SOBRE A EVENTUAL PRESENÇA DISFARÇADA DE ATAEGINA NUMA LENDA POPULAR PORTUGUESA
Imagem de cabra em bronze, dedicada a Ataegina |
Ataecina, de que se pode ver a distribuição geográfica no Atlas Antroponímico de J. Untermann, não seria uma Deusa agrícola, como ensina Leite de Vasconcelos, mas, como sustenta Balmori, uma Deusa infernal. Seria uma Divindade da Noite, Aquela que castigava o ladrão, segundo a inscrição de Mérida. (...) Parece-me poder identificar esta Deusa na antiga lenda da Senhora da Póvoa de Mileu, que se venera numa igreja românica, próximo da cidade da Guarda. O relato diz que numa noite os ladrões entraram na igreja para roubar a coroa da Senhora. Quando saíam e fechavam a porta, disseram: - Agora nem mil (homens) nos agarram! Então ouviu-se uma voz que dizia: - Para mil, eu! E ficaram presos à argola da porta. Quando o dia despontou foram justiçados. A história dizia que ninguém sabia de que metal era feita a argola. De mim, eu, teria vindo Mileu, segundo a interpretação popular. Há anos, colaborando nas escavações que ali se fizeram e em que foram encontrados vários elementos latenianos (célticos da II Idade do Ferro, dita de La Tène - nota do blogueiro), procurei a argola da porta e, identifiquei nesta um bracelete lusitano do II período da Idade do Ferro. Escavações no interior da capela revelaram um torso imperial romano, provavelmente do século II d.c.. Uma via romana ligava este local à cidade de Mérida.
In Os Lusitanos - Mito e Realidade, de Adriano Vasco Rodrigues, Academia Internacional de Cultura Portuguesa, 1998, págs. 182/3.
1 Comments:
«(...) Há anos, colaborando nas escavações que ali se fizeram e em que foram encontrados vários elementos latenianos (célticos da II Idade do Ferro, dita de La Tène - nota do blogueiro), procurei a argola da porta e, identifiquei nesta um bracelete lusitano do II período da Idade do Ferro.»
Fantástico, absolutamente fantástico. A herança dos ancestrais dos portugueses perdura onde menos se espera!
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