segunda-feira, outubro 11, 2004

A PRESUMIDA CENSURA CONTRA MARCELO REBELO DE SOUSA E O ESCÂNDALO MEDIÁTICO CRIADO A PARTIR DE TAL SUPOSIÇÃO

Antes de começar o essencial do artigo propriamente dito, dou voz a um palpite que li num forum do Expresso online e me parece bastante convincente:
«Eis que, quando menos se espera, os pagantes da TVI, accionistas e anunciantes, dizem: Mas que é lá isso? Então nós sustentamos esta tropa, incluindo o referido sacana, e temos que ouvir esta trampa de que não gostamos e, ainda por cima, atira salpicos para cima de nós?»
Ora, esta explicação da censura (se existiu mesmo neste caso) já faz verdadeiro sentido... Marcelo Rebelo de Sousa atirou-se com demasiada força contra os grandes empresários e estes mandaram-no calar, tendo o governo no papel de testa de ferro e bode expiatório.

Enfim, seguindo em direcção ao que mais interessa: tanta conversa por causa de um medíocre caso de birrinhas mal esclarecidas... tanta conversa sobre liberdade de expressão em Portugal, quando quem tem os miolos bem assentes entre as orelhas sabe muito bem que NÃO HÁ verdadeira liberdade de expressão neste país, dado que a própria Constituição, se por um lado consagra o direito à livre palavra, por outro manda para a prisão quem em grupo organizado promover ideais «fascistas» ou «racistas».
Ora, quem constrói e sustenta tal situação, pactua com a repressão ideológica. Não interessa se o que está em causa é ou não uma ideologia dita minoritária, o que se torna evidente é que a mentalidade doutrinalmente intolerante está lá embutida, nas mentes dos que encaram com naturalidade a proibição de certos e determinados pensamentos.

Escusam por isso de continuar armados em virgens escandalizadas quando se «suspeita» de que alguém foi mandado calar.
E parece que as virgens são muitas... como se ainda houvesse virgens a sério... desde a «direita» capitalista, com Cavaco Silva a dar o seu parecer sobre a hipotética censura, até à extrema-esquerda trotskista e totalitária de Francisco Louçã. Tantos uns como outros são na generalidade mestres ideológicos de tropas que, enquanto gritam pela liberdade, já andam assustadas com o facto de os seus oponentes também terem liberdade, por isso é que já propõem a censura (ver o blogue Afixe, por exemplo), mas só para calar os maus, naturalmente, e isto em nome da liberdade e da tolerância, exactamente, a tolerância só deve ser exercida para deixar falar os que concordam com o Bem e não os que pensam «mal».
E é tal a convicção dessa gente de que são os detentores de Todo o Bem e Mais Algum, que escrevem obscenidades mentecaptas e dogmáticas tais como as vergonhas que se afixam em certa blogaria chunga que por aí desliza. Uma das coisas que li recentemente foi que o facto de o Gladius não pensar como pensa o Afixe e o Abrupto, faz com que o Gladius não mereça sequer existir.
O que é mais grave e sintomático de uma profunda lavagem (leia-se «poluição») cerebral é que tal espécie de gente acredita mesmo que tem o direito de calar quem exprime ideias diferentes das «suas»(suas, por injecção assistida ministrada pelo Dr. Louçã nalguma sala de chuto mental instalada nalguma sede do Bloco de Es.). E o que é mais idiota é que ainda assim insistem em dizer-se defensores da liberdade e da tolerância.
São portanto o testemunho vivo de que algumas ideologias não só eliminam a coluna vertebral como além do mais ainda atrofiam o cérebro. Ou substituem-no por massa de cor diferente.

