segunda-feira, julho 30, 2018

A AMEAÇA DA IMINVASÃO COMO AGENTE DILUIDOR DA EUROPA

"Longe de levar à fusão, a crise migratória da Europa está a levar à fissão", escreveu recentemente o historiador da Universidade de Stanford Niall Ferguson. "Acredito cada vez mais que o problema da imigração será visto pelos futuros historiadores como a solução fatal da UE". Semana após semana a previsão de Ferguson, ao que tudo indica, está-se a tornar realidade.
A Europa não só continua a fragmentar-se à medida que o sentimento anti-imigração arrebanha força política mas também, em consequência da crise migratória, a zona interna sem fronteiras da UE, cereja do bolo mais apreciada da Europa pós-guerra, já está "ameaçada" pelo governo italiano, entre outros, como por exemplo, o governo da Áustria.
A imigração também está a redefinir o contrato intra-UE.
O assim chamado "Grupo de Visegrado" formado pela República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia, recentemente exigiu a defesa das fronteiras da UE. "Temos de ter uma Europa capaz de nos defender". O chanceler austríaco Sebastian Kurz salientou a mesma coisa, ao ser convidado a participar do encontro de Visegrado.
O novo governo populista de Itália também abraçou a política linha dura, depois que Itália testemunhou a chegada de mais de 700 mil imigrantes ao seu litoral nos últimos cinco anos. O ministro do interior da Itália Matteo Salvini recentemente fechou os portos de Itália às embarcações com imigrantes. Na Alemanha, após a chanceler alemã trocar farpas, no tocante à imigração, com o ministro do interior Horst Seehofer, a política sobre os imigrantes também poderá levar ao "fim do mandato de Merkel".
"O novo governo populista de Itália sinaliza um enorme desafio ao status quo europeu, mas não no aspecto que a maioria dos observadores previa no começo", comentou recentemente o autor Walter Russell Mead no The Wall Street Journal. "O governo de coligação suspendeu o desafio à política do euro. Optou por se voltar para uma matéria sobre o qual o establishment europeu é mais vulnerável: a imigração".
O consenso político europeu, como um todo, está-se a fragmentar sob o impacto sísmico da onda de imigrantes. A imigração para a Europa tornou-se num problema político "delicado como sempre", conforme acaba de salientar o New York Times em relação ao debate que está a ocorrer na União Europeia. O presente problema da UE aparenta vir de uma dormência que tomou conta das elites políticas que se recusam a levar em conta os problemas dos seus cidadãos que vieram na esteira da maciça imigração, sem nenhum tipo de critério.
A imigração em massa dos últimos anos simplesmente criou gigantescos problemas para a estabilidade interna da Europa. Primeiro houve a ameaça à segurança. De acordo com um novo levantamento da Heritage Foundation: "Virtualmente mil pessoas foram feridas ou mortas em ataques terroristas desfechados por candidatos a asilo ou por refugiados desde 2014. Nos últimos quatro anos, 16% das conspirações islamistas na Europa tiveram como pivô candidatos a asilo ou refugiados. O ISIL tem conexão directa com a maioria das conspirações", sendo a Alemanha o maior alvo e os sírios os mais frequentemente envolvidos se comparados a qualquer outra nacionalidade. Aproximadamente três quartos dos conspiradores cometem os atentados ou têm os planos frustrados, isto nos dois primeiros anos após a sua chegada à Europa ... "Desde Janeiro de 2014, 44 refugiados ou candidatos a asilo estiveram envolvidos em 32 ataques terroristas islamistas na Europa. Os ataques feriram 814 pessoas e mataram outras 182".
Há também um grave desafio à coexistência étnica e religiosa proveniente da imigração. Os judeus franceses são vítimas de um tipo de limpeza étnica segundo um manifesto assinado, entre outros, pelo ex-presidente francês Nicholas Sarkozy e pelo ex-primeiro-ministro francês Manuel Valls. "Dez por cento dos cidadãos judeus da região de Paris foram recentemente forçados a mudarem de morada porque não mais estavam seguros em determinados conjuntos habitacionais" assinalou o manifesto. "Esta é uma limpeza étnica silenciosa".
A ameaça que a Europa enfrenta e continuará a enfrentar caso se recuse a fechar e controlar as fronteiras é examinada por Stephen Smith, especialista em África e admirado pelo presidente francês Emmanuel Macron, no seu novo livro, A Corrida para a Europa: a Jovem África a Caminho do Velho Mundo. Hoje, observa ele, 510 milhões de europeus vivem na União Europeia, 1,3 bilião de africanos estão de olho nela. "Em trinta e cinco anos, 450 milhões de europeus estarão diante de cerca de 2,5 biliões de africanos de olho nela, ou seja, cinco vezes mais", prevê Smith. Se os Africanos seguirem o exemplo de outras partes do mundo em desenvolvimento como os mexicanos nos EUA, "em trinta anos", segundo Smith, "a Europa terá entre 150 a 200 milhões de afro-europeus, em comparação com os 9 milhões de hoje". Smith chamou a esse cenário "Euráfrica". A maior onda de migração da Europa desde a Segunda Guerra Mundial também se tornou um problema cada vez mais urgente, à medida que as populações autóctones da Europa continuam envelhecendo e encolhendo.
O controverso sistema de quotas para imigrantes já deu com os burros n'água. Na realidade os governos europeus também não têm condições de deportar os imigrantes. Em 2012 o Tribunal Europeu de Direitos Humanos (ECHR) condenou o governo italiano e ordenou o pagamento de milhares de euros a um punhado de imigrantes deportados para a Líbia. As autoridades italianas tinham interceptado os imigrantes no Mar Mediterrâneo quando eles tentavam chegar à ilha italiana de Lampedusa vindos da Líbia. Três anos depois, o Tribunal Europeu novamente condenou o governo italiano por deportar imigrantes. O Tribunal Europeu de Direitos Humanos também condenou a Espanha num julgamento pela expulsão de um grupo de 75 a 80 imigrantes do enclave de Melilha. O ECHR então condenou a Hungria devido à detenção de imigrantes. A Europa não pode conter, deportar, deter e repatriar os imigrantes. O que sugerem as autoridades em Bruxelas? Trazer todos para a Europa?
Andrew Michta, reitor do College of International and Security Studies do George C. Marshall European Center for Security Studies, escreveu recentemente que diante dessa imigração em massa as democracias europeias arriscam as suas próprias "decomposições". Não veremos apenas a "fissão" da frágil União Europeia, veremos também a da civilização ocidental.
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Giulio Meotti, Editor Cultural do diário Il Foglio, é jornalista e escritor italiano.
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Fonte: https://pt.gatestoneinstitute.org/12778/migracao-massa-europa