sábado, fevereiro 18, 2012

SOBRE O CARNAVAL




A imaginação ultra-requintada em fusão com a História milenar - isto é a Europa.





Carnaval, celebração de raiz porventura arcaica, essencialmente semelhante à Saturnália, mas com traços de outras festividades pagãs, nomeadamente da Lupercália, aqui descrita há poucos dias, e da Bacanália, na qual, ao mesmo tempo em que o líquido de Baco descia as gargantas e subia às cabeças, se podia embarcar em toda a sorte de deboches.
O Carnaval é efectivamente um tempo de pura descontracção, em que se pode fazer, dizer e até ser» virtualmente tudo «o que se quiser» - mas com os limites que a sociedade actual impõe, relativizando sempre o sentido do total que algumas festas poderiam ter originalmente, pois que, numa época em que são continuamente necessários os polícias, médicos, enfermeiros, etc., não se pode esperar que todos estejam ao mesmo tempo envolvidos numa dada celebração, como bem notou Roger Caillois em «O Homem e o Sagrado».


No antigo calendário romano, Fevereiro era o último mês do ano, época de contacto com os mortos, de purificação da cidade - é daí que vem o nome Fevereiro, de Februus, Deus Subterrâneo dos Mortos e das Riquezas - tendo assim um ambiente similar ao do Halloween céltico (Samhain, na língua irlandesa), o qual é, para os Celtas, a passagem de um ano para outro. E também entre as gentes célticas se usavam máscaras nessa ocasião festiva. E, na actualidade, é assim que a população norte-americana vive o Halloween - como uma espécie de Carnaval anglo-saxónico, baile de máscaras caracterizado por um só tema, o do fantástico de terror (bruxas, vampiros, demónios, fantasmas, etc.). O Halloween norte-americano, celebração de terra predominantemente fria (ou europeizada?...) acaba por isso por mostrar mais semelhança com os Carnavais europeus do que o Carnaval brasileiro, como a seguir se verá.


Neste extremo ocidente europeu, entretanto, o Entrudo encontra-se actualmente muito influenciado pela cultura das terras de Vera Cruz, o que contribui para um empobrecimento da tradição carnavalesca nacional: um povo sem orgulho, acabrunhado, deixa-se colonizar também nisto, especialmente quando a ideia de que a versão carioca de tal festividade «é que é o Carnaval por excelência» parece estabelecida como um facto indiscutível, e «toda a gente» a considera melhor que todas as outras. E tal colonização, verdadeiramente kitsch porque feita com base na diluição da identidade cultural nacional e imposição de um modelo desenraizado e desenraizador, simplificado e grosseiro, mas visualmente impressionante, passa por cima até do mais prosaico bom senso - chega a infrigir as mais elementares regras da sensatez no que ao clima diz respeito. Cá, ainda é Inverno e, por conseguinte, a tradição de cá não consistia em mostrar a presunteira, tantas vezes invernalmente anafada, trajada com roupas que deixam as pobres moçoilas semi-nuas a gramar um frio ventoso pelas carnes adentro.
Parece-me a propósito disto pertinente observar a distinção radical entre o Carnaval brasileiro e os Carnavais europeus - por mais diferenças que se verifiquem entre estes últimos, há algo que os caracteriza em comum por oposição ao do Rio de Janeiro: trata-se, quanto a mim, da valorização do não manifesto, do oculto, do acto de esconder.
A festividade carnavalesca brasileira é típica do Verão - com efeito, realiza-se numa altura em que o hemisfério sul vive o pico da estação quente. Por conseguinte, a celebração pauta-se pela abertura, pela exuberância da extroversão absoluta.
As festividades carnavalescas europeias, pelo contrário, são festas típicas do Inverno - têm lugar numa época do ano em que o hemisfério norte vive ainda na estação fria. Em assim sendo, tais celebrações caracterizam-se pela ocultação, pela exuberância duma introversão virada do avesso, ou seja, exibida perante os olhos de todos - e é isso a máscara.


