quarta-feira, dezembro 02, 2015

SOBRE OS PAGÃOS DE MARI-EL


Mais um artigo sobre o Povo dos Mari-El, desta feita em Português no original, os outros dois (não sei se foram mais mas dois foram de certeza) aqui publicados basearem-se em fontes estrangeiras. Boas leituras.

Fonte: http://p3.publico.pt/cultura/exposicoes/18923/os-mari-sao-ultima-sociedade-paga-da-europa
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Existe um local remoto na Rússia, a 800 quilómetros a leste de Moscovo, onde reside uma comunidade que mantém as mesmas crenças e rituais religiosos que há mil anos já se praticavam na região. A sua fé resistiu à intolerância otomana face ao politeísmo, ao ateísmo forçado do regime comunista soviético e aos tentáculos do cristianismo ortodoxo que actualmente vigora na Rússia. Os Mari que vivem na capital da República de Mari El são sobretudo cristãos ortodoxos, mas nas aldeias circundantes a práctica da religião nativa Mari impera. O fotógrafo italiano Raffaele Petralla visitou essas aldeias e compreendeu os princípios-base da religião que praticam e contou tudo ao P3 em entrevista. "Encontrei pessoas muito simpáticas e gentis. Para eles, a natureza está ligada ao mundo espiritual. Não é como dizer Deus está ali e nós aqui, mas sim tudo é mágico e tudo está interligado." Têm raíz finlandesa, língua e alfabeto próprios, rezam aos deuses da terra, do ar, da água e do fogo, fazem sacrifícios animais e são tão temidos quanto respeitados pelos restantes russos pelos seus poderes 'mágicos'. O fotógrafo é o mais recente membro da agência Prospekt e já viu o seu trabalho publicado na CNN e na National Geographic.

A entrevista: http://p3.publico.pt/nao-publicado/18954/mari-ultima-comunidade-paga-do-ocidente
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Kugu Jumo é o líder dos deuses adorados pela comunidade neo-pagã Mari. É o deus da luz. Tul é o deus do fogo, Saksa o da fertilidade, Tutyra o deus do nevoeiro, Azyren o da morte e Tylze o da Lua. E a lista não se fica por aqui.
Ao longo dos rios Volga e Kama, a cerca de 800 quilómetros a este de Moscovo, estão dispostas diversas aldeias que albergam um grupo étnico de tradições ancestrais e características singulares. Os neo-pagãos que habitam em redor da capital daRepública Mari-ElYoshkar-Ola, representam 25% de uma população que ronda os 700 mil habitantes.

"Têm muito respeito pela Natureza"
Foi ao "fugir" de uma visita guiada a Chernobyl, em 2011, que o fotógrafo italiano Raffaele Petralla ouviu pela primeira vez falar da República de Mari El, na Rússia. “Quis aprofundar a pesquisa e não encontrei quase nada. Fiquei apenas a saber que os habitantes tinham raízes finlandesas e que eram pagãos”, disse ao P3 em entrevista via Skype. Raffaele diz-se “um homem curioso” e não resistiu ao apelo do misticismo das aldeias mais remotas da divisão federal russa. Nasceu assim a série fotográfica “Mari people, a pagan beauty”. [Ver fotogaleria]

“Os Mari têm uma espiritualidade diferente: rituais, rezas e músicas muito particulares e distintas”, disse o fotógrafo. “Existe, para eles, uma relação estreita entre o sobrenatural e as suas vidas, o seu quotidiano. Acreditam que tudo está ligado. Têm muito respeito pela natureza, tudo o que fazem é no sentido de respeitar a terra e chegaram a essa conclusão não estudando, como nós — Ciência, Geografia, etc —, fazem-no porque integra as suas tradições e rituais, é algo que está profundamente enraizado e não requer explicação.”
Raffaele Petralla esteve em Mari El pela primeira vez durante o Verão de 2011 e lá permaneceu durante vinte dias. A última vez que visitou o local foi já em Novembro e Dezembro de 2014, onde pôde observar algumas diferenças. “A consciência sobre a vida mudou entre o Verão e o Inverno. No Verão, todas as pessoas, crianças e adultos, estavam felizes. Tinham muito que fazer, as crianças brincavam na água, nos lagos e rios, tinham muito alimento. Toda a gente estava feliz. No Inverno era o oposto. As pessoas estavam tristes e melancólicas e a pensar nas pessoas que estavam longe porque tinham ido trabalhar nas grandes cidades.”

