UCRÂNIA, PALESTINA E TERCEIRO-MUNDISMOS
Um certo Marcos Pinho de Escobar, latino-americano, resolveu dizer isto:
«Como eliminar a tensão nervosa provocada pela guerra russo-ucraniana? Um bom método é fazer de conta que Putin é Barack Hussein Obama e a Ucrânia é a Síria, o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, o Yemen, a Somália ou o Paquistão. O alívio é imediato. Outra hipótese com excelentes resultados é trocar a Rússia pela NATO e a Ucrânia pela Sérvia. Se, ainda assim, persistir algum “stress”, existe um último recurso: é imaginar que a Ucrânia é a Palestina.»
É detalhada sequência de recomendações, revela boa capacidade de memorização. Só não tem é pinga de honestidade ou decência. Comparar a Ucrânia com a Síria, o Iraque, o Afeganistão, a Líbia, o Iémen, a Somália ou o Paquistão é esquecer os pormenorzitos de que
- nenhum dos citados países muçulmanos foi invadido para se lhes ROUBAR território;
- ao contrário de praticamente todos esses países muçulmanos, não partiu da Ucrânia nem invasão militar nem movimento terrorista;
- todos os supracitados países muçulmanos são hoje soberanos e estão livres de intervenção militar ocidental, ao passo que a agressão à Ucrânia, para além de ser feita para sacar mais de um quinto do espaço aos Ucranianos (na melhor das hipóteses), também lhes quer impor limitações políticas subalternizantes na sua própria terra...
O mesmo se aplica à comparação com a Sérvia, mutatis mutandis.
Podia a pretensa lição de moral acabar por aqui e já fazia má figura que chegasse.
Mas não. O rosário do rancor anti-ocidental não estava ainda todo rezado. Faltava-lhe, aliás, a joia da coroa, por assim dizer...
Como verdadeira voz terceiro-mundista, tinha, porque tinha, de a seguir falar na Palestina, donde partem ataques terroristas contra um Estado soberano desde há décadas. Com efeito, a Ucrânia é incomparavelmente mais parecida com Israel do que com a Palestina. A diferença entre a pátria de Kyiv e a de Telav... Jerusalém, está na relação de forças, não na ética. Israel tem, por enquanto, a sorte de poder defender a sua existência e legitimidade nacional de uma maneira que não está ao alcance da Ucrânia. Sucede, portanto, que, nos seus respectivos contextos, Israel é o lado mais forte e a Ucrânia é o lado mais fraco. No que mais interessa, todavia, encontram-se no mesmo lugar. Tanto Israel como a Ucrânia são Nações soberanas, mais ou menos homogéneas etnicamente (salvo umas quantas excepções) e não atacam país algum. Tanto Israel como a Ucrânia são aliados naturais do Ocidente (para incómodo dos Escobares). Tanto Israel como a Ucrânia enfrentam poderes imperialistas que não respeitam nem fronteiras nem Nações - no caso europeu, russo, o imperialismo é do tipo convencional, uma Nação a submeter outras, em barda, e a não admitir que qualquer delas se atreva a resistir-lhe ou então chovem logo ou brutais incursões militares ou ameaças nucleares; no caso médio-oriental, muçulmano «palestiniano», o imperialismo em causa é religioso, porque a Umah ou comunidade mundial islâmica pura e simplesmente não admite que um território que já foi conquistado, isto é, usurpado, por muçulmanos, seja reconquistado por não muçulmanos. Considerando os muslos que o destino do Islão é expandir-se a todo o mundo, ou convertendo populações ou submetendo-as politicamente se não se quiserem converter ao Islão (pelo que os não muçulmanos passam a ser dimis, ou seja, infiéis «protegidos», cidadãos de segunda, a pagar a jízia ou imposto de submissão aos seus superiores muçulmanos), pois tendo os muçulmanos mais devotos este conceito de missão universal, é para eles algo de anti-natural, monstruoso, diabólico, que o território muçulmano conquistado seja depois perdido, aquilo se calhar é como perder um filho, por isso é que ainda hoje não superaram o trauma da perda do Al-Andalus, que tinham conquistado pela força e pela força perderam diante do poder militar superior dos Hispano-Gótico-Romanos, ancestrais directos das actuais pátrias ibéricas... por isso é que ainda hoje nutrem pela Índia hindu um ódio imenso, porque os Hindus não só travaram a conquista muçulmana da Índia, como ainda por cima recuperaram a maior parte do território perdido, o que faz com que hoje o Paquistão domine muito menos espaço e gente do que a Índia, porque, aquando da partição hindustânica, os muçulmanos não tinham mais força do que aquela que lhes valeu apenas a posse de quatro províncias do Hindustão... e, claro, por isso é que ainda hoje não se conformam com o surgimento do Estado de Israel e lhe chamam «nakba», ou «desastre», repare-se que nakba não é a morte de mulheres e crianças, não, nakba é a simples existência de um Estado soberano não muçulmano num território que os muçulmanos davam como seu por o terem conquistado...
Que sirva de aviso aos adormecidos para perceberem o que é uma Europa sem forças militares para se defender de poderes e juízos oriundos de paragens onde se respeita a força acima de tudo.
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