Não deixa entretanto de ser curioso o seguinte - tornou-se lugar-comum a noção de que os Brasileiros, e demais latino-americanos, são especialmente extrovertidos (traço eventualmente africano, também presente nos EUA, embora talvez menos), ao passo que a Europa tende para a introversão - e quanto mais geograficamente afastados de África, mais introvertidos são os Europeus, com a estranha excepção do caso português, que, situando-se territorialmente no sul do continente, pauta-se todavia por uma marcada introversão, visível desde logo na sua pronúncia, que se assemelha genericamente à do gélido leste europeu.
Ora o Carnaval é, por excelência, a festa da quebra das regras, da excepção - faz-se nesta altura o que não se pode fazer durante o resto do ano.
Não obstante, os Brasileiros têm nesta época, não um momento de excepção, mas sim de intensificação do que já são no resto do ano; quanto aos Europeus, dão-se ao festejo desbragado, não raras vezes debochado, mas a coberto de máscaras. Em suma: se «o Natal é quando um homem quiser», o Carnaval é só mesmo uma vez por ano...
Introversão e cultura europeia versus extroversão sul-americana: enquanto no Rio de Janeiro anda tudo ao léu, como na praia, em Veneza, por exemplo, vive-se um momento feérico, gerado pelo encontro da bizarria das refinadas máscaras (cujo potencial erótico foi particularmente explorado em «Eyes Wide Shut», ou «Olhos Bem Fechados», de Stanley Kubrick) com o nevoeiro, que, segundo parece, é na cidade dos Vénetos frequente.
Bom seria, digo eu, que o carnaval português, se tivesse mesmo de receber influência estrangeira, que ao menos, em vez da brasileira, recebesse da veneziana. É que Lisboa até tem a sua névoa e o seu ar melancólico, sóbrio, triste segundo alguns, mas que, visto de outro modo, pode esconder mistérios e riquezas insuspeitadas. Tal atmosfera não tem muito a ver com roupagens verde-e-amarelo e com desfiles à maneira rio-de-janeirista, mas combina perfeitamente com o cenário construído pela máscara veneziana. Todavia, e voltando à referência do Halloween norte-americano, não é de todo impossível que esta, a da «noite das bruxas» ianque, possa servir de contraponto à influência brasuca... fazendo com que em Portugal se retorne um pouco ao que se fazia nos saudosos anos setenta e princípios dos anos oitenta, antes da maciça influência brasileira, quando as pessoas mascaravam-se a rigor (e tinham ainda menos dinheiro do que têm hoje), encarnando certas e determinadas personagens da realidade ou da fantasia; e eram incontáveis os que, mesmo não usando uniformes, acabavam todavia por ajustar a sua caraça de modo a bem esconder as respectivas ventas. Assim é que era o carnaval português... europeu.





Era e pode ser, basta que a cambada leitora destes e doutros tópicos levante do sofá as nalgas e vá viver à grande nestes três dias que aí vêm...

12 Comments:

Anonymous Sambista said...

Já não há volta a dar á situação. O Carnaval em Portugal abrasileirou-se completamente e se alguem tentar fazer de outro modo não terá nem público nem receitas financeiras.
O Carnaval brasileiro é mais espectacular e animado do que o eram os carnavais à portuguesa, e portanto as pessoas aderem mais. Os mais novos já só conhecem o Carnaval brasileiro e até pensam que o Carnaval em Portugal foi sempre assim.

18 de fevereiro de 2012 às 18:10:00 WET  
Blogger Caturo said...

Não é bem assim. O Carnaval português tradicional ainda é praticado em certas paragens, como Podence, mas não só, e daí pode disseminar-se para o resto do país, se tiver a devida propaganda. Por outro lado, há diversos locais onde o gosto pela máscara retorna, talvez por via da influência norte-americana do Halloween, e os mais novos também são sensíveis a isso.

18 de fevereiro de 2012 às 18:15:00 WET  
Blogger Caturo said...

A propósito de Halloween... faltou-me desenvolver essa parte...

18 de fevereiro de 2012 às 18:15:00 WET  
Blogger Caturo said...

Já está.

18 de fevereiro de 2012 às 18:25:00 WET  
Anonymous Afonso de Portugal said...

«Sambista disse...»

Terminado1 (ou outro analfabruto da mesma safra-chupista-e-minhotimorense) detectado.

«Já não há volta a dar á situação. O Carnaval em Portugal abrasileirou-se completamente e se alguem tentar fazer de outro modo não terá nem público nem receitas financeiras.»

Se não fossem a merda da tua querida Igreja Católica (que acabou com grande parte dos rituais pagãos originais) e dos teus queridos marxistas culturais (que glorificam incansavelmente a "sensualidade" e o exotismo das tropicalices bostileiras, para além de denunciarem as brincadeiras dos caretos como “rituais machistas”), isso nunca teria acontecido.

De resto, é no mínimo ridículo ver raparigas portuguesas de braços e pernas ao léu com o frio que é habitualmente característico desta época do ano, só porque sim, porque é “moderno”, porque é “alegre”, ou porque é “animado”.

