos mais odiados pela população, para a rotulagem pegar melhor...).

Depois melhora, voluntariamente ou não e acaba por até dar razão ao cerne do ideário racialista, eventualmente sem disso se aperceber - porque, de facto, são os racialistas que defendem a salvaguarda das diferenças, o respeito pelas devidas distâncias, porque, como diz Karnal, é preciso que exista a diversidade. Quem nega ao outro o direito de existir são precisamente os racistas homicidas, sem dúvida, bem como os anti-racistas miscigenadores que querem acabar com as raças e criar uma humanidade «una», sem diferenças entre Povos...

Por fim, afirma que só se poderia aplicar punição aos racistas e intolerantes agressivos, não aos que se limitam a expressar a sua opinião... por esse motivo, dá o exemplo de alguém que lhe diga que ele vai para o inferno (quando morrer, por não ter a «boa» crença). Aceita a legitimidade deste procedimento. Coloca o limite na agressão física. Se a politicagem correcta da elite reinante actuasse como ele diz que é certo actuar, todo e qualquer partido de todo e qualquer país ocidental poderia livremente promover a salvaguarda da raça branca, condenar abertamente a miscigenação e nem a líder da FN francesa, Marine Le Pen, estaria agora em tribunal por ter declarado que há muçulmanos em França a comportar-se de maneira mais invasiva do que os alemães durante a ocupação nazi...

4 de janeiro de 2016 às 22:50:00 WET  

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