«SÃO» MARTINHO OU DEUS DA GUERRA(?)
Moderna representação do Deus da Guerra celta comum a várias partes da Ibéria e provavelmente à Irlanda
Para se compreender o porquê da presença destas duas imagens neste tópico, leia-se o seguinte artigo:
Ao artigo que pode ser lido clicando nas letras acima, acrescento mais umas quantas informações a completar o quadro que tracei para afirmar que esta data foi mais uma das muitas que o Cristianismo usurpou à paganidade europeia: o culto de S. Martinho não passa provavelmente de um sucedâneo do culto ao(s) Deus(es) da Guerra da Europa céltica e germânica, tendo entretanto uns quantos laivos dionisíacos, pois que, coincidência ou não, os antigos Gregos também celebravam o culto a Diónisos nesta altura do ano.
Em primeiro lugar, parece confiável dizer-se que o 11, ou o 12, de Novembro era pelos antigos Germanos celebrado como o Festival dos Einherjar, ou de Odin, Deus da Guerra, da Magia e dos Einherjar.
Os Einherjar são os guerreiros mortos em combate que estão no Valhalla, palácio de Odin, onde combatem durante todo o dia, comem carne de javali e bebem hidromel servido pelas Valquírias, e donde partem de quando em vez em atroadoras cavalgadas fantasmagóricas durante as noites de tempestade invernais.
Trata-se pois de um dia dos guerreiros - e, conforme diz Teófilo Braga em «O Povo Português nos Seus Costumes, Crenças e Tradições» (volume I), Marte, o Deus da Guerra, tem uma função de psicopompo, isto é, de condutor das almas ao outro mundo, nomeadamente as almas dos guerreiros, tal como S. Martinho também tem, no dizer do mesmo autor, um carácter funerário (op. cit., vol. II, pág. 67). Observa-se aqui uma semelhança de carácter entre o latino Marte e o germânico Odin.
A respeito deste último (Odin=Wuotan), diz Teófilo Braga o seguinte: (vol. II, pág. 223): «(...) Quase todas as igrejas e capelas pertencentes a São Miguel elevam-se sobre montanhas originariamente consagradas a Wuotan. O São Miguel cai na época em que, no norte da Alemanha, se celebrava a festa de Wuotan, enquanto que no sul, onde o Verão é mais longo, esta última coincidia com o São Martinho. Muitos dos atributos de Wuotan couberam em partilha a São Martinho, que possui o cavalo branco, o seu manto, a espada, e que se mostra às vezes à frente dos exércitos. (...)»
A semelhança entre as várias tradições europeias nesta ocasião festiva observa-se também ao nível dos costumes populares ainda praticados. O consumo de carne de porco é em toda a Europa Ocidental um dos elementos desta celebração - em Portugal, por exemplo, diz-se «No dia de S. Martinho mata o porquinho e põe-te mal com o vizinho», o que, numa só frase, refere não apenas o suíno mas também uma atitude de certo modo marcial.
Em Portugal diz-se também «Todo o porco tem o seu S. Martinho», equivalente ao inglês «His Martinmas will come, as it does to every hog», o que significa que toda a gente tem de morrer, mas que tem inequivocamente um toque de violência, o que por outro lado também evoca o facto de nesta altura do ano os povos antigos da Europa abaterem o gado que não podiam guardar, prática que se observa no Primeiro de Novembro português da Serra da Estrela. E, como as tradições estão muitas vezes encadeadas umas nas outras, e já que se fala em Primeiro de Novembro, parece pertinente recordar que, tal como os Latinos antigos faziam o ano começar no mês dedicado ao Deus da Guerra (o ano latino antigo começava em Março, mês de Marte), é possível senão provável que os seus parentes Celtas também começassem o ano com uma celebração em honra do seu Deus da Guerra, a avaliar pela proximidade entre o S. Martinho e o Samain ou Helloween.