Leia-se por exemplo o que diz um dos escribas do blogue Afixe a respeito de um dos meus textos:
O que mais me choca é o facto de este jovem escrever apenas para chocar.
O sujeito que despeja uma coisa destas num blogue que não tem bolinha vermelha para prevenir os eventuais cibernautas que sejam mais sensíveis a obscenidades intelectuais deste quilate, acha mesmo que detém a verdade. Ele nem põe em causa que seja o dono do bom pensamento. Não duvida. Nem hesita. A parte do cérebro que lhe permite reflectir foi-lhe, sem margem para dúvida, retirada, para que ele nunca mais possa ter dúvida sobre a outra margem.
Por isso, ele está mesmo convencido de que quem deita por terra as tretas nas quais ele e afins acreditam, é porque «só quer é chatear».
Bem, de facto não nego que me dá um prazer visceral incomodar profundamente certo tipo de gente, isso não nego, até porque já reparei que, quando pessoal daquela laia guincha, é porque o tiro foi certeiro.
Os seus asquerosos ruídos de «indignação» são pois um bom guia para futuros disparos.
Mas daí a afirmar-se que só penso como digo que penso para os deixar babados de rancor impotente... impotente porque, por trás daquele palavreado, por vezes extenso, não há, nunca, uma única ideia, uma única contra-argumentação, nada. Até nisso eles seguem à risca o mandamento «anti-fascista» de nunca discutir com «nazis», com a desculpa oficial de que «com o ódio não se discute» a disfarçar, cada vez pior, o verdadeiro motivo de tal recusa do debate: os «antifas» têm cada vez mais medo que o povo perceba que há de facto uma via ideológica que se opõe profundamente ao modo de ver humanista e cosmopolita.
E o referido escriba do Afixe é daqueles que se esforça mesmo por manter essa versão dos acontecimentos, em cenário de papel rasca, dizendo isto:
Porque um jovem que escreve isto não tem, obviamente, nenhuma ideia em concreto... Responde apenas, qual cão de Pavlov, a um impulso niilista, e é isso que move os seus deditos gordos enquanto tecla.
trecho este que se constitui como exemplo paradigmático de uma das principais taras da esquerda: o «wishful thinking», isto é, o desejo de que a verdade seja como eles querem que seja faz com que eles acabem mesmo por pensar que a verdade é aquela que eles querem que seja. Significa isto que os afixes deste mundo foram durante tanto tempo vítimas de «lavagens» cerebrais que até já aprenderam a fazer lavagens cerebrais a si próprios.
Ou seja, ele queria mesmo que o Gladius fosse feito por um jovem nihilista, isto é, sem valores – e tal atitude da sua parte demonstra amplamente o seu próprio ridículo, pois que, em todos os confrontos ideológicos por eles próprios assinalados, no seu blogue, quem expõe realmente valores autênticos é o Gladius, enquanto eles, todos, sem excepção se limitam a insultar cretinamente e a mandar duas ou três alarvidades saloias envernizadas pelo típico snobismo intelectual esquerdista, e copo-de-leitista também, mas que, na maior parte dos casos, é figura de sapateiro a querer tocar rabecão.


7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Caro Sr. Caturo,

Sr. Caturo a constituição assenta em princípios que se julga (para quem a escreveu, reviu e votou) defendem o país de acções extremas que o possam levar por caminhos extremos. Há certos regimes e conceitos não aceites constitucionalmente, porque encerram em si conceitos que não são compatíveis com os conceitos democráticos sobre os quais se procurou fazer a Constituição Portuguesa. Caso contrário, a democracia deveria também aceitar a ditadura, o totalitarismo, a anarquia, a oligarquia, etc. A democracia não pode, simplesmente, conter no seu cerne a sua própria negação ou morte. Caso contrário, cairia o paradigma e institucionalizar-se-ia o paradoxo.

Parece-me que toda esta situação criada em redor e pelo Sr. MRS é uma encenação que esconde outras intenções. Caso assim não fosse, o Sr. MRS faria aquilo que sempre exigiu aos outros, ao longo de + de 4 anos à frente das câmaras: falaria abertamente e sem rodeios dizendo exactamente o que aconteceu e não alimentaria este jogo político com a sua mudez. Se não há da sua parte qualquer interesse politico a retirar da situação, falaria. Claro que toda a classe política aproveita para tirar benefícios e abalar o governo. Como se pode constatar a censura não tem existido, pois todos têm falado, todos têm tido espaço para falar e os únicos que não o fazem é por opção própria. Em democracia e liberdade qualquer pessoa pode insurgir-se contra palavras alheias e o outro pode defender-se, e vice-versa conforme o lado da barricada.

Exactamente aquilo que está a acontecer consigo. O Sr. está visivelmente agastado com os textos e os diálogos que manteve nos blogs que refere. Mas está a ter o seu espaço de resposta, tal como lhes respondeu no blog “deles”. Está a acusá-los exactamente da mesma forma como o acusam a si. Sem tirar nem pôr. Lavagens cerebrais, faltas de conhecimentos, faltas de argumentação, rigidez de raciocínio, açambarcamento da verdade, etc., etc. Censura, seria o Sr.Caturo não ter espaço para retorquir e acusar. Tal como censura seria se os Srs. do blog Afixe, por exemplo, não pudessem pronunciar-se e criticá-lo quanto ao que o Sr. Caturo escreve num espaço público.

