NATAL
Ora cá está o Natal outra vez.
A celebração ocidental do Natal, deriva, pelo menos em boa parte, da antiga Saturnália, festa ritual que se iniciava em 17 de Dezembro e se realizava em honra de Saturno, Deus da Idade do Ouro e das Sementeiras; também conta o contributo do culto ao Sol Invencível, ou Sol Invictus, e da adoração de Mitra, que podia ter permanecido como o Deus mais adorado na Europa, se o crucificado não se tivesse imposto - os servidores do referido crucificado tomaram conta do festejo, usurpando o que lhes parecia útil, ou o que não conseguiam aniquilar (se não os podes vencer, junta-te a eles, e os cristãos não conseguiam destruir as celebrações solsticiais pagãs, pela Europa fora).
Quanto a mim, pessoalmente falando, o Natal começa a 1 de Dezembro, porque é o último mês do ano e já se sente a atmosfera natalícia; para os comerciantes e Câmara Municipal de Lisboa, o Natal começa nos últimos dias de Outubro, que é quando começam a brilhar, nas ruas, as primeiras iluminações natalícias. Acho que isso também é cedo demais, e desvirtua um bocado as coisas - desvirtua as coisas, isto é, ou o Natal, ou as próprias luzes de Natal, ou ambos.
É comum dizer-se que nesta quadra «há demasiado consumismo e pouco espírito autenticamente natalício».
Eu cá, gosto imenso do consumismo desta época. Para mim, a superabundância também faz parte do espírito de Natal, como acontecia na Roma antiga. Andar na rua, ao cair da tarde, e ver as lojas todas abertas, com imensa gente atafulhada em embrulhos de papel faíscante, e apreciar o fausto das iluminações natalícias, somando tudo isto ao aroma e nevoeiro das castanhas assadas, é dos maiores prazeres que se pode ter, e faz desta época a melhor do ano, sobretudo quando se chega a casa e se contempla a mágica árvore de Natal, tão simples e inalteravelmente pura, presença de todos os anos, que, vinda da infância, a transcende, porque não precisa de morrer. De facto, a árvore de natal, elemento festivo de raiz germânica, é símbolo de vida, de eixo do mundo, e as suas luzes são elo mágico com o Sol. Mudam-se ideias e modos de vida, enquanto se cresce, mas fica sempre essa amiga.
As comezainas e profusão de doces são também imprescindíveis, quanto mais melhor, em excesso, se preciso for.
E há também filmes e séries de televisão, ora alusivos ao Natal, ora relacionados, na generalidade, com o mundo feérico, sobrenatural, de fadas e duendes, e fantasias mil.
Isto é, eu é que acho que há sempre isso, porque a época é propícia (entre os antigos Germanos, esta altura do ano era perigosa porque Odin mais as suas Valquírias e os seus guerreiros fantasmas do Valhalla atroavam os céus nocturnos, em terríveis cavalgadas), porque há magia no ar; mas, na maior parte dos anos, apanho uma desilusão com a programação televisiva, e com as películas que são lançadas nos cinemas. Parece contudo que, este ano, há significativa melhoria, com o terceiro filme da trilogia O Senhor dos Anéis. Se for tão bom como os outros dois, vem mesmo a calhar.
Estreitamente ligada à abundância, estava, em temos antigos, a fraternidade. Julgo que, no pensamento antigo, a plenitude é como um estado de excelência universal, em que tudo é vida: fertilidade e amor estão assim intimamente interligados.
Por seu turno, os cristãos e seus derivados - humanistas moralistas - gostam de dizer, a respeito da fraternidade, sem «consumismo», que «isto é que é o espírito natalício!», porque não há na sua visão ética do mundo um lugar para a sacralidade do luxo e da abundância.
Eu nunca gostei de fraternidades obrigatórias. Ser forçado a sentir amor ao «próximo» que eu não conheço de lado nenhum, parece-me francamente idiota e anti-natural. E, apanhar pela frente com a tentativa daqueles que querem impingir um sentimento de culpa a quem não sentir fraternidade universal, é ignomínia inquisitorial que não admito.
Recordo-me ainda dos sermões geralmente dados aos putos sobre o exemplo de Jesus e o dever de ser bonzinho e amante do amor amoroso aos amados do mui amado outro lado do amado mundo, e eu, lembro-me como se fosse ontem, com vontade de sair daquele ambiente doentio e ir ver o Flash Gordon ou o Bombardeiro X na televisão, com mega-doses de fantasia bombástica, fulgurantes raios de morte, bordoada a rodos, naves espaciais e homens-pássaros a queimar cidades inteiras em raides desumanos a toda a brida. Que sensação de liberdade, caralho.
