segunda-feira, dezembro 28, 2015

SOBRE AS CRÍTICAS «RACISTAS» E ANTI-RACISTAS NO CASO DE UMA ACTRIZ NEGRA EM «HARRY POTTER»

Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: http://www.diariodocentrodomundo.com.br/a-insanidade-das-criticas-racistas-a-atriz-negra-que-fara-a-hermione-de-harry-potter/
*
O anúncio de uma actriz negra para o elenco da peça de teatro “Harry Potter e a criança amaldiçoada” provocou uma saraivada de reclamações de fãs da saga, inconformados com a possibilidade da actriz Noma Dumezweni interpretar a personagem Hermione Granger.
Nem a afirmação da criadora da história, J.K. Rowling, de que as descrições da personagem se resumem a “olhos castanhos, cabelo crespo e muito inteligente” e que a cor da pele “nunca foi especificada” freou a onda de queixas racistas na internet.
“Espere, Hermione negra? Você está brincando? Não faz sentido”, reclamou um internauta pelo Twitter. Outro berrou: “Hermione em Cursed Child é NEGRA? NÃO! Obrigado por destruir Harry Potter”. Várias outras pessoas dedicaram o seu tempo a fazer queixas parecidas na rede social.
As críticas, porém, não foram unânimes e houve elogios à decisão dos produtores da peça em escalar a actriz nascida na Suazilândia, um pequeno país localizado no sul da África.
Um deles foi o internauta Andrien Gbinigie, que em um tweet matador resumiu o nível de desatino de quem lamenta a presença de personagens negros em Harry Potter, Star Wars, 007 ou outras obras onde até então só brancos tinham papel de destaque. “Pessoas a reclamar por causa da cor de pele de Hermione num universo de ficção onde as pessoas montam em vassouras para desafiar a gravidade. Continuem loucos”, escreveu Gbinigie.
Só loucura mesmo para explicar essa indignação. Uns alegam que a personagem negra deturpa a obra original, outros colocam culpa na “ditadura do politicamente correcto” ou mostram-se paranóicos vendo personagens negras como sinónimo de “marxismo cultural”.
É preciso ter uma boa dose de insanidade mental para achar que o mundo vai acabar por causa de uma personagem negra numa trama ambientada numa escola de bruxaria, como lembrou Gbinigie. Ou que um negro não faz sentido num universo onde um alienígena peludo de dois metros de altura trabalha como co-piloto de uma nave espacial.
Seria mais coerente, da parte desses racistas, simplesmente admitir que odeiam os negros e que as suas características físicas estragariam as histórias que tanto admiram.
Sanidade mental e coerência, contudo, são qualidades inexistentes nos racistas. Há um vídeo (abaixo) que mostra a decepção de um neonaz americano, Craig Cobb, ao descobrir o resultado de um teste de DNA que remete 14% de sua origem à África sub-sariana.
A informação de que ele não é 100 % branco fez com que ele abandonasse as ideia de supremacia branca? Nem um pouco. Ele continua na sua louca jornada de pregação de ódio racial e divulgação de falácias como “genocídio branco”.
Pelos números de Star Wars – O Despertar da Força, que apesar da ameaça de boicote por causa do actor negro cravou a marca de maior bilheteira de estreia da história do cinema, não há motivo para os produtores cinematográficos ficarem preocupados com os racistas. O que não significa que sejam inofensivos, pois a loucura de quem se ofende com uma Hermione negra é a mesma que move neonazis como Craig Cobb e mantém o xenófobo Donald Trump em primeiro entre os candidatos do Partido Republicano na disputa à presidência dos Estados Unidos.

E isto é que mete mesmo muito medinho à malta da laia de quem escreve o artigo acima, é que o raio do povinho é mesmo, mesmo «racista»... os «racistas» afinal não são uma minoria, não são não...