O que está aqui verdadeiramente em causa é o seu orgulho ferido e a sua indignação face aos comentários que tecem sobre si e as suas ideias, e não exactamente censura ou falta de liberdade.
Cumprimentos.

11 de outubro de 2004 às 17:53:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

É pá, liberdade é coisa que não fálta......ao poder económico e político.

Al Mansor

11 de outubro de 2004 às 21:41:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Caro anónimo,

«Há certos regimes e conceitos não aceites constitucionalmente, porque encerram em si conceitos que não são compatíveis com os conceitos democráticos sobre os quais se procurou fazer a Constituição Portuguesa. Caso contrário, a democracia deveria também aceitar a ditadura, o totalitarismo, a anarquia, a oligarquia, etc.»

Péssimo argumento que cai pela base devido a dois motivos:
- primeiro, ninguém pode provar que por exemplo o racismo implique totalitarismo;
- segundo, esta Constituição permitiu sempre a existência de partidos políticos de extrema-esquerda, declaradamente apoiantes de regimes totalitários, como é o caso do PCP em relação à União Soviética. O PCP era, até há bem pouco tempo, assumidamente estalinista e Estaline não foi menor carniceiro do que Hitler, talvez tenha sido até mais sanguinário do que o referido germânico. No entanto, se alguém formasse um partido hitleriano, era preso em três tempos podendo ser condenado a uma pena de dez anos de cadeia.



«A democracia não pode, simplesmente, conter no seu cerne a sua própria negação ou morte.»

Naturalmente que pode e deve. Invocar esse princípio como pretexto para impedir a existência de partidos não democráticos é de uma desonestidade absurda. A verdadeira democracia consiste tão somente no regime em que o poder pertence ao povo - o povo é soberano - o povo é quem mais ordena - logo, o povo é a autoridade máxima na escolha do seu próprio governo. Se um grupo de iluminados que tomou conta do poder resolveu impedir o povo de votar em certo e determinado tipo de partidos, então não se vive, a partir daí, numa democracia autêntica, mas sim num despotismo iluminado: a auto-eleita «elite» é que diz ao povo aquilo que o povo pode ou não pode escolher, num gesto de paternalismo e inferiorização da vontade popular, seja por secreto desprezo para com o povo, desprezo que é aliás típico da burguesia esquerdista pedante, seja por medo de, digamos, cair do poleiro, porque o povo pode resolver votar nos «maus da fita» e então aí está o caldo entornado e cai por terra o arranjinho esquerdista ou capitalista, apátrida em qualquer dos casos.

Portanto, caro anónimo, os seus argumentos a favor da actual Constituição são uma completa falácia.


«Se não há da sua parte qualquer interesse politico a retirar da situação, falaria.«

Tudo isso é uma caldeirada futriqueira de menor importância que a oposição e os média estão a empolar por motivos óbvios.



«Como se pode constatar a censura não tem existido,»

Tem existido sim, mas só para alguns. Não para sociais-democratas, decerto.


«O Sr. está visivelmente agastado com os textos e os diálogos que manteve nos blogs que refere»

De onde tirou a ideia de que estou agastado, caro anónimo? É incompreensão natural ou vontade de que tal coisa fosse verdade?
Repare que eu não costumo sequer comentar os artigos do Afixe e de outros abortos internéticos. O Gladius não tem a função de se meter em guerrinhas blogoesféricas.
O caro anónimo não entendeu o teor dos meus dois textos nos quais cito as alarvidades mentecaptas e desonestas que aparecem escarradas no Afixe. Não se trata, ao contrário do que pensou, de um contra-ataque, mas sim de um modo de exemplificar o que quero dizer quando falo do fanatismo e da intolerância «antifas».
Há muito que conheço a mentalidade dos afixes e afins. Muito antes de conhecer sequer a internet, já os via na televisão, os ouvia na rádio e os lia nos jornais, a debitar a mesma carga de dejectos doutrinários. E, de cada vez que via um deles a exprimir-se, directamente ou, nalguns casos, por meio de programas de ficção (séries, etc.), eu pensava sempre «Até onde vão as consequências do mal que esta gente está a fazer à mente do povo?».
Quando comecei a circular no mundo virtual e a frequentar foruns, como o do sapo, por exemplo, constatei a extensão do mal: há catrefas de lacaios mentais que são autênticos produtos acabados da máquina de propaganda da comunicação sucial. Tudo o que eles escrevem, dizem e dão a entender que pensam, é tirado a papel químico das lições dos seus donos. Chega a ser pouco verosímil o modo como uns são cópias de outros. E foi isso que demonstrei ao transcrever partes do Afixe - a mentalidade que constitui o veneno que actualmente corrói o Ocidente - que, instalado nos meios da «elite», mina, à partida, o tecido intelectual e cultural dos povos europeus. É, como já disse antes e repito, uma autêntica sida política e identitária: constituem uma doença que destrói no Ocidente a capacidade de resistir ao invasor, tirando, aos europeus, a identidade, o orgulho e deixando-o de mãos atadas e incapaz de impedir a dissolução num colectivo de lama mulata.