O álcool tem igualmente um lugar privilegiado neste dia - em Portugal, bebe-se sem freio a típica água-pé, e o vinho em geral, sobretudo o vinho novo. Esta mesma tradição existe em paragens mais setentrionais, nomeadamente na Alemanha (Colónia), onde se pratica o Martinsminne: beber o Martinsminne significa beber o novo vinho do ano na véspera do S. Martinho.
Na Suécia, o rei Olaf Tryggwason teve um sonho no qual S. Martinho lhe teria dito para não adorar os Deuses Thor e Odin e para beber o Martinsminne em vez do Odinsminne.
Sobre o simbolismo do ganso (Martinsgans), já se falou no artigo ao qual conduz o link do topo; acrescenta-se somente que, na tradição germânica, este animal, para além de ser consagrado a Wotan (Odin), é também a personificação do fantasma da vegetação, e comê-lo é partilhar o poder deste espírito da vegetação.
Registe-se também a tradição alemã do Martinshörnchen (croissants de S. Martinho): a lenda diz que Martinho, enquanto soldado, usava a capa de Wotan, e por conseguinte as pessoas comem estes croissants feitos de uma determinada pasta porque os pães em forma de crescente são similares às pegadas do cavalo de Wotan, Deus da Guerra e da Sabedoria.
É particularmente relevante a tradição das Martinslampen («luzes» de S. Martinho): tal como a resplandecência de S. Martinho traz a luz às trevas, também no campo se acendem luzes em abóboras (semelhantes às abóboras luminosas do Halloween nos países anglo-saxónicos) pela noite dentro. Fazia-se inclusivamente uma procissão de luzes deste tipo, que se origina provavelmente no lucernarium, o acender de velas litúrgico.
Registe-se também que na Escócia e no norte de Inglaterra costumava-se chamar «mart» a um boi gordo, porque este animal era abatido no dia de S. Martinho.
Não será despropositado também lembrar que o dia de S. Martinho se celebra nas proximidades da celebração pagã romana da Vinália, festival do vinho, consagrado a Júpiter.
A semelhança entre as várias tradições europeias nesta ocasião festiva observa-se também ao nível dos costumes populares ainda praticados. O consumo de carne de porco é em toda a Europa Ocidental um dos elementos desta celebração - em Portugal, por exemplo, diz-se «No dia de S. Martinho mata o porquinho e põe-te mal com o vizinho», o que, numa só frase, refere não apenas o suíno mas também uma atitude de certo modo marcial.
Em Portugal diz-se também «Todo o porco tem o seu S. Martinho», equivalente ao inglês «His Martinmas will come, as it does to every hog», o que significa que toda a gente tem de morrer, mas que tem inequivocamente um toque de violência, o que por outro lado também evoca o facto de nesta altura do ano os povos antigos da Europa abaterem o gado que não podiam guardar, prática que se observa no Primeiro de Novembro português da Serra da Estrela. E, como as tradições estão muitas vezes encadeadas umas nas outras, e já que se fala em Primeiro de Novembro, parece pertinente recordar que, tal como os Latinos antigos faziam o ano começar no mês dedicado ao Deus da Guerra (o ano latino antigo começava em Março, mês de Marte), é possível senão provável que os seus parentes Celtas também começassem o ano com uma celebração em honra do seu Deus da Guerra, a avaliar pela proximidade entre o S. Martinho e o Samain ou Helloween.
O álcool tem igualmente um lugar privilegiado neste dia - em Portugal, bebe-se sem freio a típica água-pé, e o vinho em geral, sobretudo o vinho novo. Esta mesma tradição existe em paragens mais setentrionais, nomeadamente na Alemanha (Colónia), onde se pratica o Martinsminne: beber o Martinsminne significa beber o novo vinho do ano na véspera do S. Martinho.
Na Suécia, o rei Olaf Tryggwason teve um sonho no qual S. Martinho lhe teria dito para não adorar os Deuses Thor e Odin e para beber o Martinsminne em vez do Odinsminne.
