segunda-feira, setembro 21, 2015

AURORA DOIRADA, QUE RECONHECEU RESPONSABILIDADE POLÍTICA POR UM HOMICÍDIO, GANHOU MAIS UM LUGAR NO PARLAMENTO...

Syriza falha maioria absoluta mas conquista 145 dos 300 deputados e vai renovar coligação com o ANEL. Partido dos dissidentes liderado por Lafazanis fica fora do parlamento.
Não conseguiu a maioria absoluta que pediu diariamente durante a campanha eleitoral, mesmo assim Alexis Tsipras tinha ontem à noite razões para sorrir. Quanto estavam contados quase 93% dos votos, o Syriza tinha 145 dos 300 lugares do parlamento e o ANEL, o fiel parceiro de coligação do Syriza, contrariando as sondagens e elegia 10 deputados. Na nova legislatura, a dupla Tsipras-Kammenos terá menos sete deputados, mas não terá de lidar com os dissidentes do Syriza, que ficaram fora do hemiciclo.
A Nova Democracia vai continuar como o maior partido da oposição, apesar de ter perdido lugares, enquanto os neonazis da Aurora Dourada cimentaram o seu lugar de terceiro maior partido, subindo de 17 para 18 deputados.
(...)
"Esta vitória é vossa. Hoje sinto os meus actos justificados porque o povo grego deu-nos um mandato claro para continuar a lutar dentro e fora do país", disse ontem à noite Alexis Tsipras no discurso da vitória. Ao seu lado estava Panos Kammenos, o líder do ANEL, com quem vai renovar a coligação governamental iniciada em Janeiro.
Esta aliança era desejada pelos dois líderes, mas, segundo as sondagens, estava em perigo, pois tudo apontava para que o ANEL ficasse fora do parlamento. Mas esta não foi a vontade de 3,67% dos eleitores gregos, que proporcionaram 10 deputados ao partido de Kammenos.
Hoje vou "proceder, com o primeiro-ministro Alexis Tsipras, à formação de um Governo (de coligação) para fazer sair a Grécia da recessão e do desemprego", declarou o ex-ministro da Defesa no seu discurso, também de vitória.
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Fonte: http://www.dn.pt/inicio/globo/interior.aspx?content_id=4789228&page=-1   (Artigo originariamente redigido sob o acordo ortográfico de 1990 mas corrigido aqui à luz da ortografia portuguesa)

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Recorde-se agora um artigo do mesmo dia, publicado de manhã com um título de tom denigrativo: «Partido que aceitou a responsabilidade política por um assassínio [está] em terceiro lugar»:

Na semana final de campanha, o partido neonazi grego Aurora Dourada fez uma afirmação insólita: aceitou a “responsabilidade política” do assassínio do rapper e activista de esquerda Pavlos Fyssas, quase exactamente no segundo aniversário da sua morte.
“Enquanto falarmos de responsabilidade política, aceitamo-la, mas não há responsabilidade criminal”, disse o líder do partido, Nikos Michaloliakos, numa entrevista radiofónica. “Só porque um membro do partido teve uma acção errada, isso não quer dizer que todo o partido deva pagar”, argumentou.
A Aurora Dourada, um partido político que rejeita a etiqueta neo-nazi que os analistas lhe colam, manteve sempre nas sondagens entre 5 e 7% das intenções de voto, sendo o partido em terceiro lugar. Ainda é cedo para saber se esta afirmação terá consequências, mas a especialista em extrema-direita Daphne Halikiopoulou, da Universidade de Reading (Reino Unido), disse por telefone que este terá sido um erro de cálculo de Michaloliakos. “No fundo, o que ele fez foi aceitar que houve uma dimensão política no assassínio, o que torna o partido claramente neo-nazi” – uma das características é a luta contra inimigos internos, normalmente de esquerda, diz.
Agora, defende Halikiopoulou, “os eleitores da Aurora Dourada estão mais conscientes do que vão votar”. Ainda que nem todos partilhem das ideias neo-nazis: “Há uma parte do seu eleitorado que é apenas anti-sistema, com alguma tendência autoritária, de direita, ou anti-imigração.”
Na campanha, o partido apresenta-se como “a única escolha nacionalista”.
Usou, claro, a crise dos refugiados, com responsáveis da Aurora Dourada, incluindo Ilias Kasidiaris, a visitar as ilhas de Kos e Lesbos, onde tem chegado a maioria de refugiados desesperados em barcos insufláveis da Turquia, mas onde não há condições para receber o enorme fluxo de pessoas.
Os membros do partido falaram com habitantes locais preocupados com as consequências da presença dos refugiados no turismo e na vida das ilhas. “Kos tem uma escolha”, disse Kasidiaris. “Votar no Syriza e transformar-se no Paquistão, ou escolher a Aurora Dourada, e se a Aurora Dourada mandar, Kos será Grécia de novo.”
Passados dias, houve um ataque violento a refugiados e voluntários em Kos, uma coincidência que não passou despercebida.
A violência ligada aos militantes do partido diminuiu com o processo que começou após a morte de Pavlos Fyssas. Foi a primeira morte de um grego – antes, os neo-nazis tinham atacado violentamente e morto estrangeiros. Foram detidos 69 membros do partido, incluindo a maioria dos deputados, e o seu líder, acusados de assassínio e associação criminosa.
O julgamento foi entretanto adiado até à semana após as eleições, e o líder da Aurora Dourada já esteve livre nesta campanha, em contraste com o que aconteceu nas eleições de Janeiro, quando fez campanha a partir da prisão: chegou a falar em comícios ao telefone, ligado a um altifalante. Ainda assim, ele e outros 13 deputados presos foram reeleitos.
Nesta campanha, apesar dos seus líderes estarem agora em liberdade, o partido já não teve presença no espaço público como em 2012 (quando obteve 6,9%, quando em 2009 tinha conseguido apenas 0,3%). Os media já não convidaram os seus líderes para os debates (como em 2012 quando um deputado, Ilias Kasidiaris, deu uma estalada a uma deputada e atirou água de um copo a outra), e já não mostraram os seus membros a acompanhar idosos ao banco para que receberem a sua reforma em segurança.
Mas apesar desta menor visibilidade nas ruas, o partido poderá ter um aumento de votos em relação a Janeiro. Para o jornalista Dmitris Psarras, que escreveu dois livros sobre o movimento, este aumento não será muito significativo. “Não vai sair da franja dos 6,5- 8%”, disse ao diário espanhol El País.
Daphne Halikiopoulou não faz previsões. Mas sublinha que “a considerável presença política da Aurora Dourada deve-se precisamente ao seu carácter anti-sistémico, e acontece apesar dele”. Uma das suas estratégias é apresentarem-se como vítimas de uma elite corrupta, e ainda recentemente os seus membros comparavam o julgamento dos seus líderes à prisão do filósofo Sócrates.
Ser o terceiro partido na Grécia tem força – nem que seja porque nas discussões para quem forma governo, o Presidente dá um mandato ao primeiro partido para que este forme uma coligação, se este falhar, o mandato passa para o segundo, e finalmente para o terceiro. Claro que a Aurora Dourada nunca formaria um governo, mas que tenha o mandato seria suficientemente simbólico para um partido em torno do qual está estabelecido um cordão sanitário.
Halikiopoulou nota ainda que a performance da Aurora Dourada estará ligada à do Syriza – e ao modo como irão reagir os eleitores desencantados que escolheram o partido de Alexis Tsipras como alternativa contra a austeridade agora que este a aceita.
No fundo, a situação política polarizou-se de novo na Grécia, com dois principais partidos (o Syriza a substituir o Pasok), e extremos dos dois lados. “A dúvida é saber se a fragmentação de 2012 foi uma aberração e vamos ter de novo uma polarização normal, ou não.”
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Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/um-partido-que-aceita-responsabilidade-politica-por-um-assassinio-em-terceiro-lugar-1708367

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Ou seja, apesar da ingenuidade, se não for brutalidade criminosa - mas por acaso demarcou-se disso com toda a formalidade necessária - do líder do partido «nazi», o raio do povinho não só não lhe baixou os votos como ainda por cima lhos aumentou. 
Não há-de a Democracia a sério meter tanto medo à elite reinante, que teme, e com razão, a verdadeira natureza da opinião política do povo... porque sabe, conscientemente ou não, que no seio da plebe não há força maior do que o instinto tribal. Uma força que de momento está maioritariamente na sua forma meramente potencial, longe portanto da sua plenitude, mas que se manifesta cada vez mais na prática, à medida que as formações partidárias nacionalistas fazem o seu trabalho político. É por este motivo que quanto mais democrática for uma sociedade, mais influente será no seu seio a tendência política nacionalista, porque o Nacionalismo na sua essência é precisamente o instinto tribal vertido em forma organizada, sistemática, numa palavra, política.


2 Comments:

Anonymous Anónimo said...

"no seio da plebe não há força maior do que o instinto tribal."

Syriza de novo só mostra que não há força maior do que a mente politicamente correcta do povinho que mesmo tendo um exército de muslos hostis no território ainda assim vota é na esquerda...

22 de setembro de 2015 às 00:38:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Roma e Pavia não se fizeram num dia, pelo que o sucesso da AD leva tempo a construir-se. Além disso, a vitória do Syriza tem muito menos a ver com qualquer politiquice correcta do que com a revolta popular contra a plutocracia de Bruxelas.

Por outro lado, a verdade é que a AD continua a não parecer suficientemente democrática para agradar ao grosso da população. É curioso que nos países onde o Nacionalismo político é apresentado ao povo com um aspecto mais acessível e menos autoritário, nesses países - França, Suécia, Dinamarca, Suíça - o Nacionalismo avança com mais força, porque será...


22 de setembro de 2015 às 02:47:00 WEST  

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