«Censura, seria o Sr.Caturo não ter espaço para retorquir e acusar»

Não percebeu tudo o que leu.
Eu salientei que aquela gente quer censura na blogosefera.
Entende? Não disse que tal censura já existe. Felizmente, ainda não existe. Daí a preocupação de certos bem pensantes com a internet, porque os incomoda o facto de ideias diametralmente opostas às suas poderem ser divulgadas. Eles não querem mesmo que o povo perceba que há alternativas ao ponto de vista politicamente correcto.
Por isso, já falam em legitimar a censura. Sim, eles querem instituir a censura, e fazem-no com uma argumentação do mesmo jaez que o caro anónimo usa para defender o valor da Constituição.
E eu, evidencio isso, com o intuito de mostrar o que está por trás do sistema que rege o País. Por enquanto, posso dizer o que digo neste sítio, mas não o poderia dizer num jornal ou na rua. E não poderia formar uma organização que promovesse tais ideais.
E porque não?
Porque os mesmos que proibiram em Portugal, e noutros países do Ocidente, a liberdade de expressão dos «fascistas», são os mesmos que
(de)formaram as mentes dos afixes e quejandos. Estes últimos não são portanto os «irreverentes» que está na moda ser (enfim, o culto da juventude rebelde é um dos mitos da Esquerda, derivado da teoria do Bom Selvagem), mas tão somnte, repare bem, a guarda avançada do regime, isto é, os cães de guarda que vão à frente a farejar.

12 de outubro de 2004 às 00:47:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

Sr. Caturo eu tive cuidado em escrever “constituição assenta em princípios que se julga (para quem a escreveu, reviu e votou)”, e todos nós sabemos em que condições históricas foi elaborada a Constituição Portuguesa. Ela foi elaborada, assumidamente, contra o fascismo e a extrema-direita, à época os ícones máximos de regimes ditatoriais.

Se, na época em que foi elaborada, o povo assumiu a preferência pela democracia, e por ideais mais esquerda, em oposição à ditadura em que viveu durante décadas, seria absurdo que os seus ideólogos dessem abertura a uma possível decisão popular de regressar a uma ditadura ou a outro regime qualquer que não o democrático. Para eles seria negar a própria essência democrática. E não me parece que o próprio povo aceitasse uma abertura a esse nível.

Há que ter elasticidade suficiente para se entender o contexto histórico em que as coisas são feitas e vê-las à luz das motivações e das condições sociais e políticas das diferentes épocas.

Não lhe fiz qualquer prelecção ou usei qualquer argumentação a favor da actual Constituição. Limitei-me a descrever a sua realidade histórica e a forma como hoje ela ainda existe. O facto de o Sr. e muitos outros, por outras razões, a negarem e contestarem não quebra ou anula a sua validade em termos práticos.

”«O Sr. está visivelmente agastado com os textos e os diálogos que manteve nos blogs que refere» De onde tirou a ideia de que estou agastado, caro anónimo? É incompreensão natural ou vontade de que tal coisa fosse verdade?”

Bem, se o Sr. não ficou zangado e aborrecido, então foi mesmo incompreensão natural da minha parte. Dá-me sempre essa incompreensão natural quando leio coisas como: “escrevem obscenidades mentecaptas e dogmáticas tais como as vergonhas que se afixam em certa blogaria chunga que por aí desliza.” ou “O que é mais grave e sintomático de uma profunda lavagem (leia-se «poluição») cerebral é que tal espécie de gente” ou mesmo “O caro anónimo não entendeu o teor dos meus dois textos nos quais cito as alarvidades mentecaptas e desonestas que aparecem escarradas no Afixe.”. Não devo mesmo ter entendido o seu estado de espírito e o objectivo da sua resposta.

Cumprimentos.