Não chateiem os putos com lições de caridade e amor universal à força, caros leitores. À canalha, basta dar-lhes disciplina e definir bem os limites dos seus direitos. O resto, vem com o tempo, ou não vem de todo.
Naturalmente que aprecio o ambiente de boa vontade entre todos. A cordialidade é sempre agradável. Que, numa dada altura do ano, toda a gente se mostre sorridente e amigável, não me parece nada mau.
Discordo por isso dos moralistas humanistas - outra vez esses gajos - que julgam dar grande lição de moral ao mundo quando censuram «a hipocrisia do Natal!, porque as pessoas andam o ano inteiro a morder-se umas às outras e só nesta altura é que forjam uns sorrisos!!». Quanto a mim, a hipocrisia dos outros não me afecta, já que tenho boa memória de quem é meu amigo e de quem sou amigo.
Além do mais, se se guerreia durante todo o ano, ao menos que haja uma temporada de paz e sossego. Qual é o mal disso?
Por essa razão, dou às amabilidades e sorrisos sazonais o seu real valor: servem para criar bom ambiente. Não procuro nessas boas disposições quaisquer sinais de amor eterno. Não vou a correr perguntar-lhes se já mudaram de opinião a meu respeito e passaram a adorar-me - francamente, não é coisa que me faça abalo ao pífaro. Do mesmo modo, quando vejo as luzes de Natal, não me interessa ir olhar para os circuitos e fios do mecanismo eléctrico. A complexidade do seu funcionamento não é mais real do que o esplendor que produzem. Aliás, a complexidade do seu funcionamento existe para servir o esplendor que produzem.
Bom Natal, cambada. Se me pedissem conselho a respeito do que devessem fazer, dizia-vos que enchessem o ventre de comida e, se se sentissem mal, que vomitassem, para deixarem espaço livre na barriga quando viesse a nova fornada de alimentos doces e gordurosos. Que fossem amigos dos vossos parentes e amigos, ajudando-os a empanturrar-se do mesmo modo que vocês. E, se os vossos inimigos estivessem ainda melhor do que vocês, que não se sentissem incomodados por causa disso.
A celebração ocidental do Natal, deriva, pelo menos em boa parte, da antiga Saturnália, festa ritual que se iniciava em 17 de Dezembro e se realizava em honra de Saturno, Deus da Idade do Ouro e das Sementeiras; também conta o contributo do culto ao Sol Invencível, ou Sol Invictus, e da adoração de Mitra, que podia ter permanecido como o Deus mais adorado na Europa, se o crucificado não se tivesse imposto - os servidores do referido crucificado tomaram conta do festejo, usurpando o que lhes parecia útil, ou o que não conseguiam aniquilar (se não os podes vencer, junta-te a eles, e os cristãos não conseguiam destruir as celebrações solsticiais pagãs, pela Europa fora).
Quanto a mim, pessoalmente falando, o Natal começa a 1 de Dezembro, porque é o último mês do ano e já se sente a atmosfera natalícia; para os comerciantes e Câmara Municipal de Lisboa, o Natal começa nos últimos dias de Outubro, que é quando começam a brilhar, nas ruas, as primeiras iluminações natalícias. Acho que isso também é cedo demais, e desvirtua um bocado as coisas - desvirtua as coisas, isto é, ou o Natal, ou as próprias luzes de Natal, ou ambos.
É comum dizer-se que nesta quadra «há demasiado consumismo e pouco espírito autenticamente natalício».
Eu cá, gosto imenso do consumismo desta época. Para mim, a superabundância também faz parte do espírito de Natal, como acontecia na Roma antiga. Andar na rua, ao cair da tarde, e ver as lojas todas abertas, com imensa gente atafulhada em embrulhos de papel faíscante, e apreciar o fausto das iluminações natalícias, somando tudo isto ao aroma e nevoeiro das castanhas assadas, é dos maiores prazeres que se pode ter, e faz desta época a melhor do ano, sobretudo quando se chega a casa e se contempla a mágica árvore de Natal, tão simples e inalteravelmente pura, presença de todos os anos, que, vinda da infância, a transcende, porque não precisa de morrer. De facto, a árvore de natal, elemento festivo de raiz germânica, é símbolo de vida, de eixo do mundo, e as suas luzes são elo mágico com o Sol. Mudam-se ideias e modos de vida, enquanto se cresce, mas fica sempre essa amiga.
