quinta-feira, dezembro 11, 2003

UM DIA DE TOLERÂNCIA E RESTAURAÇÃO

Neste dia, em 361 e.c. (era comum ou cristã), ou 1114 A.U.C. (Ab Urbe Condita, ou Desde a Fundação da Cidade de Roma[753 a.c.]), ou, se se quiser, 399 da era de César (datação que vigorou nos documentos régios portugueses até ao reinado de D. João II), o Imperador romano Juliano, descendente de Ilírios e nado em Alexandria, declarou publicamente a tolerância religiosa e a restauração dos cultos antigos, iniciando assim um curto período de reflorescimento pagão e diversidade religiosa. 
Os cristãos tinha imposto o seu credo em todo o Império, alicerçados no poder político de Constantino, e Juliano, enquanto teve de dividir o Império com o seu primo, Constâncio, ocultou a sua preferência pelo Paganismo. 
Em 360 e.c., os Gauleses e Germanos do exército romano na Gália incitaram-no à revolta e ergueram-no (tinham-no em grande consideração) contra Constâncio, que mandava na parte oriental do Império. 
Assim que se tornou no único Imperador de Roma, proclamou a restauração da religião ancestral. 
Juliano morreu em combate no ano de 363, contra os Persas. Pensam uns que terá sido atingido por um dardo do exército inimigo; acreditam outros que quem o assassinou foi um dos cristãos do seu próprio exército, pois que nem todos os soldados romanos eram pagãos.

Isto mostra bem o perigo que é para qualquer Estado o desenvolvimento no seu seio de uma força doutrinária universalista e totalitária. 
Não é de admirar que os cristãos matassem o seu próprio líder em batalha não sendo esse líder cristão, pois que, para um cristão, a única e verdadeira pátria, é a celeste, pelo que as Nações existentes são de pouca ou nenhuma importância. 
A morte de Juliano trouxe o fim do seu movimento de restauração religiosa pagã, restauração essa que desagradava profundamente aos seguidores do crucificado, apostados em converter tudo e todos à doutrina do judeu falecido. Assim, a queda do imperador gentio permitiu o fortalecimento da Cristandade. 
Já aí se percebia, portanto, a fundamental incompatibilidade do Cristianismo com o Nacionalismo. 
O Islamismo, por seu turno, é, neste aspecto, como o Cristianismo, razão pela qual John Locke, na sua Carta Sobre A Tolerância, afirmava que, embora devesse haver liberdade religiosa, era necessário vigiar de perto os sequazes de doutrinas cujos seguidores possam ser levados a trair o Estado no seio do qual vivem. E deu como exemplo o caso de um súbdito islâmico de um príncipe austríaco (século XVII) que, devendo obediência política ao seu soberano cristão, tinha por outro lado um dever de obediência religiosa ao mufti de Constantinopla, que por sua vez obedecia ao imperador otomano - e, para um indivíduo verdadeiramente religioso, a religião está sempre acima da política, pelo que, no caso de ter de decidir entre trair o soberano temporal ou trair o soberano espiritual, não hesitaria em lutar do lado deste último. 
Isto é especialmente preocupante para a Europa de hoje, que está perante o radicalismo islâmico cada vez mais poderoso e militante, não apenas nos países árabes asiáticos e norte-africanos, mas também dentro dos mais poderosos paises europeus, tais como a França, a Inglaterra, a Alemanha, a Itália. A proliferação do Islão no seio dos Estados europeus, 
- quer por via da imigração, 
- quer por via da alta taxa de natalidade dos descendentes de imigrantes em solo europeu, 
- quer, até, pela conversão de alguns europeus a essa doutrina, 
é um perigo mortal para a Europa, autêntico cavalo de Tróia, dificilmente combatível, uma vez que, para enfrentar o peso de uma religião, só mesmo outra religião. 
Que outra religião? Que altar existe na Europa em condições de fazer face ao avanço do crescente verde? 
A cruz do nazareno? A cruz do nazareno é que disseminou, em solo europeu, o veneno do universalismo sem fronteiras, inimigo do espírito de raça e das correspondentes religiões nacionais. 
Os altares dos antigos Deuses? Os seus seguidores constituem ainda uma ínfima minoria, e o seu crescimento, embora constante e prometedor, não é suficientemente rápido para poder erigir-se em poder sólido e interventivo, e a sua velocidade de propagação é muitíssimo menor do que a do Islão. 
Portanto, não há, de momento, melhor arma para defender a Europa do que o combate contra a imigração.

Voltando a Juliano, foi homem marchou contra a corrente. Num mundo progressivamente dominado pelo credo do crucificado, ele ousou restaurar os cultos antigos; homem de grande cultura, recebeu na sua infância os ensinamentos, quer dos cristãos, quer dos pagãos, e sempre preferiu estes últimos. Numa época em que a moda era a cara rapada, Juliano usava barba, à maneira dos antigos filósofos, como o imperador Marco Aurélio... Juliano situava-se, filosoficamente, num âmbito neo-platónico, com influências do estoicismo. 
Após a sua morte, os cristãos retornaram ao poder, e a força da cruz oriental só voltou a ser abalada em 394, pela revolta de Arbogast, general de origem franca que levou Eugenius ao poder, tendo ambos tentado uma restauração pagã. 

Para quem quiser ler algo sobre o percurso deste imperador, 
http://www.roman-empire.net/collapse/julian-index.html 

Aqui, pode ler-se alguns dos textos religiosos escritos por Juliano - duas orações: http://www.sacred-texts.com/cla/toj/

Recomendo também, vivamente, o romance histórico «Juliano», de Gore Vidal.