12 de outubro de 2004 às 10:30:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

«Se, na época em que foi elaborada, o povo assumiu a preferência pela democracia, e por ideais mais esquerda,»

Correcção: quem falou pelo povo é que assumiu essa escolha de tais valores.



«em oposição à ditadura em que viveu durante décadas, seria absurdo que os seus ideólogos dessem abertura a uma possível decisão popular de regressar a uma ditadura ou a outro regime qualquer que não o democrático.»

Isto que o anónimo disse é de um total absurdo. Então o povo é que prefere abdicar de poder escolher? O povo é que acha bem não ter o direito de escolher? O povo é que quer que lhe tirem o direito de escolher?

Acha que é assim, anónimo?

As coisas que esta gente resolve meter na boca do povo sem perguntar nada ao povo... torna-se cómico - neste caso, é como se o povo dissesse aos seus iluminados governantes «afastem de nós a tentação fascista, proibam os fascistas porque senão um dia podemos ceder e acabar por votar neles...»

Pretender convencer alguém duma coisa destas é mesmo não ter o sentido do ridículo. Parece um «sketch» de Monty Python.



«E não me parece que o próprio povo aceitasse uma abertura a esse nível.«

Ah, não lhe parece... mas, pelo sim pelo não, o melhor é mesmo não deixar o povo falar e acabou... não vá «a gente enganar-se»...



«Há que ter elasticidade suficiente para se entender o contexto histórico em que as coisas são feitas e vê-las à luz das motivações»

Acima dessa elasticidade, está aquela que permite entender que os contextos históricos mudam e que, por isso, as leis por vezes também devem mudar. Ou será que o que foi determinado naquela data sagrada é igualmente sagrado?...



«Não lhe fiz qualquer prelecção ou usei qualquer argumentação a favor da actual Constituição.»

Pareceu que sim. A parte em que diz
«Há certos regimes e conceitos não aceites constitucionalmente, porque encerram em si conceitos que não são compatíveis com os conceitos democráticos sobre os quais se procurou fazer a Constituição Portuguesa. Caso contrário, a democracia deveria também aceitar a ditadura, o totalitarismo, a anarquia, a oligarquia, etc. A democracia não pode, simplesmente, conter no seu cerne a sua própria negação ou morte. Caso contrário, cairia o paradigma e institucionalizar-se-ia o paradoxo.»
era uma defesa da Constituição. Ainda bem que, afinal, não o é... fica feita a correcção.



”«O Sr. está visivelmente agastado com os textos e os diálogos que manteve nos blogs que refere» De onde tirou a ideia de que estou agastado, caro anónimo? É incompreensão natural ou vontade de que tal coisa fosse verdade?”

«Bem, se o Sr. não ficou zangado e aborrecido, então foi mesmo incompreensão natural da minha parte. Dá-me sempre essa incompreensão natural quando leio coisas como: “escrevem obscenidades mentecaptas e dogmáticas tais como as vergonhas que se afixam em certa blogaria chunga que por aí desliza.” ou “O que é mais grave e sintomático de uma profunda lavagem (leia-se «poluição») cerebral é que tal espécie de gente” ou mesmo “O caro anónimo não entendeu o teor dos meus dois textos nos quais cito as alarvidades mentecaptas e desonestas que aparecem escarradas no Afixe.”. Não devo mesmo ter entendido o seu estado de espírito e o objectivo da sua resposta.»

De facto, não tinha entendido não. Espero que agora tenha percebido, sobretudo com a segunda das minhas frases por si citadas.

12 de outubro de 2004 às 13:56:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

E como é que na nossa democracia se põe o povo a falar? Não é através daqueles que o povo aceita como seus porta-vozes? Não me lembro de ver o povo a opor-se aos mentores da Constituição ou àquilo que foi engendrado como Constituição. A democracia que temos, é a que temos, enquanto a tivermos. Não se revê nela, não se sente representado, paciência. Fale com o povo e ponha-o a falar. Pode é não gostar muito do que o povo tem para lhe dizer, mas paciência. O Sr. é que não pode presumir que, pelo facto de não se rever, nem gostar da Constituição, ela não seja aceite, no geral e maioritariamente, pelo povo.