Sobre o simbolismo do ganso (Martinsgans), já se falou no artigo ao qual conduz o link do topo; acrescenta-se somente que, na tradição germânica, este animal, para além de ser consagrado a Wotan (Odin), é também a personificação do fantasma da vegetação, e comê-lo é partilhar o poder deste espírito da vegetação.
Registe-se também a tradição alemã do Martinshörnchen (croissants de S. Martinho): a lenda diz que Martinho, enquanto soldado, usava a capa de Wotan, e por conseguinte as pessoas comem estes croissants feitos de uma determinada pasta porque os pães em forma de crescente são similares às pegadas do cavalo de Wotan, Deus da Guerra e da Sabedoria.
É particularmente relevante a tradição das Martinslampen («luzes» de S. Martinho): tal como a resplandecência de S. Martinho traz a luz às trevas, também no campo se acendem luzes em abóboras (semelhantes às abóboras luminosas do Halloween nos países anglo-saxónicos) pela noite dentro. Fazia-se inclusivamente uma procissão de luzes deste tipo, que se origina provavelmente no lucernarium, o acender de velas litúrgico.
Registe-se também que na Escócia e no norte de Inglaterra costumava-se chamar «mart» a um boi gordo, porque este animal era abatido no dia de S. Martinho.
Não será despropositado também lembrar que o dia de S. Martinho se celebra nas proximidades da celebração pagã romana da Vinália, festival do vinho, consagrado a Júpiter.
32 Comments:
Que estúpida mania tu tens de todos os anos lembrares esta merdolência. E daí que vos tenham usurpado uma lenda ou duas? Eles que se tivessem rebelado contra isso, e imposto a sua presença! Se o cristianismo progrediu tanto na Europa é porque, mais do que provavelmente, os tais «deuses da estirpe» não existiam mesmo - de contrário, como é que iam consentir que toda a gente os abandonasse durante todo este tempo, sem se fazerem sentir nunca?
Incomodam-te as verdades, anónimo? Parece que sim. Não gostas de ver escrito que o teu Judeu Morto só conseguiu impôr-se à custa de actuações sistematicamente totalitárias, da opressão e da usurpação pura e simples? Não tivessem os teus tutores e antecessores procedido como canalhas já isto não se dizia.
De resto, se o teu argumento é o do facto consumado, então dar-te um tiro e matar-te significa que não tiveste vontade de viver, ou que mereceste morrer porque não te soubeste defender.
Já agora, se o teu argumento é mesmo o do facto consumado, a verdade é que, mesmo que não gostes, o culto a estes Deuses da estirpe está a retornar em força um pouco por todo o mundo Ocidental, especialmente no leste, onde a consciência de estirpe é talvez mais actuante. Afinal, os Deuses fazem-Se mesmo sentir...
Por isso, sujeito, tudo, mas tudo, absolutamente tudo, o que foi roubado aos cultos ancestrais da Europa deve ser lembrado, recordado, realçado, repetido, as vezes que forem precisas, todos os anos, e continuará a ser lembrado, realçado, repetido neste blogue, porque tudo isto deve saber-se, e nenhuma repetição é excessiva.
Aliás, nem é a repetição que te incomoda, ou então não virias aqui, repetidamente, escrever sempre «grande merda», dando com isso uma demonstração do teu rancor mesquinho e da tua imbecilidade tacanha. Mas ainda bem que o fazes: é sempre bom saber que há beatos incomodados.
«Por isso, sujeito, tudo, mas tudo, absolutamente tudo, o que foi roubado aos cultos ancestrais da Europa deve ser lembrado, recordado, realçado, repetido, as vezes que forem precisas, todos os anos, e continuará a ser lembrado»
Muito bem.
http://www.asianews.it/index.php?l=en&art=13703&size=A
«Obama: pro-abortion president who will harm America´s Blacks»
Pois eu continuo a pensar que tudo isto é uma merda. É UMA MERDA, É UMA MERDA E TU ÉS UMA MERDA!
