LIBERAIS AO ATAQUE, PIRATAS NA COSTA

O descaramento do chefe dos Liberais em debate recente atinge o ponto caricatural do discurso da sua tropa. É pessoal que faz tudo para entregar o serviço de saúde a privados mas que quer financiamento estatal para o sector privado, o que pode parecer ridiculamente contraditório, mas não é...

E não é porquê?

Não é porque, na sua perspectiva da vida, tudo é um jogo, mais concretamente a jogatina de ver quem saca mais carcanhol ao mais despreparado; qualquer dos seus seguidores concordará com o princípio da «sobrevivência do mais capaz», puro darwinismo social. Ora, se o Estado não é capaz de defender o dinheiro do povinho, olha, azarucho do povinho - o mais competente jogador privado, habituado desde o berço a ir buscar o dinheiro onde for possível sacá-lo, irá obviamente sacá-lo ao Estado - e a «culpa» não é dele, é do povinho e dos administradores do Estado que não sabem zelar pelo que é seu... Assim se explicam as fabulosas parcerias público-privadas, grande feito do intelecto liberal tuga: num país que tinha, nos anos setenta, uma constituição claramente socialista, e onde nos anos oitenta havia mais e mais sindicatos a berrar constantemente, pois num país destes os privatas ou piratas do sector privado conseguiram dar de tal maneira a volta à situação que alcançaram um inverosimilmente belo negócio em que os lucros são para os privados e os custos são para o Estado - há que convir, é obra, obra-prima da esperteza saloia mas eficaz.

Para cúmulo, o dito liberal ainda mostrou o mapa europeu com os países cujo sistema de saúde é o que estes liberais dizem defender - barraca das barracas, nesse mapa está a Hungria, que já tem cerca do dobro dos mortos por covid que tem Portugal e que, recentemente, tornou obrigatória a vacinação dos profissionais de saúde e o uso de máscaras em todos os espaços fechados...