Sr. Caturo não seja tão terra a terra, porque o Sr. parece-me ser um pouco mais sabedor destas coisas do que, por interesse, quer fazer crer. Absurdo seria, numa situação de revolução contra uma suposta ditadura fascista, o povo ainda se sentir no espírito benfazejo de exigir que os fazedores da constituição deixassem em aberto a hipótese de um dia o povo acordar com vontade de chocolate quente e de uma ditadura, para variar. Tal e qual como foi aquando da implantação da república. Os republicanos vitoriosos e o povo que os apoiou foram uns queridos absurdos e deixaram em aberto a hipótese de a monarquia regressar, foi? O povo não prefere abdicar de escolher. O povo prefere escolher cortar pela raiz/anular/esmagar, logo à partida, aquilo contra o qual luta. Para o povo isto é a sua escolha. O Sr. não gosta, ou pelo menos não gostou desta escolha específica? Está nesse direito. O Sr. e os que consigo comungam essa visão, também são povo. Mas, não deturpe a realidade das coisas, nem use o povo no seu todo como vítima de algo que só a vós parece afectar, mesmo sendo habitual o uso desta massa anónima de gente, como eterna vítima de governantes que nunca a ouve e que está sempre a engendrar esquemas para a calar. É uma ferramenta política, mas há que usá-la com cuidado não vá resultar no efeito contrário ao que se quer.

“neste caso, é como se o povo dissesse aos seus iluminados governantes «afastem de nós a tentação fascista, proíbam os fascistas porque senão um dia podemos ceder e acabar por votar neles...»” – Não se trata de uma tentação que o povo imaginasse um dia poder vir a ter. Saído de uma revolução e de uma contra-revolução, acha que o povo imaginaria algum dia vir a ter tal tentação? Não brinque. Trata-se de uma tentação que o povo tenta impedir que algum grupo iluminado, algum dia, venha a ter.

«E não me parece que o próprio povo aceitasse uma abertura a esse nível.« Ah, não lhe parece... mas, pelo sim pelo não, o melhor é mesmo não deixar o povo falar e acabou... não vá «a gente enganar-se»... – Pena que o Sr. não tenha aproveitado a 1ª manifestação do 1º de Maio que ocorreu em Lisboa após o 25 de Abril de 1974, para perguntar ao povo reunido se não seria preferível deixar em aberto a hipótese de um dia os seus filhos preferirem o fascismo. O novo serviço nacional de saúde recebê-lo-ia de braços abertos.

“Acima dessa elasticidade, está aquela que permite entender que os contextos históricos mudam e que, por isso, as leis por vezes também devem mudar. Ou será que o que foi determinado naquela data sagrada é igualmente sagrado?...” – Sobre a elasticidade não há acimas ou abaixos. A elasticidade é exactamente a mesma para se entender o contexto histórico em que as coisas são feitas e entender que esses contextos mudam e evoluem para outros. Já várias vozes se levantaram, recentemente, a favor da alteração de uma série de pontos na Constituição, exactamente porque já não se adequam à realidade do séc.XXI e/ou à própria integração Europeia. Inclusive já houve uns zunzuns sobre referendos a esse respeito. O Sr. tem alguma organização política que o representa? Proponham referendar o povo sobre se quer que a Constituição dê abertura a todo o tipo de regimes, especificando-os. Façam campanha de rua sobre isso, enviem folhetos para as caixas do correio. Manifestem-se à porta da Assembleia da República. Façam ouvir a vossa opinião sobre a inconstitucionalidade da Constituição Portuguesa. Só assim poderão pôr na prática o que advogam: mostrar ao povo outros caminhos, ouvir a sua voz, fazer ouvir a sua voz aos tais governantes iluminados e ver em que direcção sopra o vento.

«Não lhe fiz qualquer prelecção ou usei qualquer argumentação a favor da actual Constituição.» Pareceu que sim.” – Nessa parte esqueceu-se de um detalhe muito importante “conceitos democráticos sobre os quais se procurou fazer a Constituição Portuguesa”. 30 anos após o evento da Constituição Democrática, seria, aqui sim, um absurdo imaginar que os conceitos democráticos são os mesmos. Todavia, ainda permanece nas mentes gerais um forte entrave psicológico à sua mudança, seja em que aspectos forem.

Cumprimentos.

13 de outubro de 2004 às 12:04:00 WEST  
Blogger Caturo said...

«E como é que na nossa democracia se põe o povo a falar? Não é através daqueles que o povo aceita como seus porta-vozes?»

Naturalmente. Mas também através de referendos, tão temidos pela esquerda. Além do mais, não é democrático limitar os porta-vozes por motivos ideológicos. A partir do momento em que isto aconteça, não se pode dizer que se viva em democracia, mas sim num despotismo esclarecido desonestamente disfarçado de democrático.