Chhhiu, meu filhadaputa. Pouco esperneanço. Controla esse mau perder. Já se provou que merda és tu e tudo o que dizes. E tal foi o teu nervosismo que acabaste por te descontrolar e sair do teu casulo, confirmando as suspeitas: o mete-nojo que aqui aparece a dizer «grande merda» em todos os tópicos sobre Religião, não passa dum beato baboso e capado que não aguenta uma argumentação.
bom post sobre as mitologias celta e nórdica.
mesmo sendo ateu, é bom aprender sobre os costumes e crenças dos nossos antepassados.
«...os tais «deuses da estirpe» não existiam mesmo - de contrário, como é que iam consentir que toda a gente os abandonasse durante todo este tempo, sem se fazerem sentir nunca?»
Ose Deuses sempre se manifestaram...
«dar-te um tiro e matar-te significa que não tiveste vontade de viver»
Dar-me um tiro a mim não é o mesmo que dar um tiro a um deus. Este, se existe, tem de ser perfeito, e se é perfeito consegue impedir que o povo a que se revelou lhe volte as costas. Por muito bons manipuladores que os cristãos fossem, se um deus os quisesse impedir tera forças para isso - ou não?
«Ose Deuses sempre se manifestaram...»
Algo me diz que, se calhar, mas só mesmo se calhar, não foi de forma assim tão convincente que impedisse os pagãos de ir à missa. Mas isto sou eu a falar...
"não foi de forma assim tão convincente que impedisse os pagãos de ir à missa. "
Os pagãos não são cordeiros como os cristãos.
«Os pagãos não são cordeiros como os cristãos»
Os pagãos de ontem estão hoje na missa. E foram para lá sem que os seus deuses interviessem.
"Os pagãos de ontem estão hoje na missa. E foram para lá sem que os seus deuses interviessem."
Se ainda hoje há pagãos é porque os deuses intervieram.
Este, se existe, tem de ser perfeito, e se é perfeito consegue impedir que o povo a que se revelou lhe volte as costas
Os Deuses podem ser perfeitos, mas as pessoas não o são. E ser perfeito não significa ser omnipotente. Omnipotente é o Deus semita; os Deuses europeus, pelo contrário, raramente têm poder sem limites.
Os pagãos de ontem estão hoje na missa.
Fora os que foram massacrados por recusarem ir à missa... e fora os que foram à missa sem saber o que o Cristo representava realmente, que os missionários cristãos foram, e são, mestres na arte de enganar as populações, pois que ainda hoje o fazem na Índia.
Se ainda hoje há pagãos é porque os deuses intervieram.
E, pelos vistos, intervém cada vez mais.
Já agora... se as igrejas se esvaziam, isso quer dizer que o Judeu Morto... perdeu o poder que tinha?...
«Os Deuses podem ser perfeitos, mas as pessoas não o são.»
Se o forem, logo são melhores do que os missionários. E, assim sendo, podem obstar-lhes e derrotá-los.
«E ser perfeito não significa ser omnipotente. Omnipotente é o Deus semita»
Quem é perfeito não erra. Se não erra, ao agir para impedir o povo a quem se revelou de seguir outra religião qualquer será decisivo, a despeito da acção de todos os missionários e mais um. Ora, se o cristianismo singrou, isso significa ou que os deuses pagãos não acautelaram que o seu povo lhes permanecesse fiel, ou que os deuses pagãos inexistem. Como a primeira proposta não é verosímil...
«fora os que foram à missa sem saber o que o Cristo representava realmente, que os missionários cristãos foram, e são, mestres na arte de enganar as populações»
Sim, mas os seus deuses seriam perfeitos, e os missionários não são. Tivessem intervindo e não havia mestria na arte de enganar que valesse aos prosélitos.
«Já agora... se as igrejas se esvaziam, isso quer dizer que o Judeu Morto... perdeu o poder que tinha?...»
No dia em que houver tantos cristãos há hoje como pagãos, dir-te-ei sem pejo que o deus cristão não existe.