Quanto ao caso de Cobb, pois efectivamente foi uma ingenuidade da sua parte sujeitar-se a uma situação daquelas, por outro lado o alegado resultado do teste revelado tresanda a aldrabice por todos os poros, trata-se apenas de uma espécie de «wishful thinking», a saber, a concretização de um sonho típico da elite político-cultural reinante: atirar à cara de um racista branco que ele não é branco a sério ou não é puro ou não sei quê. Cobb fez olimpicamente bem em cagar nisso. Aí até daria um exemplo aos demais racialistas brancos: raças puras não existem, mas existem identidades brancas e os seus defensores devem fazer o que puderem para as defender, mesmo que não sejam «puros» (e só os racialistas mais ingénuos é que julgam que são racialmente puros ou que é preciso defender a raça pura, depois é claro que a súcia antirra se aproveita disso). Cobb viria mais tarde a apresentar um novo teste, em Março de 2015, https://en.wikipedia.org/wiki/Craig_Cobb#Media_appearances_and_genetic_testing , dizendo que afinal é de origem quase totalmente caucasóide, «excepto por três por cento de uma coisa ibérica», diz ele, e aí mostra ignorância ou estupidez, uma vez que o elemento ibérico é também caucasóide, mas isso não altera o essencial do que já se adivinhava - o tipo teve verticalidade e persistência, dentro da limitação das suas referências ideológicas, e os resultados do novo teste são bem mais credíveis, quer pelo seu aspecto físico quer pelo que um blogueiro antirra já desconfiava que fosse verdade, como aqui se lê: http://www.dailystormer.com/non-white-liberal-science-blogger-says-craig-cobb-dna-results-are-a-hoax/

O que de qualquer modo interessa mais na notícia em epígrafe é a questão da colocação de uma pessoa de raça negra a desempenhar o papel de uma personagem que estava dada como caucasóide. Evidentemente que o mundo não acaba por isso nem é incoerente que uma personagem mestiça («meio-sangue», era como se chamava a Hermíone num dos filmes da saga) seja representada por uma negra ou que haja mais um jedi preto. É simplesmente foleiro, para começar. E altera o sentido de grupo que se criara em torno dessa saga - a coesão grupal naturalmente estabelecida por parte de brancos à volta de um produto de entretenimento e referência cultural que tinham como seu, como sub-produto de uma identidade étnica europeia que apesar de tudo insiste em existir. 

16 Comments:

Anonymous Anónimo said...

http://pt.euronews.com/2015/12/28/refugiados-finlandia-fecha-posto-na-fronteira-com-a-russia/

28 de dezembro de 2015 às 21:30:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

http://pt.euronews.com/2015/12/28/refugiados-finlandia-fecha-posto-na-fronteira-com-a-russia/

28 de dezembro de 2015 às 21:33:00 WET  
Anonymous Arauto said...

Se até o Beowulf tem um companheiro preto...

28 de dezembro de 2015 às 21:36:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"Quanto ao caso de Cobb, pois efectivamente foi uma ingenuidade da sua parte sujeitar-se a uma situação daquelas, por outro lado o alegado resultado do teste revelado tresanda a aldrabice por todos os poros, "

os americanos brancos, por viverem numa sociedade multiracial ha varios seculos, na sua maior parte tem antepassados amerindios, negros e asiaticos. Aqui ha tempos meteram aqui 1 link de varios povos do mundo e mostrava isso nos americanos brancos, ja tinham mistura de todos os povos.
Será o futuro do europeu branco, um branco com mais misturas e diferente do que é hoje. Para um ignorante não é nada, mas para quem esta dentro do assunto, é a diferença entre mais e melhores cientistas, sociedades brancas mais ou menos agressivas, melhor ou pior economia, mais ou menos corrupção entre outras coisas. É uma pena que estejamos a assistir a um genocidio dos povos da europa.

28 de dezembro de 2015 às 22:16:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Realmente Star Wars meteu-me muita impressão meterem la aquele negro. Se fosse outra historia, agora Star Wars. O guião provavelmente dizia que era um branco e metem la um negro. Os herois eram loiros, especialmente a familia skywalker.
Eu ja tou a ver que a Rey (filha do Luke) vai andar com o preto e no fim devem deixar descendentes. Se Anakin Skywalker teve o filho Luke Skywalker, outro heroi loiro de grandes façanhas e se Luke teve Rey, uma bonita cara europeia. Agora parece que Rey vai ter um mulato Skywalker. É o politicamente correcto.

28 de dezembro de 2015 às 22:19:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Não, ela não era "meio-sangue", era mesmo muggle, e isso não tem nada a ver com questões raciais, o que quer dizer que é incompletamente incoerente a dita personagem ser representada por uma preta. facepalm
E não compreendo que não consigas ver o grave precedente que se está a abrir com cenas destas. doublefacepalm

28 de dezembro de 2015 às 23:27:00 WET  
Blogger Caturo said...

