segunda-feira, março 21, 2016

«OS DÁCIOS»






 https://www.youtube.com/watch?v=PbduBMbHTXE


Finalmente consegui ver um filme que há já anos procurava: «Dacii», ou «Os Dácios», com legendas em Inglês mas falado na sua língua original, o Romeno. Recomenda-se a quem quer que entenda qualquer destes dois idiomas e aprecie a cultura verdadeiramente europeia, sem o filtro de Hollywood. Feito em 1966, na era de Ceaucescu, pouco se lhe nota de comuna - talvez a contestação da religião tradicional dácia num ponto frágil (aos olhos contemporâneos e da civilização ocidental desde os Romanos) da mesma, nomeadamente, o sacrifício humano, mas nada mais. O tom geral do filme é de patriotismo sem primarismo, uma bem gizada homenagem aos ancestrais, sem grandes exageros. O modo como acaba por exaltar o primado da lealdade ao sangue por cima das contingências civilizacionais (um dos soldados romanos é de origem parcialmente dácia e isso acaba por ter os seus efeitos) merece respeito e podia bem ver-se em qualquer filme de um regime verdadeiramente nacionalista. As cenas de batalha estão aceitáveis, os cenários revelam-se bastante bons (sobretudo a sala do trono, [terceira foto a contar de cima] dácia, fantasista ou não, ainda estou para saber), a fotografia é magnífica, salientando-se por exemplo o pormenor em que o jovem prestes a ser sacrificado é filmado tendo o céu como pano de fundo e imagem imediatamente seguinte, a indicar a comunicação pretendida com as Alturas, os actores não são nada maus e é neles bem visível a natural «gravitas» europeia que de um modo ou doutro falta frequentemente aos ianques, sobretudo aos ianques actuais, e não só aos ianques. Não me esqueço por exemplo de que a esmagadora maioria dos gajos que fazem de gladiadores na popular série «Spartacus», cheios de «swag» ou merda assim, parecem-se tristemente mais com uma tropa de pessoal de ginásio e discoteca do que com guerreiros europeus de há dois mil e tal anos. Não que alguma vez tenha visto vivo qualquer desses antigos combatentes, naturalmente, mas nas artes cénicas há necessidade de criar uma verosimilhança - e aos actores americanos ou americanizados, demasiado habituados, se calhar, a viver numa sociedade em que se promove uma estética blues, soul e/ou jazzística, falta a rigidez e a verticalidade mais usual nos europeus e que se adivinha ter sido ainda mais presente nos ancestrais da Europa. O tom pausado e monocórdico das falas dos actores romenos no filme condiz bem com isto, destacando-se as do sacerdote dácio, do monarca dácio e do imperador romano. A filha do rei dácio, «Meda», apesar do seu aspecto fisicamente dócil consegue parecer «espartana» quando fala à mesa com um convidado romano. E observa-se frequentemente a representação das referências de autores clássicos sobre os Povos da região, nomeadamente no que diz respeito às suas crenças e modo de encarar a vida. É de ver e procurar ver mais. 
A título de curiosidade, especialmente para o público actual deste tipo de filmes, é pelo menos intrigante que os pomos das espadas dácias, de aspecto relativamente céltico - espada de antenas, como se lhe chama em Arqueologia - o que não admira tendo em conta os contactos entre arcaicos celtas e dácios, ambos pertencentes aos Indo-Europeus ocidentais, os pomos destas armas, dizia, acabem por assemelhar-se particularmente aos pomos dos gládios celtas hispânicos, que são espadas de antenas mas em que as antenas são mais curtas, parecendo uma espécie de botões.
Nas imediações youtúbicas encontra-se um outro filme europeu, «As Bacantes», que noutra altura comentarei.

10 Comments:

Anonymous Arauto said...

Caturo, olha-me para isto:

https://www.facebook.com/polandball/videos/vb.366029555482/10156660136085483/?type=2&theater

lol

21 de março de 2016 às 23:35:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

ADORO ESSA TUA REPULSA A IMPUREZA DO ULTRAMAR

21 de março de 2016 às 23:59:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

DE FACTO ESSA LONGITUDE AMERICANA É UMA DESGRAÇA O OCIDENTE CA FOI ADULTERADO POR ELEMENTOS NÃO EUROPEUS

21 de março de 2016 às 23:59:00 WET  
Blogger Caturo said...

Já Jung reparava nos movimentos físicos dos norte-americanos, que ele classificava como negróides...

22 de março de 2016 às 00:47:00 WET  
Blogger João Nobre said...

Já vivi com uma romena, é um povo muito trabalhador.

Atenção, não confundir os romenos com os ciganos romenos. Tratam-se de duas etnias completamente diferentes em tudo. A única coisa que devem ter em comum é a língua e mesmo assim, julgo que existe um dialecto qualquer que os ciganos da Roménia falam.

22 de março de 2016 às 03:34:00 WET  
Blogger João Nobre said...

Quanto ao filme, é sem dúvida um excelente épico e um clássico que parece ter caído no esquecimento, vou divulgar na minha tasca. Obrigado pela partilha e continuação de bom trabalho.

22 de março de 2016 às 03:36:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Gladius, filhote do capeta. Em verdade, a arma dos guerreiros Dácios, por excelência, era a Ronfaina, uma espada em forma de foice, com gume interno, segurada pelo guerreiro com uma ou as duas mãos. Retratada na coluna de Trajano.

22 de março de 2016 às 13:38:00 WET  
Blogger Caturo said...

O que é interessantíssimo, rato de sacristia, porque essa espada é parecidíssima com a falcata ibérica, que também tem gume interno.

22 de março de 2016 às 19:07:00 WET  
Blogger Caturo said...

«Atenção, não confundir os romenos com os ciganos romenos.»

Exactamente, digo isso muitas vezes. Creio bem que na maioria dos casos em que nos mé(r)dia se fala de criminosos «romenos», estes são na realidade ciganos da Roménia.

22 de março de 2016 às 19:09:00 WET  
Blogger Caturo said...

«https://www.facebook.com/polandball/videos/vb.366029555482/10156660136085483/?type=2&theater»

É um bom vídeo, ilustra bem o dilema não confessado da maralha imigracionista diante de quais os direitos das ditas minorias que mais interessa defender...

23 de março de 2016 às 21:01:00 WET  

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