segunda-feira, julho 30, 2018

KLEINFONTEIN, UMA COMUNIDADE BRANCA NA NOVA ÁFRICA DO SUL

A África do Sul, país que viveu um regime de segregação racial por toda a segunda metade do século XX, parece estar a voltar à voragem de discriminação – mas desta vez contra os brancos. A Sputnik Brasil viajou para uma comunidade de bôeres, que fazem parte do grupo étnico dos Africâneres na África do Sul, para descobrir como é que vivem.
Situada a quase 70 quilómetros da capital administrativa da África do Sul, Pretória, a pequena comunidade de africâneres, Kleinfontein (Pequena Fonte, em Português), costuma suscitar acusações de "racismo dos brancos" nos média internacionais e até serve como objecto de vários mitos sobre a "intolerância" dos residentes locais para com os representantes de outras raças e crenças.
Porém, para entender o que na realidade se está a passar neste povoado, e com todo o Povo Africâner em geral, basta considerar essa situação de modo um pouco mais atento.
Origens de Kleinfontein
Logo na entrada da povoação, aparece um monumento em cimento com palavras escritas na língua africâner: "Ons God Ons Volk Ons Eie" (Nosso Deus, Nosso Povo, Nossa Propriedade).
Para mais, a entrada de Kleinfontein desfruta do seu próprio banco, serviço de entretimento (aluguer de DVDs), cafetaria e restaurante. Foi nesse ponto, após passar pelos "guardas fronteiriços", que nos encontrámos com Dannie de Beer, membro do Conselho de Administração da comunidade.
Nosso guia e africâner orgulhoso, Dannie, está vestido com um casaco tirolês que lhe foi oferecido pelos seus amigos de Bolzano (ou Tirol do Sul), que, nas suas palavras, expressam o seu apoio à comunidade africâner por eles mesmos serem uma nação dividida entre vários territórios (Áustria e Itália) ao longo dos anos.
Logo à partida, Dannie mostra-se uma pessoa muito hospitaleira e pronta para responder a quaisquer perguntas que surjam, porém lamenta a quão preconceituosa costuma ser a cobertura jornalística em relação a Kleinfontein.
"Eu acho que uma das razões pelas quais Kleinfontein, o Povo Bôer, o Povo Africâner, não tem tanto sucesso é, em grande parte, a postura dos média, que simplesmente diz: 'É um assunto racista.' A componente cultural não recebe nenhuma atenção dos média. Acolhi numerosos jornalistas aqui, estes passavam um dia inteiro comigo, falava-lhes de tudo e no dia seguinte eles lançavam um artigo dizendo 'enclave racista de brancos'…", conta Dannie ao propor-nos um pequeno-almoço típico e um copo de chá tradicional sul-africano.
Ele tem estado presente em Kleinfontein logo desde o início da comunidade, ou seja, desde o ano de 1992, dois anos antes do fim do regime do apartheid, e hoje em dia participa na administração do povoado, tem uma moradia aqui e conhece cada residente pelo nome.
"Somos um território de propriedade comunitária, isto é, a propriedade inteira pertence a uma empresa [e quando você compra imóveis aqui], torna-se accionista desta empresa", esclarece Dennie.
No total, Kleinfontein ocupa 800 hectares de terras e, como assegura um dos seus fundadores, não perde a oportunidade de expandi-las quando aparecem algumas propostas de venda por perto. O povoado apareceu entre 1992 e 1993, na mesma época que surgiu Orânia, outra comunidade de africâneres na África do Sul que até tem a sua própria bandeira e moeda.
Porém, existem várias diferenças entre estas duas comunidades, conta Dannie: "Começámos de modo muito diferente deles, naquele momento Mandela estava prestes a ser libertado, e não era o momento certo para um africâner fundar um povoado por si mesmo fora de Pretória. Nessa altura deixámos estar, estava muito calmo. O desenvolvimento foi muito calmo, o marketing foi muito calmo. Não fizemos muito marketing porque não queríamos provocar qualquer alarme", recorda.
Para que precisam os africâneres deste tipo de comunidade?
De acordo com Dannie, a comunidade baseia-se em vários fundamentos, um dos quais é a língua materna dos residentes locais, que é o Africâner. Hoje em dia, é considerado oficialmente como um dos idiomas oficiais da África do Sul, porém, está cada vez mais ausente nas estruturas institucionais e estabelecimentos de ensino.
"Os alicerces de Kleinfontein são a cultura africâner, sua herança, sua história, a língua… Somos 100% cristãos divididos, talvez, entre vários ramos do Cristianismo. Eventualmente, terá dois ou três católicos", diz Dannie. "Assim, o primeiro componente é a cultura."
Já o segundo componente, de acordo com o nosso guia, é o fato de os residentes locais "trabalharem para eles mesmos".
"Toda a era do apartheid pode ser resumida em que os Africâneres e outros representantes da raça branca usavam os negros para fazer todo o trabalho, mas recusavam conceder-lhes terras, direito de voto, etc. Aqui temos tudo exactamente ao contrário, reservamos todo o emprego para os Africâneres e toda a ideia consiste em que as pessoas que cultivam a terra a possuem", afirma o interlocutor da Sputnik Brasil.
Dado que, para muitos, a intenção dos Bôeres de se concentrarem em comunidades fechadas fora das grandes cidades parece um "assunto racista" e uma tentativa de "fazer o país voltar à época do apartheid", Dannie faz questão de esclarecer a sua visão de Kleinfontein, destacando os problemas mais urgentes na sociedade sul-africana de hoje em dia.