«Se ainda hoje há pagãos é porque os deuses intervieram.»
E foi só isto que conseguiram? Um deus perfeito teria discernido uma forma de agir que fosse mais profícua...
"E foi só isto que conseguiram? Um deus perfeito teria discernido uma forma de agir que fosse mais profícua..."
Não são os cristãos que dizem que os caminhos de deus são insondáveis ou coisa que o valha. Um deus mesmo que perfeito não possui a força necessária para moldar o mundo à sua vontade, só uma ideologia tão infantil como o cristianismo é que pode por na mente das pessoas que alguma coisa possui importância suficiente para se sobrepor ad eternum a tudo o demais. O paganismo teve o seu tempo, o cristianismo teve o seu também, e agora outra coisa virá, a ver vamos o que será.
E se o paganismo "perdeu", porque nunca perdeu verdadeiramente para o cristianismo, pois o sentimento do religioso nas populações ainda é na sua essência pagão, o que o cristianismo conseguiu foi através do seu fanatismo e constante militância dos evangelizadores de porta em porta, vender um produto às pessoas, numa altura em que não se comercializava religião, em que as pessoas nem sequer tinham consciência do que era trocar de religião, foram os primeiros caixeiros viajantes da história e lucraram com isso, mas isso nunca lhes conseguiu dar a tão desejada vida ao defunto. Essa vida tiveram que a ir buscar ao divino ancestral da Europa e de todas as outras terras por onde passam.
Além disso e falando dos deuses propriamente, os meus deuses não são coleccionadores de almas. Não precisam de um céu cheio de pobres coitados para se sentirem acompanhados, os meus deuses só querem na sua companhia os que realmente valem alguma coisa que se aproveite. Os cristãos é que tinham a mania de levar em cruzadas exércitos de civis mortos de fome, que o único contributo que davam era o dos seus queixumes, talvez isso não fosse mais do que um reflexo do céu cristão.
«Um deus mesmo que perfeito não possui a força necessária para moldar o mundo à sua vontade»
Mas um deus perfeito saberia agir de maneira a obstar ao crescimento do cristianismo. Teria entendido que a ameaça aí vinha, e tê-la-ia acautelado, descobrindo a forma adequada de a reverter. Nem que fosse atirando um raio para cima do presépio onde Jesus nasceu.
«os meus deuses não são coleccionadores de almas. Não precisam de um céu cheio de pobres coitados para se sentirem acompanhados, os meus deuses só querem na sua companhia os que realmente valem alguma coisa que se aproveite»
Destaquei propositadamente esta última frase porque me suscita algumas questões: o que diabos é, na teologia pagã, ter «alguma coisa que se aproveite»? E essa «coisa» «aproveita-se» concretamente porquê? E tu, tens disso? Se sim, com base em que critérios o aferiste? E já agora, coisa que me parece sobremaneira importante: se um dia vocês abrirem um templo pagão, à imagem das igrejas evangélicas brasileiras, vão ter algum éforo à porta a ver (com recurso às vísceras de um peixe, imagino) se os putativos frequentadores têm «alguma coisa que se aproveite» antes de lhes franquearem a entrada?
«Não são os cristãos que dizem que os caminhos de deus são insondáveis»
Sim - mas os pagãos não. Consequentemente, aguarda-se que saia daí resposta condigna.
Se o forem, logo são melhores do que os missionários. E, assim sendo, podem obstar-lhes e derrotá-los.
O uso do termo «derrotá-los» faz pensar que foram vencidos.
Ora na verdade não o foram - e, sendo perfeitos (ou não), não necessitam que os homens lhes prestem culto, pelo que não precisam de entrar em guerra com os missionários. Se o Povo se deixa enganar, o problema está no Povo. Mas se o Povo é oprimido por um poder violento e tirânico, o problema continua a não estar nos Deuses, porque os caminhos dos homens, só aos homens compete, ou, em última análise, ao Destino.
