terça-feira, maio 12, 2015

ECONOMISTAS DUVIDAM QUE ENFRAQUECIMENTO DA POSIÇÃO DOS TRABALHADORES TRAGA BONS RESULTADOS

Fonte: http://www.dinheirovivo.pt/economia/macro/interior.aspx?content_id=4559189&page=-1   (Artigo originariamente redigido sob o acordo ortográfico de 1990 mas corrigido aqui à luz da ortografia portuguesa)
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De um lado da barricada, vários economistas de renome a avisar que as políticas seguidas na zona euro são erradas, podem comprometer a retoma e degradar ainda mais a confiança dos povos nos políticos e nas instituições.
Do outro, o Banco de Portugal, um dos visados pelas críticas, a acenar com eventuais novas bolhas especulativas que podem rebentar a qualquer momento e que é urgente desalavancar ainda mais, cortando dívida. Foi assim a conferência sobre "Crescimento e reformas na Europa no pós-crise" promovida ontem pelo banco central, em Lisboa.
Três proeminentes economistas - os belgas André Sapir e Paul de Grauwe e o norte-americano Jeff Frieden - descarregaram uma bateria de argumentos contra o actual statu quo das políticas europeias (o foco foi na zona euro). Cada um à sua maneira veio provar que há dogmas que estão, muito provavelmente, errados. Um perigo, disseram.
De Grauwe, da London School of Economics, foi um dos mais contundentes, como é, aliás, seu hábito. Desta vez, apareceu com um novo estudo em co-autoria com mais dois economistas no qual questiona: está a flexibilidade do mercado de trabalho directamente relacionada com mais crescimento?
Afinal, parece que não. "Os países que experimentam maior crescimento económico tendem a dar condições mais favoráveis aos trabalhadores." E adiantou mesmo que "não conseguimos encontrar qualquer efeito positivo no crescimento decorrente de mudanças na legislação de protecção ao emprego e no índice de protecção do mercado de produto".

O estudo que desmonta o "dogma"
A amostra usada pelo professor belga no estudo usou indicadores construídos pela OCDE (economias avançadas) para medir o grau de protecção no emprego e nos mercados de produto no período de 1998 a 2013.
Conclusão: "As variáveis que interessam para o crescimento, fundamentais, são por exemplo o investimento." O nível de protecção do emprego "não interessa para o crescimento porque tem efeitos negativos na contratação e reduz as perspectivas de crescimento a longo prazo", exemplificou. "Quando se enfraquece a protecção, reduz-se a qualidade do capital humano."
Por isso, continuou, "temos de deitar fora os dogmas". "Um deles é que não se pode financiar investimento com nova dívida, que todo o investimento só pode ser financiado com receita corrente." "Nenhuma empresa bem gerida segue esta regra." "Ainda estaríamos na Idade da Pedra se esta ideia tivesse sido sempre aplicada." A plateia riu-se.
André Sapir, outro decano da economia europeia, professor na Universidade Livre de Bruxelas, concorda, mas... "Compro a sua história sobre a relação entre protecção ao emprego e crescimento", "mas tenho dúvidas" sobre basear o estudo na medição desse fenómeno em indicadores da OCDE.

Um americano especializado em Europa
Jeff Frieden, professor de Administração Pública na Universidade de Harvard, trouxe a visão de fora da Europa. O norte-americano está a fazer um estudo sobre a evolução da opinião pública europeia, recorrendo a um conjunto massivo de dados do Eurobarómetro de 2004 a 2014. Tenta medir o apoio dos eleitores à integração europeia e ao projecto do euro.
Conclusões: "A União Europeia e a zona euro ainda são muito populares", mas sentem-se "grandes diferenças segundo os níveis de educação e ocupacional". Independentemente dos países (ricos ou pobres, Norte ou Sul, credores ou devedores), as camadas populacionais mais qualificadas tendem a apoiar mais a Europa; os menos qualificados desconfiam.
E, avisa, há "um colapso na confiança nas instituições da UE e nos governos nacionais, especialmente nas nações devedoras", ainda que a quebra seja "universal na amostra, independentemente dos níveis de qualificação".
"O público, especialmente nos países e grupos mais atingidos pela crise, perdeu fé nos líderes políticos." Observou a situação "patética" que foi ver as elites políticas em "paralisia" na resposta à crise. "Os progressos nas reformas estruturais e na União Económica e Monetária vão requerer restauro da confiança antes do mais."

Mais dívida é que não
Pedro Duarte Neves, vice-governador do Banco de Portugal, encerrou o encontro com a ideia de que "a crise actual foi provocada sobretudo pela dívida", que "a dívida é um travão ao crescimento", que "a margem orçamental é limitada" e que "é necessário promover a desalavancagem sem ameaçar a recuperação".

Carlos Costa insiste no fiscal europeu e deixa recados
A Europa precisa "de criar uma subcâmara, outra fórmula, que assegure o controlo e a legitimação política do que é feito no Eurogrupo", defendeu ontem o governador do Banco de Portugal.
Na conferência sobre reformas no pós-crise, Costa criticou ainda as autoridades - governo, partidos e o seu próprio banco central: "Não temos sido capazes de legitimar as reformas estruturais porque não somos capazes de explicar qual é o nosso destino".
Recorde-se que há precisamente um mês, numa conferência no Ministério das Finanças, o governador pediu um género de conselho das Finanças Públicas europeu com poder de "vigiar" os orçamentos nacionais e acrescentou que seria boa ideia haver um fundo monetário à escala europeia para emprestar dinheiro e "gerir crises futuras".
Entretanto, Passos Coelho também alinhou nesta segunda ideia, ainda que a nível europeu ela não tenha pernas para andar, pelo menos para já.
A Alemanha e outras nações credoras querem manter a actual arquitectura institucional formada pelo Mecanismo de Estabilidade Europeu, o Banco Europeu de Investimento e o Fundo Único de Resolução (para assistir aos bancos).
E idem no caso do fiscal único na medida em que muito do trabalho de vigilância aos países é feito pela Comissão Europeia em articulação com o Eurogrupo.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Até porque os trabalhadores compram produtos produzidos por eles,se enfraquecer os trabalhadores teremos pessoas que trabalharão muito para consumir pouco.

12 de maio de 2015 às 20:38:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Já o PNR defende precisamente o inverso,exceptuando claro as forças repressivas do regime neo liberal tão do seu agrado

13 de maio de 2015 às 12:00:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Que caraças é que isso quererá dizer?...

13 de maio de 2015 às 15:42:00 WEST  
Blogger Afonso de Portugal said...

Mistérios da comunagem...

13 de maio de 2015 às 23:43:00 WEST  

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