O grave precedente já foi aberto há que tempos... e eu já expliquei onde está a gravidade, a meu ver. Já agora, a questão do sangue dos magos na série não tem formalmente a ver com questões raciais, mas seria passar da ingenuidade à cegueira voluntária não perceber ali o paralelismo e a mensagem sobre a questão racial.

29 de dezembro de 2015 às 00:51:00 WET  
Blogger Caturo said...

«Se fosse outra historia, agora Star Wars.»

Olha que a surpresa não é excessiva... a saga da Guerra das Estrelas - ou «Guerras nas Estrelas» - sempre teve uma mensagem «anti-nazi», quando não anti-racista, desde o início. Não é por acaso que os «bons» são um agregado de espécies de todo o género e feitio (por coincidência um dos comandantes da aliança é um fulano castanho de beiça grossa, olhos esbugalhados e afastados, sem nariz, o que por acaso é o mais parecido possível com um nariz achatado), enquanto os «maus» são todos, mas todos, sem excepção, brancos de tipo físico entre o oeste-europeu e o norte-europeu e nomes holandeses, que por acaso é o mais próximo possível do Alemão sem ser demasiadamente óbvio.

29 de dezembro de 2015 às 00:58:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Não interessa se já foi aberto há que tempos, o que interessa é denuncia-lo e portanto combate-lo...e a gravidade está no facto de se estar a criar precedentes que justificam os brancos não serem representados na própria cultura que criam.
Quanto ao dito paralelismo...facepalm

29 de dezembro de 2015 às 00:59:00 WET  
Blogger Caturo said...

Excepto o mercenário Bobba Fett. Mas curiosamente Bobba Fett só mostra a cara nos filmes mais recentes, quando a sua personagem já tinha atraído demasiada simpatia por parte do público consumidor.

29 de dezembro de 2015 às 01:00:00 WET  
Blogger Caturo said...

«...e a gravidade está no facto de se estar a criar precedentes»

Não se está a criar, já se criou há muito tempo, não é novidade. Quanto ao paralelismo... de facto só não vê quem quiser pôr a mão à frente da cara. :P

29 de dezembro de 2015 às 01:03:00 WET  
Blogger Caturo said...

«os americanos brancos, por viverem numa sociedade multiracial ha varios seculos, na sua maior parte tem antepassados amerindios, negros e asiaticos.»

Lá mistura têm, mas não será tanta como alguns quereriam que fosse... repara neste estudo, que ando há semanas para noticiar em tópico: http://whiteresister.com/index.php/analysis/1581-white-americans-have-remained-shockingly-european-despite-decades-of-race-mixing-propaganda

Repara sobretudo nesta parte: This means that in more recent times, this admixture rate has slowed considerably, despite a marked increase in pro-racial-mixing propaganda put out by the controlled mass media.

Contraria não apenas a propaganda e as esperanças da elite político-cultural reinante, mas também o emotivo e pouco racional derrotismo de muitos nacionalistas...

29 de dezembro de 2015 às 01:08:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Seja ou não novidade, o que interessa é denunciá-lo sempre.
O teu paralelismo não tem ponta por onde se pegue.

29 de dezembro de 2015 às 01:10:00 WET  
Blogger Caturo said...

A tua «contra-argumentação» é que é uma nulidade e não contesta nada do que digo.
Claro que o denuncio sempre, por isso é que lhe dediquei um tópico...

Em ambos os casos escapa-te o óbvio. Não surpreende.

29 de dezembro de 2015 às 18:38:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Sim, denunciaste que estão a retirar o direito aos brancos de se verem representados na sua própria cultura. facepalm

30 de dezembro de 2015 às 00:04:00 WET  
Blogger Caturo said...

Não, isso não denunciei desta vez, não dessa maneira, que assim ficava um exagero de ar ridículo. O que denunciei foi o erro de quem critica os «racistas» que não gostam de ver as «suas» personagens, das «suas» narrativas predilectas, a serem racialmente descaracterizadas. Mostrei que é legítimo não gostar de ver essa substituição racial.

Quanto a vedar aos brancos o direito de se verem representados na sua própria cultura, isso aplicar-se-ia noutros casos, mas ainda assim eu não o colocaria dessa forma. O que me parece que há, em casos bem mais graves do que este como por exemplo na campanha «anti-racista» contra a totalidade caucasóide do elenco da maior parte dos filmes sobre a obra de Tolkien, é uma tentativa de negar aos brancos a existência de um nicho cultural só seu, exclusivamente branco, como se essa existência fosse em si pecaminosa.

30 de dezembro de 2015 às 00:32:00 WET  

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