Ora, quanto aos homens, são livres de fazer o que querem, porque se o não fossem não haveria mal no mundo, e, de resto, os Deuses, não sendo omnipotentes, não podem impedir todo o mal que existe; quanto ao Destino, os seus desígnios são insondáveis e estão acima do poder dos Deuses.
«E ser perfeito não significa ser omnipotente. Omnipotente é o Deus semita»
Quem é perfeito não erra. Se não erra, ao agir para impedir o povo a quem se revelou de seguir outra religião qualquer será decisivo,
Mas não tem de agir nesse sentido, esse é logo o primeiro ponto, até porque não precisa do Povo. É o Povo quem precisa dos Deuses, não são os Deuses que precisam do Povo.
De resto, uma coisa é não errar, outra, bem diferente, é tudo poder - e, por mais perfeito que se seja, não se pode evitar que certas coisas aconteçam quando não se controla toda a realidade. E os Deuses não controlam toda a realidade. Por conseguinte, não podem controlar toda a vivência humana, como aliás nunca o fizeram.
Ora, se o cristianismo singrou, isso significa ou que os deuses pagãos não acautelaram que o seu povo lhes permanecesse fiel, ou que os deuses pagãos inexistem. Como a primeira proposta não é verosímil...
Não é questão de não ser verosímil.
É questão de nem sequer se aplicar.
Sim, mas os seus deuses seriam perfeitos, e os missionários não são. Tivessem intervindo e não havia mestria na arte de enganar que valesse
Errado - se os Deuses pudessem impedir que as pessoas se enganassem, então seriam omnipotentes no que respeita aos feitos humanos. E, como já se disse, não o são.
«Já agora... se as igrejas se esvaziam, isso quer dizer que o Judeu Morto... perdeu o poder que tinha?...»
No dia em que houver tantos cristãos há hoje como pagãos, dir-te-ei sem pejo que o deus cristão não existe.
Ah, então a existência ou não deste ou daquele Deus mede-se pela quantidade de pessoas que Nele acredita... assim, se houver 2.000.002 de cristãos e 2.000.0003 pagãos, então nessa altura os Deuses passam a existir e o Deus cristão passa a inexistir...
Nesse caso, o Deus cristão é o único que existe no mundo, ou aliás, no mundo todo não, porque na Índia há mais hindus (pagãos) do que cristãos, logo, os Deuses hindus existem na Índia e o Deus cristão inexiste neste país... outro tanto é válido para o Japão, onde o Cristianismo é ultra-minoritário e a religião nacional é o Xintoísmo, paganismo japonês...
Mas não, as coisas não se passam assim. A existência do Divino não é determinada ou sequer condicionada pelo voto democrático.
E foi só isto que conseguiram?
Até parece que a História já acabou...
Estás com muita pressa. Ora os Deuses provavelmente não têm a tua pressa. Tu vais morrer, Eles não. Têm todo o tempo do mundo, e o número de pagãos aumenta em todo o mundo branco de dia para dia.
Essa vida tiveram que a ir buscar ao divino ancestral da Europa e de todas as outras terras por onde passam.
Ora bem. Os cristãos mesmo puramente cristãos, do tipo das Testemunhas de Jeová que até recusam celebrar o Natal, esses são meia dúzia...
A maior festa do mundo ocidental é o Natal, celebração esta que, apesar dos esforços cristãos em usurpá-la, não deixa de ter origem pagã e, já agora, um carácter marcadamente pagão, e cada vez mais.
Estou a seguir o argumento mas a relação que está a ser feita incidindo sobre o Paganismo é aplicável a qualquer situação (o anónimo deve ser ateu, o que não é nada mau e é uma posição para mim bastante lógica e respeitável... cristão não pode ser pela lógica utilizada):
* Se na Arábia Saudita os cristãos são decapitados é porque Jesus é mais fraco que Maomé e este mais verdadeiro.
* Se os Aborigenes australianos foram derrotados é porque Jeová é mais forte que os cultos ancestrais dos mesmos.