As comezainas e profusão de doces são também imprescindíveis, quanto mais melhor, em excesso, se preciso for.
E há também filmes e séries de televisão, ora alusivos ao Natal, ora relacionados, na generalidade, com o mundo feérico, sobrenatural, de fadas e duendes, e fantasias mil.
Isto é, eu é que acho que há sempre isso, porque a época é propícia (entre os antigos Germanos, esta altura do ano era perigosa porque Odin mais as suas Valquírias e os seus guerreiros fantasmas do Valhalla atroavam os céus nocturnos, em terríveis cavalgadas), porque há magia no ar; mas, na maior parte dos anos, apanho uma desilusão com a programação televisiva, e com as películas que são lançadas nos cinemas. Parece contudo que, este ano, há significativa melhoria, com o terceiro filme da trilogia O Senhor dos Anéis. Se for tão bom como os outros dois, vem mesmo a calhar.
Estreitamente ligada à abundância, estava, em temos antigos, a fraternidade. Julgo que, no pensamento antigo, a plenitude é como um estado de excelência universal, em que tudo é vida: fertilidade e amor estão assim intimamente interligados.
Por seu turno, os cristãos e seus derivados - humanistas moralistas - gostam de dizer, a respeito da fraternidade, sem «consumismo», que «isto é que é o espírito natalício!», porque não há na sua visão ética do mundo um lugar para a sacralidade do luxo e da abundância.
Eu nunca gostei de fraternidades obrigatórias. Ser forçado a sentir amor ao «próximo» que eu não conheço de lado nenhum, parece-me francamente idiota e anti-natural. E, apanhar pela frente com a tentativa daqueles que querem impingir um sentimento de culpa a quem não sentir fraternidade universal, é ignomínia inquisitorial que não admito.
Recordo-me ainda dos sermões geralmente dados aos putos sobre o exemplo de Jesus e o dever de ser bonzinho e amante do amor amoroso aos amados do mui amado outro lado do amado mundo, e eu, lembro-me como se fosse ontem, com vontade de sair daquele ambiente doentio e ir ver o Flash Gordon ou o Bombardeiro X na televisão, com mega-doses de fantasia bombástica, fulgurantes raios de morte, bordoada a rodos, naves espaciais e homens-pássaros a queimar cidades inteiras em raides desumanos a toda a brida. Que sensação de liberdade, caralho.
Não chateiem os putos com lições de caridade e amor universal à força, caros leitores. À canalha, basta dar-lhes disciplina e definir bem os limites dos seus direitos. O resto, vem com o tempo, ou não vem de todo.
Naturalmente que aprecio o ambiente de boa vontade entre todos. A cordialidade é sempre agradável. Que, numa dada altura do ano, toda a gente se mostre sorridente e amigável, não me parece nada mau.
Discordo por isso dos moralistas humanistas - outra vez esses gajos - que julgam dar grande lição de moral ao mundo quando censuram «a hipocrisia do Natal!, porque as pessoas andam o ano inteiro a morder-se umas às outras e só nesta altura é que forjam uns sorrisos!!». Quanto a mim, a hipocrisia dos outros não me afecta, já que tenho boa memória de quem é meu amigo e de quem sou amigo.
Além do mais, se se guerreia durante todo o ano, ao menos que haja uma temporada de paz e sossego. Qual é o mal disso?
Por essa razão, dou às amabilidades e sorrisos sazonais o seu real valor: servem para criar bom ambiente. Não procuro nessas boas disposições quaisquer sinais de amor eterno. Não vou a correr perguntar-lhes se já mudaram de opinião a meu respeito e passaram a adorar-me - francamente, não é coisa que me faça abalo ao pífaro. Do mesmo modo, quando vejo as luzes de Natal, não me interessa ir olhar para os circuitos e fios do mecanismo eléctrico. A complexidade do seu funcionamento não é mais real do que o esplendor que produzem. Aliás, a complexidade do seu funcionamento existe para servir o esplendor que produzem.
Bom Natal, cambada. Se me pedissem conselho a respeito do que devessem fazer, dizia-vos que enchessem o ventre de comida e, se se sentissem mal, que vomitassem, para deixarem espaço livre na barriga quando viesse a nova fornada de alimentos doces e gordurosos. Que fossem amigos dos vossos parentes e amigos, ajudando-os a empanturrar-se do mesmo modo que vocês. E, se os vossos inimigos estivessem ainda melhor do que vocês, que não se sentissem incomodados por causa disso.
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home