COMO UM NACIONALISTA PORTUGUÊS DA DÉCADA DE VINTE DO SÉCULO PASSADO DENUNCIOU O PAPEL DO CRISTIANISMO NA QUEDA DA ANTIGUIDADE OCIDENTAL
Como explicar que uma organização política e guerreira tão poderosa como o império romano durante o I e II séculos da era cristã perdesse no IV quase todo o valor militar e defensivo?
Três causas principais contribuíram para este amolecimento e caquexia da sociedade romana.
Em primeiro lugar, o despotismo à maneira oriental que os Césares implantaram em Roma e as contínuas lutas e perseguições políticas, destruíram os melhores elementos e fizeram perder quase todo o espírito de solidariedade e união nacional. Acabou por não haver cidadãos mas simplesmente oprimidos e escravos, perante a vontade caprichosa de um grande déspota.
À tirania política juntava-se a económica. A princípio os Romanos constituíam uma sociedade de pequenos cultivadores; mas com o aparecimento e desenvolvimento do dinheiro, da especulação, da usura e dos confiscos, começou desde os fins da República a desenvolver-se a desigualdade económica e acumulação das riquezas por uma forma tal que durante o império se constituiu uma plutocracia de financeiros, de comerciantes, de açambarcadores da propriedade territorial, que se aproximava já da que domina na actualidade.
(...) Assim, a grande maioria da população livre do império romana nada possuía e vivia nas condições mais precárias e miseráveis. A estas causas de ordem política e económica juntavam-se causas de ordem psicológica e moral para intensificar o desfalecimento deste funesto e desastrado império. Como foi uma época de grande sofrimento e opressão, começaram a desenvolver-se entre as multidões tiranizadas e esfomeadas o pessimismo e o misticismo niilista, criando um ambiente semelhante ao que estabelecera, desde alguns séculos antes, o Budismo no Oriente.
(...)
A antiga religião dos Latinos, bem como dos Gregos, assentava no culto da Natureza, da Pátria e dos heróis; o novo culto triunfante, o Cristianismo, assentava em princípios completamente diferentes. Como religião sobrenatural, considerava este mundo ou a natureza como um efémero vale de lágrimas e até um inimigo da alma; como religião cosmopolita, desconhecia fronteiras, as pátrias e os seus heróis. Os heróis do Cristianismo, os santos, eram de índole completamente diversa dos heróis nacionais pagãos: estes impunham-se pelo seu patriotismo e pelo seu valor guerreiro, aqueles pelo seu desprendimento das coisas deste mundo, pela sua resignação e caridade.
Toda a doutrina do politeísmo pagão era orientada no sentido de formar patriotas e cidadãos valorosos e aguerridos; pelo contrário, a doutrina cristã tinha uma orientação completamente oposta e só tendia a formar resignados pacifistas e anti-militaristas. Nisso seguiam aliás rigorosamente a doutrina do mestre: «se te derem uma bofetada na face direita, volta também a esquerda; se te roubarem a túnica, entrega também a camisa; embainha a espada porque quem com ferro mata com ferro morre.»
(...)
In «Perigos que Ameaçam a Europa e a Raça Branca», páginas 65-67, por J. Andrade Saraiva, Lisboa, 1929.
Contrariamente ao que Saraiva diz a seguir na sequência do seu inspirador texto, e que aqui não citei (evito textos muito compridos, já sei que não são em geral lidos) os cristãos mais tarde aderiram ao ofício das armas, mas isto quando já estavam politicamente na mó de cima e precisavam do empenho das multidões na expansão militar da fé... De resto, e tirando a parte em que de algum modo parece reduzir a espiritualidade pagã à via marcial da existência, Saraiva mostra uma lucidez excepcional ao identificar a componente cosmopolitista do Cristianismo, isto numa sociedade em que estaria eventualmente fora de questão para um nacionalista português a rejeição declarada do credo do Judeu Morto. A sua identificação da hierarquização sócio-económica como raiz da perda de coesão nacional está também muitíssimo bem observada, deixando claro que não é só na contemporaneidade que o capital não tem pátria e que as elites autocráticas desprezam os Povos e as Nações. J. Andrade Saraiva merecerá sempre os parabéns.
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Contrariamente ao que Saraiva diz a seguir na sequência do seu inspirador texto, e que aqui não citei (evito textos muito compridos, já sei que não são em geral lidos) os cristãos mais tarde aderiram ao ofício das armas, mas isto quando já estavam politicamente na mó de cima e precisavam do empenho das multidões na expansão militar da fé... De resto, e tirando a parte em que de algum modo parece reduzir a espiritualidade pagã à via marcial da existência, Saraiva mostra uma lucidez excepcional ao identificar a componente cosmopolitista do Cristianismo, isto numa sociedade em que estaria eventualmente fora de questão para um nacionalista português a rejeição declarada do credo do Judeu Morto. A sua identificação da hierarquização sócio-económica como raiz da perda de coesão nacional está também muitíssimo bem observada, deixando claro que não é só na contemporaneidade que o capital não tem pátria e que as elites autocráticas desprezam os Povos e as Nações. J. Andrade Saraiva merecerá sempre os parabéns.
13 Comments:
Bom texto.
http://pt.euronews.com/2016/04/19/alemanha-xenofobo-com-cadastro-lutz-bachmann-e-agora-julgado-por-incitacao-ao/
http://pt.euronews.com/2016/04/19/tensao-uniao-europeia-turquia-por-causa-da-liberalizacao-de-vistos/
Daesh planeja ataques com armas químicas por toda Europa
Leia mais: http://br.sputniknews.com/mundo/20160419/4226429/daesh-planeja-ataques-armas-quimicas.html#ixzz46MkzVf8g
Se os países ocidentais ignoram os resultados de referendos em países da Europa, não podemos esperar que tenham em conta o referendo na Crimeia, disse Maria Zakharova.
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Leia mais: http://br.sputniknews.com/mundo/20160420/4233436/turquia-considera-ameaca.html#ixzz46N12ajoG
Uma notícia chocante, Caturo:
http://www.infowars.com/video-migrants-set-up-checkpoint-in-greece-demand-to-see-ids-of-citizens/
Rússia e China intensificam cooperação militar
http://br.sputniknews.com/defesa/20160414/4151154/russia-china-cooperacao.html
É...durante séculos os cristãos foram perseguidos, crucificados e jogados aos leões pelos pagãos. Queriam o que? Revanche é fogo, né?
Os cristãos tiveram foi sorte, porque durante séculos viveram em paz. As perseguições com «crucificados e leões» eram raras, apesar da acção subversiva dos cristãos. Já com os Japoneses não brincaram, que no Japão foram logo uma data deles crucificados e, «estranhamente», o milagre da conversão do Povo não se deu. Repressão a sério é fogo, né? Pois. Aí não há Cristo que valha.
Lembrando que estes cristãos que tentavam converter o Japão eram principalmente portugueses. Mas no final o fato de Portugal não haver conquistado o Japão, seja pela cruz ou pela espada, foi bom.
Honshu e densa nem anglos podiam dira kk
Esses posts do andrade saraiva sao meus favoritos pena que nao ha biografias sobre esse cara um cara acima da media menos reconhecido que sub celebridades vazias
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