domingo, fevereiro 02, 2025

CANDELÁRIA

Festeja-se hoje no folclore nacional a Candelária, Festa da Nossa Senhora da Luz ou das Candeias... o que veio substituir, pela força, antigas celebrações religiosas da Europa antiga, que na Celticidade viriam a dar o Imbolc e na Romanidade as purificações de Fevereiro e não só.
O papa Inocêncio XII escreveu o seguinte, glorificando uma possível senão provável usurpação:
«Porque é que nesta festa transportamos velas? Porque os gentios dedicaram o mês de Fevereiro aos Deuses infernais, e como no princípio disso Plutão raptou Prosérpina, e a Sua mãe Ceres procurou-A na noite com candeias acesas, assim eles, no início do mês, andavam pela cidade com velas acesas. Porque os santos padres não conseguiram extirpar este costume, ordenaram que os cristãos deveriam andar com velas em honra da Virgem Abençoada; e assim o que fora feito antes em honra de Ceres, é agora feito em honra da Virgem Maria.» (Fonte: Wikipedia)
Quanto à supracitada Imbolc, é festa céltica que tem Brigid ou Brígida como centro, Deusa dos Rebanhos mas também do Fogo, dos Ferreiros, da Poesia, das Curas. O termo «Imbolc» parece vir do céltico irlandês ou goidélico «na barriga», referindo a gravidez das ovelhas. Trata-se pois de uma ocasião de exaltação da luz nascente, a vinda, ainda longínqua, da Primavera. Pode ser lido mais sobre esta Divindade, e a provável celebração de Imbolc na Hispânia céltica, neste tópico: http://gladio.blogspot.pt/2009/02/imbolc-2009-e-celebracao-de-juno-e-de.html, que refere, entre outras coisas, o santuário-calendário rupestre de Ulaca, na Vetónia, paredes meias a leste da Lusitânia. No que toca a Brígida, Cujo nome poderá ter como versão alternativa Brigântia, que talvez tenha dado o nome a Bragança, habitada pelos Brigantinos, bem como a Bregenz (Áustria) e à antiga tribo dos Brigantes (situados onde hoje é o norte de Inglaterra), é valiosa a série de pormenores que uma investigadora portuguesa encontrou a respeito da possível presença de elementos referentes a esta Deusa no Lumiar, como aqui foi noticiado: http://gladio.blogspot.pt/2012/06/brigida-no-lumiar-celticidade-sagrada.html
Aqui há tempos embarquei numa proposta que circulava na Internet para que se compusesse um poema em honra de Brígida e saiu-me o seguinte, por causa da Sua potestade sobre a gravidez, a protecção do lar, a própria fortaleza do mesmo («-briga» é terminação de várias cidades-fortificações da Hispânia romana de fundo céltico, como por exemplo Conímbriga, Miróbriga ou Talábriga), além do Seu carácter trinitário, e do Fogo e dos Ferreiros, e das Alturas, e da Luminosidade sobre o espírito, e da saúde, e da Via Láctea... :
Abriga nos ventres a vida
Abriga o lar e o berço
Abriga e nunca é vencida
Senhora que é una em terço
Rútila face, semblante d'alvor
Brilho que o espírito acende
Eleva o olhar ao Singelo Fulgor
Cintila no Alto e entende

Láctea corrente virtude

À pala, grei e saúde
Visão de cristal rompe o véu
Do tempo debaixo do céu
Ouve, Brigit,

Sopro de luz hiperbórea
Vibrante chama marmórea
Primeva nos baluartes
Rainha da Forja e das Artes

Do Castro Celeste que guarda tesoiros
Riquezas da alma mais ferros e oiros
Mestria do verso e do aço
Conduz aquilo que faço...


Há entretanto quem diga que neste dia 2 se honrava também Juno Februra, Deusa Celestial da Paixão e dos Prazeres.


sábado, fevereiro 01, 2025

... COMEÇA FEVEREIRO...

Fevereiro, altura propícia para os rituais purificatórios da cidade e para honrar os mortos, antes do início do novo ano (Março, no calendário romano mais arcaico, de dez meses). O seu nome pode derivar ou de Fébruo («Purificador»), confundido por alguns com o Pai Dite, mais conhecido por um teónimo de origem grega, Plutão, Deus dos Mortos e do Inferno (não no sentido maligno que o Cristianismo lhe dá), ou de Febris, Deusa romana da febre, ou ainda de Fébrua, epíteto de Juno como Deusa das Purificações, eventual esposa de Fébruo ou Februus.
Juno
Sérvio escreve o seguinte:
«duo mensis a Iano et Februo nominati sunt. Februus autem est Ditis Pater cui eo mense sacrificabatur», ou seja, «dois meses (Janeiro e Fevereiro) receberam o nome de Jano e de Fébruo. Este, porém, é o Pai Dite (Dis Pater), ao Qual se fazem sacrifícios neste mês.» (in «Mitologia e Religião Romana - Dicionário Mítico-Etimológico», de Junito Brandão, editora Edunb).
Pai Dite ou Dis Pater significa, à letra, o «Pai Rico», porque as profundezas são a fonte das riquezas (alimentos, pedras preciosas). O nome grego Plutão, ou Pluton, significa o mesmo, «Rico».

Segundo Júlio César, na sua obra «A Guerra das Gálias», os Gauleses acreditavam ser descendentes de Dis Pater (interpretatio romana), o que pode ou não tratar-se de uma confusão com algum Dies Pater céltico, dada a semelhança do teónimo: de notar que o próprio Varrão, famoso autor romano, considerava que, passo a citar (Brandão, op. cit.), «dives a divo qui, ut deus, nihil indigere videtur», ou seja, «dives (rico) origina-se de divo (céu) que, como deus, parece não carecer de coisa alguma
Para se dirigirem a Dis Pater, as pessoas batiam com as mãos na terra; a este Deus sacrificavam-se cordeiros negros, e quem o fazia desviava a cara. Tendo poucos adoradores, o Deus tem igualmente poucas estátuas, tanto em Roma como na Grécia. Nesta última, a Sua consorte é Perséfone, que em Roma Se chama Prosérpina. A esposa do Dis Pater céltico poderá ou não ser Aerecura, que por acaso parece ter semelhanças com a lusitana Ataegina, à Qual, note-se, foi associado o nome de Prosérpina (interpretatio romana).
Plutão, acompanhado por Cérbero, cão tricéfalo guardião do Inferno

Seria Endovélico o Dis Pater «lusitano»? Logo se vê o que é que se descobre nos próximos tempos em Terena... Recentemente foi aí encontrada uma estátua, sem cabeça, e com um enorme haste na mão, que a equipa de arqueólogos julga ser uma lança. Mas nem todas as hastes compridas têm de ser lanças, como na imagem acima se constata.