"O nosso objectivo é de facto o mesmo — é um porto seguro para um africâner, porque na nova África do Sul a herança de Nelson Mandela não contribui para o bem-estar dos Africâneres. Sentimo-nos muito alienados e desligados da nova África do Sul, as leis são contra nós", desabafa. "Sou um homem branco, se abrir um jornal sul-africano para procurar trabalho, vai provavelmente aparecer-me a chamada posição de acção afirmativa, o que quer dizer que se você é branco, não pode ficar com o emprego. Meramente pelo facto de ser branco. Portanto, é uma atitude completamente racista na nova África do Sul", racionaliza o entrevistado.
Segundo Dannie, passadas mais de 20 décadas do fim da segregação racial, o Africâner continua a ser visto como a língua do opressor, e os seus falantes nativos são considerados na maioria dos casos como "opressores, agressores, pessoas que inventaram o apartheid".
"É por isso que os lugares como Kleinfontein e Orânia existem", explica.
Vida quotidiana em Kleinfontein
Já que Kleinfontein fica tão perto de outros povoados, é muito difícil ser economicamente activo aqui, narra Dannie, tanto mais que as terras são de facto pouco propícias para a agricultura.
"Esta é uma diferença grande entre nós e Orânia, eles são mais auto-suficientes", reconhece.
Assim, os residentes da comunidade decidiram apostar mais na área de serviços e propriedade intelectual. Kleinfontein desfruta de grande número de especialistas em várias esferas que, porém, precisam de viajar uns quilómetros do seu povoado para ir trabalhar em instituições por perto, pois a cidade ainda não possui uma estrutura verdadeiramente desenvolvida.
"Trata-se mais de propriedade intelectual do que componentes físicos. Temos muitos engenheiros, temos muito médicos, temos cirurgiões. Temos muitos académicos… A respeito do elemento agrícola, […] somos mais uma área residencial do que uma comunidade fazendeira", diz, adiantando que nesta cidade pequenina de 1.500 habitantes há quatro neuro-cirurgiões de alta qualificação que trabalham em hospitais nas proximidades.
Porém, Kleinfontein parece ter lugar para qualquer bôer — embora seja pequena, divide-se em bairros diferentes, uns "de luxo" e outros muito mais humildes. Os preços do aluguer aqui são acessíveis a qualquer um — um quarto custa a partir de 75 euros por mês e uma casa — a partir de 190 euros por mês.
Além disso, os residentes fazem tudo para não depender do mundo exterior em questões de energia, abastecimento de água e construção civil.
"Temos uma escola, uma câmara municipal, tudo o que pode ver aqui foi construído por africâneres. A construção é a nossa indústria muito forte. Os africâneres, de facto, trabalham. Se viajar pelas outras partes da África do Sul, vai ver que o trabalho fica mais para os negros", conta.
Enquanto todo o país, especialmente a Cidade do Cabo e Johannesburgo, estão a viver uma grave crise de escassez de água, com placas em hotéis pedindo para reduzir o tempo do banho a 3 minutos e cortes em bairros inteiros que duram vários dias, Dannie assegura que Kleinfontein nem sequer está a sentir este tipo de problemas.
​"Temos por volta de 17 quilolitros por pessoa por mês. O consumo em Kleinfontein é muito baixo. Somos muito dependentes da época da chuva. Sim, temos as nossas restrições próprias em relação à água […] Mas nunca tivemos cortes dela […] Agora estamos em meados de Inverno, é a nossa época do ano mais seca, mas não temos nenhumas restrições. Posso irrigar o campo de rugby, encher a piscina, somos menos vulneráveis [que as cidades de fora]", pormenoriza.
Relembra ainda que quando Kleinfontein foi fundada, isto é, há 22 anos atrás, havia consumo tão pequeno de água que os residentes até a vendiam para os supermercados mais próximos.
A Internet também é algo que faz parte integrante na vida dos bôeres em Kleinfontein. Mais que isso, eles próprios montaram a sua infra-estrutura para a rede.
"Produzimos Internet para as pessoas em torno de 80 quilómetros daqui, porque temos qualidade bem alta. Alguns destes aparelhos transmitem até para 100 quilómetros de distância", narra.
Evidentemente, esta política de buscar a maior auto-suficiência possível tem a ver com o conceito de "Volkstaat", traduzido como "Estado do Povo" — um projecto africâner que consiste na criação de um Estado separado dentro da África do Sul.
"A nossa ideia é funcionar como se fossemos um Estado independente", diz Dannie sorrindo. "Tudo o que podemos fazer por nós mesmos, fazemos."
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Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: https://br.sputniknews.com/oriente_medio_africa/2018073011837877-africa-do-sul-africaneres-boer-racismo-kleinfontein/

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Quando viste os comentários desta reportagem,chega a dar ânsia de vômito,como estes negros São racistas,na minha opinião,por mais isolado que possa estar esta comunidade,a medida que a situação da África do sul se deteriora mais os líderes negros vão querermos terra dos brancos para aliviar as tensões,e esta comunidade mais cedo ou mais tarde pode ser invadida pelos negros,na minha opinião,estes africâner devem se dirigir para a Rússia e dar um dane se para estes negros,que eles more de fome.

1 de agosto de 2018 às 00:18:00 WEST  

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