«O Carnaval brasileiro é mais espectacular e animado do que o eram os carnavais à portuguesa, e portanto as pessoas aderem mais.»

Como se o minhotimorense invertebrado fizesse a mais pálida ideia de como eram os antigos carnavais portugueses. Não tinham tantas mulatas semi-nuas, disso podes ter a certeza, mas isso é tudo quanto realmente TU podes dizer acerca do Carnaval dos nossos ancestrais. Não tens conhecimento de causa para mais, seu universalista!

«Os mais novos já só conhecem o Carnaval brasileiro e até pensam que o Carnaval em Portugal foi sempre assim.»

Pois, da mesma forma que atentados à inteligência como o Big Brother, a Casa dos Degredos e semelhante lixo da SIC e da TVI têm mais audiência e se tornaram na referência cultural das novas gerações. Mas desde quando é que mais clientela é sinónimo de maior qualidade? Só mesmo na lógica dos minhotimorenses é que maior número significa mais qualidade. É por isso que vocês acham que os Makukulas e os Djalós são portugueses!

Livra! Cada vez que estes gajos aparecem por aqui só dou graças pela hora em que o Tribunal Constitucional chumbou a porcaria do seu projecto de partido!!! Já metem nojo!!!

18 de fevereiro de 2012 às 18:55:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

« é mais espectacular»


Então e o Acordo ó Terminado?

18 de fevereiro de 2012 às 20:07:00 WET  
Anonymous Sambista said...

Atenção que ser um nacionalista dito "minho timorense" ou "luso tropicalista", não implica que se goste muito do Carnaval do Brasil.
Por exemplo, um dos principais bloggers da blogoesfera Minho Timorense/Luso Tropicalista...diz que detesta o Carnaval brasileiro, quer no Brasil quer em Portugal!

http://ogladio.blogspot.com/2012/02/comecou-macacada.html

Eu este ano vou ao Carnaval de Sesimbra...

18 de fevereiro de 2012 às 21:15:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

É ISSO AE, NÃO SE DEIXEM COLONIZAR PELO LIXO DO RIO QUE JA IMPOS SEU ESGOTO A SP E AGORA QUER IMPOR A PORTUGAL TAMBEM..

1)O SAMBOSTA VAI DO CONGO PRA SALVADOR

2)MIGRA DE SALVADOR PRO RIO EM 1900

3)MIGRA DO RIO PRA SP VIA GLOBOSTA/RECULORD/CIA-ETC..

4)QUER SE IMPOR EM PORTUGAL TAMBEM..

18 de fevereiro de 2012 às 23:50:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Já não há volta a dar á situação. O Carnaval em Portugal abrasileirou-se completamente e se alguem tentar fazer de outro modo não terá nem público nem receitas financeiras.
O Carnaval brasileiro é mais espectacular e animado do que o eram os carnavais à portuguesa, e portanto as pessoas aderem mais. Os mais novos já só conhecem o Carnaval brasileiro e até pensam que o Carnaval em Portugal foi sempre assim.

QUE NOJO..O CARNAVAL DE VENEZA É O MAIS BELO E ORIGINAL DO MUNDO

O CARNAVAL DO LIXIL É UMA DETURPAÇÃO DO CARNAVAL ORIGINAL EUROPEU PELOS NIGGERS E DERIVADOS..

18 de fevereiro de 2012 às 23:51:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Não é bem assim. O Carnaval português tradicional ainda é praticado em certas paragens, como Podence, mas não só, e daí pode disseminar-se para o resto do país, se tiver a devida propaganda. Por outro lado, há diversos locais onde o gosto pela máscara retorna, talvez por via da influência norte-americana do Halloween, e os mais novos também são sensíveis a isso.

EXACTO, A MIDIA DO ZOG ASSIM COMO IMPOS ESSE LIXO AO RESTO DO BOSTIL TAMBEM QUER IMPOR AÍ..

18 de fevereiro de 2012 às 23:52:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

18 de Fevereiro de 2012 21:15:00 WET

CUIDADO COM ESSES TROJANS QUE SÓ QUEREM PRESERVAR A CULTURA TUGA MAS FODER COM O DNA..

18 de fevereiro de 2012 às 23:53:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

E NO BOSTIL A MUNDIÇA TEM O HABITO DE JOGAR OVO PODRE COM URINA E FARINHA NA GALERA

METE NOJO TUDO ISSO

19 de fevereiro de 2012 às 00:13:00 WET  

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