«Não me lembro de ver o povo a opor-se aos mentores da Constituição ou àquilo que foi engendrado como Constituição.»

Nem eu me lembro de ver o povo a marchar ou a fazer abaixo-assinados contra a parte da Constituição, posteriormente alterada, segundo a qual o regime de Portugal deveria conduzir a uma sociedade sem classes, e, no entanto, o PCP e outros partidos comunistas nunca tiveram mais de vinte por cento dos votos.
Portanto, o facto de o povo não contestar uma parte da Constituição nada diz da vontade popular.


«Fale com o povo e ponha-o a falar.»

Ora, para eu poder falar com o povo, preciso de liberdade de expressão em grupo. Se a Constituição não o permite, porque proíbe organizações «fascistas/racistas», a sua recomendação, caro anónimo, nada tem de verdadeiro.



«Pode é não gostar muito do que o povo tem para lhe dizer,»

Eu até gosto, que bem o oiço na rua, nos transportes, em toda a parte, os senhores que fizeram a Constituição é que, pelos vistos, têm medo da opinião do povo.



«O Sr. é que não pode presumir que, pelo facto de não se rever, nem gostar da Constituição, ela não seja aceite,»

Nem eu disse isso. O que eu disse é que a Constituição não dá liberdade de expressão a uma parte do mundo político porque tem medo da opinião do povo.
E o Sr., por seu turno, também não pode presumir que o facto de esta Constituição lhe agradar, é também aceite pelo povo.



«Absurdo seria, numa situação de revolução contra uma suposta ditadura fascista, o povo ainda se sentir no espírito benfazejo de exigir que os fazedores da constituição deixassem em aberto a hipótese de um dia o povo acordar com vontade de chocolate quente e de uma ditadura, para variar»

O povo não exigiu nada disso, os autores da Constituição é que resolveram adiantar-se e impor a sua intolerância ideológica no meio da confusão. O que é realmente absurdo é imaginar que o povo se importaria com tal possibilidade, e receasse uma possível oscilação da sua própria vontade.
É sumamente ridículo e demagógico sequer supor que o povo quereria que uma parte de si, ou a totalidade, nunca pudesse votar no Fascismo.


«Tal e qual como foi aquando da implantação da república. Os republicanos vitoriosos e o povo que os apoiou foram uns queridos absurdos e deixaram em aberto a hipótese de a monarquia regressar, foi?»

Hoje, existe um Partido Popular Monárquico. Que diz disso? Acha bem ou mal?



«O povo não prefere abdicar de escolher. O povo prefere escolher cortar pela raiz/anular/esmagar, logo à partida,»

Isso é ridículo. Só teria sentido se a parte do povo que votaria nos fascistas não fosse povo mas sim alguma raça extra-terrestre ou um grupo étnico à parte. O povo não prefere nada «cortar o mal pela raiz/anular/esmagar, logo à partida aquilo contra o qual luta», porque só o povo é que pode dar legitimidade a um determinado poder político, por meio do voto. Isso que diz só teria sentido se algum partido fascista pudesse ascender sem ser por vontade popular.
O povo, aqui, é juíz todo poderoso, enquanto os diferentes partidos são como que advogados a defender a sua causa, esperando convencer o juiz da razão daquilo que afirmam.
Ora, dizer o que o anónimo está a dizer é o mesmo que dizer que o juiz todo poderoso prefere mandar calar um advogado antes que ele fale porque tem medo do poder que o advogado possa ter.... mas que medo ridículo é esse, se só o juiz pode decidir?
Assim, o povo não prefere « cortar o mal pela raiz/anular/esmagar, logo à partida aquilo contra o qual luta», ou seja, não prefere abdicar de escolher, que é o que o anónimo está a dizer que o povo quer fazer.



«Mas, não deturpe a realidade das coisas, nem use o povo no seu todo como vítima»

Eu não estou a deturpar a realidade das coisas, quem o está a fazer é o anónimo. Eu estou simplesmente a dizer que o povo não tem liberdade para escolher, e isso é um facto objectivo sem negação possível, dado que nenhum partido «fascista» pode chegar a ser julgado pelo povo; o anónimo, por seu turno, não contente com este desmascaramento, está a querer compor o ramalhete pensando que pode fazer do povo uma personagem que pensa do mesmo modo que pensa o caro anónimo.




