quarta-feira, agosto 01, 2018

A CHINA A INFILTRAR-SE EM ÁFRICA... BORRIFANDO-SE PARA OS DIREITOS HUMANOS

O analista espanhol e especialista em assuntos africanos Sebastián Ruiz-Cabrera analisa, na entrevista à Sputnik Mundo, a influência crescente do país asiático no continente africano.
No contexto da influência crescente da China na África, Pequim abriu em 12 de Julho em Burkina Faso a sua embaixada, logo após este país ter rompido em Maio as relações com Taiwan. Hoje, somente a Suazilândia reconhece diplomaticamente Taiwan. Burkina Faso é um dos 14 países que adoptaram o yuan como moeda principal para o intercâmbio comercial, fazendo concorrência ao dólar e ao franco africano.
"Efectivamente, a China, como grande potência, necessita de recursos para manter a sua actual onda de crescimento. E esses recursos encontram-se, sobretudo, no continente africano", ressaltou Sebastián Ruiz-Cabrera à Sputnik Mundo.
O especialista adicionou que a China actua em África com base na política de não ingerência, o que põe muito nervosas as chancelarias europeias, que chegam com a carta dos direitos humanos ou do meio ambiente. A China, ao que parece, tem outras prioridades na hora de fazer negócios.
À primeira vista pode parecer que nada diferencia a China de outros países que estiveram presentes em África durante séculos. Mas, para Ruiz-Cabrera, essas diferenças existem e são decisivas.
"Sobretudo na década dos 60, com a política cultural de Mao [Tsé-Tung], teve lugar o envio maciço de professores, médicos e agentes culturais", destaca o entrevistado, o que definiu como "uma relação do tipo cooperação Sul-Sul. Quer dizer, mais de igual a igual, e não só em termos económicos. E isso ainda perdura", reforçou.
Por outro lado, depois do período das independências africanas (1957-1965), as potências que dominavam na região na época colonial e as que surgiram depois do fim da Segunda Guerra Mundial como, por exemplo, os EUA, sempre cultivaram uma "postura de superioridade" nestes países.
"Na década dos 60 e até hoje em dia, em cada golpe de Estado tínhamos grandes metrópoles como Inglaterra, França ou EUA tentando manobrar de alguma maneira para colocar no poder presidentes que fizessem o jogo das suas políticas", acrescentou.
Neste contexto, a alternativa da China parece muito mais atraente do que a ocidental, já que "há alguns anos atrás, a África só podia fazer negócios com a Europa e agora tem uma opção", opina o especialista.
Desde a vitória de Emmanuel Macron em Maio de 2017 na França, a antiga potência colonial retomou o interesse pelo continente, ao mesmo tempo que os EUA também começaram a dar tais sinais.
Para o analista, "Macron e Trump se movem porque sabem que a China, com este outro tipo de diplomacia, se tinha movido muito silenciosamente, mas o silêncio acaba-se e vemos que a China já é o principal parceiro económico do continente", resumiu Sebastián Ruiz-Cabrera.
*
Fonte: https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2018080111851848-china-africa-influencia-estrategia-ocidente/

* * *

Ontem, como hoje, e provavelmente amanhã, só mesmo o Ocidente é que se preocupa com os direitos humanos, o que, a pouco e pouco, vai cimentando a fronteira civilizacional entre o Norte, isto é, o mundo dito ocidental, e o Sul, onde as ideias de Liberdade e Igualdade só existiram para combater o domínio europeu, pouco ou nada para reger as relações entre os nativos...