* Se o anónimo vivesse na Ibéria sob ocupação islâmica diria que o Cristianismo era falso porque tinha perdido perante o Islamismo.
* O cristianismo de Hitler é superior ao Judaísmo, e a prova está em Treblinka.
* O Paganismo Clássico era superior ao Cristianismo, os leões que o digam.
Essencialmente esta falácia contem três erros essenciais:
* É limitada temporalmente: usa o suposto "balanço" de conversões a uma dada altura (neste caso, "agora") para aferir a suposta justeza ou veracidade de cada religião, o que a torna anacrónica quando aplicada ao passado e ao futuro.
* É éticamente relativista na forma como simplifica a questão dos Deuses em forma de "protecção": se a Coreia do Norte lançar uma bomba nuclear sobre a Inglaterra quer dizer que o Juche é melhor que o Anglicanismo.
* É na sua própria concepção tingida por conceitos monoteístas relativamente aos poderes das Divindades pagãs.
Aproveito para dizer que para os Pagãos os "caminhos" dos Deuses também são insondáveis muitas vezes, bastanto para tal um conhecimento superficial da literatura clássica (isto é apenas um aparte pois não altera em nada a questão: ao contrário das religiões de "salvação" o Paganismo não é determinista).
Relativamente á questão do elitismo e requisitos posso adiantar que a simples recusa no proseletismo é já uma diferença considerável. Os templos de que fala existem para quem quer - e muitos deles existem de resto há séculos - e mais abrirão, devendo cada um saber as razões por que lá vai.
Mas um deus perfeito saberia agir de maneira a obstar ao crescimento do cristianismo.
Isso é a mesma coisa que dizer que perfeição equivale a omnipotência, e lá estamos outra vez na errada tentativa de aplicação de um conceito cristão a Deuses pagãos.
Porque, de facto, os Deuses não são omniscientes - e mesmo que possam saber o futuro, isso não significa que o consigam impedir.
Na tradição nórdica, por exemplo, Odin sabe que um dia morrerá em combate, mas não o pode impedir, porque o Destino assim o determina. Conhece o futuro e o fim do mundo, e sabe inclusivamente o que se seguirá ao fim do mundo, mas ainda assim não pode alterar nada disso.
Na tradição grega, é de lembrar que Zeus, na Ilíada, assiste à morte do Seu filho Pátroclo, mas nada pode fazer para a impedir, pois que esta estava determinada pelas Moiras, ou pelo Destino. O Rei dos Deuses tem inclusivamente poder para devolver a vida a Pátroclo, mas Hera, a Sua esposa, faz troça Dele, desafiando-O a reverter uma determinação do Destino.
Não, um Deus perfeito não pode controlar as multidões, ou então seria omnipotente ao nível humano. E nunca o foi.
A concepção pagã é neste aspecto coerente, ao contrário da cristã, que nunca conseguiu explicar como é que um Deus perfeito e omnipotente permite a existência do mal, e, já agora, o declínio acentuado do Seu próprio culto...
se um dia vocês abrirem um templo pagão, à imagem das igrejas evangélicas brasileiras, vão ter algum éforo à porta a ver (com recurso às vísceras de um peixe, imagino) se os putativos frequentadores têm «alguma coisa que se aproveite» antes de lhes franquearem a entrada?
Não - é que, ao contrário do que sucede no Cristianismo, os sacerdotes pagãos não se afirmam detentores da verdade e do conhecimento sagrado, pelo que não assumem poder ver aquilo que só os Deuses compreendem.
«Não são os cristãos que dizem que os caminhos de deus são insondáveis»
Sim - mas os pagãos não.
Os pagãos não?
Os pagãos mais ainda - aliás, os pagãos nunca na vida presumiram ser capazes de conhecer os caminhos dos Deuses. Os cristãos é que passam a vida a dizer que o Cristianismo é o único caminho para o conhecimento de Deus, mas quando alguma coisa corre mal e a sua ignorância se revela, optam por dizer que «os caminhos de Deus são insondáveis».
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