“neste caso, é como se o povo dissesse aos seus iluminados governantes «afastem de nós a tentação fascista, proíbam os fascistas porque senão um dia podemos ceder e acabar por votar neles...»”
«Não se trata de uma tentação que o povo imaginasse um dia poder vir a ter. Saído de uma revolução e de uma contra-revolução, acha que o povo imaginaria algum dia vir a ter tal tentação?»
Então, se não imaginaria, não tem sentido algum a proibição da mera liberdade de expressão de tal alternativa.



Não brinque. Trata-se de uma tentação que o povo tenta impedir que algum grupo iluminado, algum dia,»

Isso seria o mesmo que dizer que esse grupo iluminado não faz parte do povo, o que é de uma demagogia vergonhosa. Além do mais, tal grupo de iluminados só poderia levar a água ao seu moinho se a maioria do povo neles votasse. Portanto, não há volta a dar-lhe e dizer o contrário é atirar areia para os olhos: o povo que recusasse o direito à existência de determinado partido, seria um povo com medo de cair em tentação.



«E não me parece que o próprio povo aceitasse uma abertura a esse nível.« Ah, não lhe parece... mas, pelo sim pelo não, o melhor é mesmo não deixar o povo falar e acabou... não vá «a gente enganar-se»...
«Pena que o Sr. não tenha aproveitado a 1ª manifestação do 1º de Maio que ocorreu em Lisboa após o 25 de Abril de 1974, para perguntar ao povo reunido»

Ao povo reunido, sim, aos militantes de extrema-esquerda a dirigir uma população acabada de sair de uma revolução. Ou seja, a uma minoria de marchantes. Acha que uns quantos populares falam em nome do povo todo? Já estou a vê-lo a propor uma alteração das leis democráticas – o voto deixa de ser secreto e passa a ser realizado em grandes ajuntamentos populares, de braço no ar.

Entretanto, fica claro que, para si, o ideal da democracia é uma população recém-saida de um regime ditatorial e ainda agitada pela violência de uma revolução. Esclarecedor.


«se não seria preferível deixar em aberto a hipótese de um dia os seus filhos preferirem o fascismo»

Então mas o caro anónimo não preferia, nesse caso, acabar de vez com a democracia? A sua geração votava no seu partido e pronto, deixava de haver eleições, as gerações futuras que se contentassem com o que a sua geração decidisse. Até era mais barato, que as eleições custam dinheiro. Mais barato e menos dissimuladamente desonesto, diga-se.

Mas, já que assim pensa, queria vê-lo a ir dizer que toda a gente tem a obrigação de aceitar as minorias, mesmo que estas se portem mal, a ir dizer isso ao povo de Oleiros que há uns anos se ergueu contra os ciganos da localidade. Não sei é quem é que depois o recebia: se o serviço nacional de saúde, se a morgue local.



“Acima dessa elasticidade, está aquela que permite entender que os contextos históricos mudam e que, por isso, as leis por vezes também devem mudar. Ou será que o que foi determinado naquela data sagrada é igualmente sagrado?...”
«Sobre a elasticidade não há acimas ou abaixos»

Há sim, se uns forem mais elásticos do que outros, outros esses que só se esticam até 25 de Abril de 1974 e depois adquirem uma súbita rigidez.



«Já várias vozes se levantaram, recentemente, a favor da alteração de uma série de pontos na Constituição, exactamente porque já não se adequam à realidade do séc.XXI e/ou à própria integração Europeia. Inclusive já houve uns zunzuns sobre referendos a esse respeito.»

Curiosamente, a parte da «elite» político-intelectual que se propôs a isso, nem piou sobre a censura totalitária que é imposta ao pensamento fascista e racista.



«Proponham referendar o povo sobre se quer que a Constituição dê abertura a todo o tipo de regimes, especificando-os»

Era o que faltava. Nessa altura, teria sido preciso que tivesse havido um referendo para perguntar ao povo se queria um partido estalinista em Portugal, e do resultado desse referendo dependeria a existência do PCP; deveria fazer-se o mesmo para o trostkismo do PSR-BE e, também, para o Maoísmo frontalmente não democrático do PCTP/MRPP.
O senhor anónimo acha bem que a maioria do povo decida sobre os direitos de liberdade de expressão e voto de uma minoria que é parte do mesmo povo?



«Façam campanha de rua sobre isso, enviem folhetos para as caixas do correio.»

Os poucos meios económicos que existem na ala nacionalista, estão empenhados em esforços mais práticos e de objectivo mais urgente do que esse.

15 de outubro de 2004 às 17:49:00 WEST  

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