segunda-feira, março 07, 2016

CINQUENTA E NOVE ANOS DE RTP


Este é mais um aniversário da RTP, que, de um modo geral, nunca deixou de ser a melhor televisão cá do burgo...
Sempre transmitiu muita merda, é certo, e programas excessivamente deprimentes que muito infernizaram os fins-de-semana, especialmente os domingos, do pessoal da minha idade e mais velho, que nos anos setenta e oitenta não tinha alternativas para consolar a mente no último dia de folga antes de mais uma semana de aulas, porrada e chatices diversas.
Não se poderiam esquecer as monumentais secas que aos domingos à tarde foram metidos pelos olhos adentro do pessoal por obra de Júlio Isidro e Luís Pereira de Sousa; ou os desagradabilíssimos desenhos animados de leste criativamente feitos à base de plasticinas em movimento, maravilha que o falecido Vasco Granja, ele próprio militante do PCP, espetava nos ecrãs, anunciando-as com aquele sorriso invariável de grande amigo das crianças que, segundo ele dizia, adoravam as cagadas que ele trazia de além da cortina de ferro.
Outra grande nódoa da RTP, esta mais grave, foi a popularização das telenovelas brasucas em Portugal. Numa época em que não havia alternativa televisiva para a esmagadora maioria da população portuguesa - só a gente das raias é que podia ver a televisão espanhola - a emissora nacional poderia ter habituado os paladares a coisas de melhor qualidade, ou pelo menos ao produto nacional, mesmo que fosse mais caro, uma vez que possuía evidentemente o monopólio dos horários nobres. Mas não - foi telenovela em cima de telenovela a partir das oito da noite ou assim, a hora em que toda a gente está em casa a jantar e a olhar para o que quer que esteja a passar pelo chamado pequeno ecrã. Depois, quando a SIC apareceu, já tinha feita metade da papa, visto que o seu contrato com a rede Globo brasuca lhe deu, logo à partida, a fatia dominante do horário nobre num país em que a população estava infelizmente viciada em anos de telenovela com sabor tropical.
Mas enfim, o saldo geral da RTP é francamente positivo. Inúmeros tesouros devem estar guardados nos seus arquivos de décadas e décadas. Dentro das suas possibilidades, limitadas pela pobreza do País, acabou por dar à população um pouco de tudo, e de muito do que de bom se fazia lá por fora, particularmente nos anos setenta, quando a produção estrangeira exibida na televisão portuguesa seria, creio, sobretudo britânica. O genérico da Thames, por exemplo, faz decerto parte das memórias colectivas da população com mais de trinta anos (e até em Espanha é assim, o que me surpreendeu, quando disso tomei conhecimento há dois anitos):





Merecem referência os nomes de séries, com carne e osso ou de desenhos feitas, que acompanharam a infância e a maturidade de milhares, até de milhões por este País fora: Sandokan, Tarzan, Sr. Feliz e Sr. Contente, Planeta dos Macacos, Espaço 1999, Blake's 7, por acaso uma das minhas favoritas de sempre, uma das minhas melhores recordações de infância, aqui fica um bom exemplo da coisa (produto recentemente arranjado digitalmente há pouco tempo, mas mantendo o saborzito dos setentas): 

,


Battlestar Gallactica, Benny Hill, os festivais da Eurovisão («Menina do Alto da Serra», a melhor de sempre, digo eu), os anúncios (o meu favorito de sempre, «WC Pato»), Buck Rogers No Século XXV, Heidi, Abelha Maia, Homem-PássaroFantasma do EspaçoEsquadrão de Ataque Espacial, Eu Show Nico, que bem pode ter umas partes fraquitas mas que por carolice merece ser recordado, até porque a sua telenovela era estupenda,


 

EuroNico, Guilherme Tell («Crossbow»), Monty Python Flying Circus, The Goodies, O Tal Canal, As Fabulosas Aventuras do Barão de Munchausen (pouca gente se lembra disto em desenhos animados), Hermanias, Era Uma Vez o Espaço (com um estranhíssimo genérico cantado penso eu pelo Paulo de Carvalho, eu nunca percebia como é que uma série em que os heróis eram polícias espaciais podia dizer na sua música que «lá em cima já não há sentinelas»...), V - Batalha Final, Homem-Aranha, Doutor FaíscaFlash Gordon, «1,2,3», The Sweeney, e mais uma enxurrada de séries, e de filmes, portugueses e não só, e outras produções, alojadas para sempre algures em tranquilos e inofensivos cantos da memória, incluindo a mais magnífica das produções de todos os tempos, toda feita pela RTP, Duarte & Companhia, em cuja constelação de ricas personagens se incluía o mais glorioso trio televisivo de sempre, Átila, Rocha e Tino:


A RTP teve entretanto a óptima ideia de criar um canal dedicado a todas as suas memórias, a RTP Memória, que, todavia, ainda não passou novamente nem metade destas riquezas. A ver vamos...

Não tranquiliza nada, por outro lado, que se fale tanto da privatização de um canal da RTP. É outra coisa que também fica por ver... e pelos vistos um ano depois tal bronquidão ainda não foi por diante. Mas nunca fiando...