«GALACTICA», OS BONS TEMPOS DE CORES GARRIDAS NA FICÇÃO CIENTÍFICA DE ENTRETENIMENTO POPULAR
Dezassete de Setembro de 1978, estreia televisiva nos EUA da série «Battlestar Galactica», bom pedaço de «space opera», saga de ficção ou fantasia científica sobre uma gigantesca nau das estrelas, qual porta-aviões intergaláctico, de uma outra civilização humana, originária do planeta Caprica, mui distante da Terra (não confundir com certa localidade a sul do Tejo, essa tem um «a» a mais). Esta «Estrela de Batalha» Galactica conduz uma frota de fugitivos humanos em busca deste planeta azul, tido como espécie de terra prometida, para assim conseguir salvar-se da perseguição genocida que lhe é movida por uma outra espécie alógena, os Cylons, que nos livros são uma espécie de répteis muito organizados e intolerantes para com a imprevisibilidade e génio humanos, na televisão pareciam ser simplesmente robots, embora o seu líder se afigurasse orgânico...
Mais recentemente fez-se uma nova versão da série, que não tem para o pessoal da velha guarda o mesmo encanto, para além de cair frequentemente numa sentimentalada desinteressante e de escolher os piores e mais banalizantes caminhos, como o estafadíssimo e pouco credível tema da «revolta dos robots contra a humanidade»... e os «novos» cylons, ainda que «mais tecnológicos», não se comparam em carisma aos antigos, digo eu... de melhor, a nova série só tem a religião, que é o politeísmo helénico...
Se o grosso da ficção científica é ideologicamente bem mais de Esquerda que de Direita, isto pura e simplesmente porque o grosso da cultura contemporânea é quase todo engendrado por gente de sensibilidade esquerdista, «Galactica» - a de 1978, pelo menos - constitui aqui uma excepção notável. Nesta, os inimigos da humanidade são doutra espécie e querem liquidar o «Nós»; a busca dos fugitivos humanos - verdadeiros refugiados - é pela humanidade da Terra, ou seja, por gente do mesmo sangue, enquanto o inimigo é de outro sangue; no seio do «Nós», os humanos de Caprica dividem-se nas suas opiniões: uma elite civil está sempre disposta a acreditar na boa vontade dos Cylons para estabelecer a paz, enquanto os militares nunca confiam nos Cylons e suspeitam sempre de uma cilada, suspeita esta que depois se confirma...
Aconselha-se vivamente a apreciadores do género, sem pretensões, que não procurem nada de propriamente «científico» - recordo-me do divulgador científico Eurico da Fonseca a dizer, num programa de domingo à tarde (creio que do Júlio Isidro, ou então do outro, o de bigode, Luís Pereira de Sousa), que «Galactica» era «cowboys do espaço» (enquanto a série de ficção científica televisiva que mais apreciava era «Espaço 1999»)... enfim, o entretenimento não tem forçosamente de ser «instrutivo», basta que divirta e, se possível, maravilhe, é para isso que serve.
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