Sacrificam-nos, “mas não ficam felizes por matá-los”
No dia 1 de Novembro de cada ano, as comunidades reúnem-se para celebrar a entrada da estação fria. O ritual religioso decorre invariavelmente numa clareira na floresta, em local determinado pelos líderes espirituais. Durante a cerimónia sacrificam animais, sobretudo patos e gansos. “Fazem-no para se certificarem que os deuses iniciam satisfeitos um novo ciclo”. Sacrificam-nos, “mas não ficam felizes por matá-los”, ressalva o fotógrafo. “Não é uma situação de festa, é algo visto como um mal necessário”. Mas porquê apenas patos e gansos? São animais que “voam (contacto com o ar), nadam (contacto com a água) e podem caminhar em terra (contacto com a terra)”, estando por isso em contacto com três dos principais elementos da natureza. “É importante que no momento do sacrifício o animal esteja calmo. Toda a gente está em tensão por este motivo. Sacrificá-los enquanto agitados não é desejável e pode, segundo as crenças desta comunidade, trazer consequências negativas. Eles tentam acalmar os patos, mas tentam com fogo [, o quarto elemento,] e por isso não é simples.” Uma vez mortos, são preparados para serem cozinhados e de seguida colocados numa enorme panela. “No final comem-nos.”

Durante o regime da União Soviética, a prática religiosa era estritamente proibida. Os Mari foram, nessa altura, perseguidos pelo regime comunista. Nem por isso todos eram cépticos relativamente à influência das preces e rituais deste grupo sobre os quatro elementos naturais e, por isso, sobre o destino dos homens e das nações. Eles eram tão respeitados quanto temidos e esse era um sentimento transversal na sociedade russa, chegando a verificar-se mesmo nas mais altas esferas do governo soviético, segundo relatos locais. Um dos líderes espirituais contou ao fotógrafo que, um dia, recebeu uma visita de um importante oficial do regime. “Quando chegou à aldeia estava muito assustado. Pretendia obter pistas sobre o futuro da União Soviética e rogar influência das preces e rituais Mari sobre os deuses, para que interviessem favoravelmente.”

O fotógrafo Raffaele Petralla prepara-se para, em 2016, dar continuidade ao projecto. São as questões humanas, sociais e ambientais o motor do trabalho do italiano, que é da opinião de que os Mari são um exemplo de boas práticas no âmbito da ecologia: “Eles talvez não se apercebam, não tenham consciência, mas vivem a sua vida em harmonia com a Terra.” Esse foi também um dos motivos por que desenvolveu esta série fotográfica.

Petralla é o mais recente membro da agência Prospekt, ao qual pertencem também o vencedor dos Sony Awards de 2015 Scott Typaldos e do vencedor do World Press Photo de 2015 Mads Nissen, cujos trabalhos já conheceram também publicação no P3. Colabora com diversas publicações, entre elas a CNN e a National Geographic.

7 Comments:

Anonymous Anónimo said...

http://pt.euronews.com/2015/12/02/eslovaquia-apresenta-queixa-contra-quotas-de-refugiados-ao-tribunal-de-justica/

3 de dezembro de 2015 às 06:28:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Torço que mais alta religiosidade europeia renasça e cresça seguido o belo exemplo dos pagãos de Mari-El!.

3 de dezembro de 2015 às 14:07:00 WET  
Anonymous Arauto said...

Caturo, olha-me para isto:

http://www.infowars.com/neighbor-didnt-report-san-bernardino-shooter-over-fears-of-being-called-racist/

3 de dezembro de 2015 às 15:43:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Putin tem muitas " surpresas " para o califado Turco.Há que diga que no Curdistão já se sente um cheiro intenso a liberdade


“Mas se alguém pensa que, tendo eles cometido um infame crime militar – o homicídio de nossos cidadãos – nós nos vamos limitar [ao embargo de] tomates, restrições na área de construção ou alguma outra, estão enganados. Vamos lembrá-los uma vez mais do que fizeram. Vão lamentar o que fizeram uma vez mais. Sabemos o que devemos fazer em uma situação destas”, afirmou Putin.


Leia mais: http://br.sputniknews.com/mundo/20151203/2954373/Turquia-Russia-embargo-tomates.html#ixzz3tHCr1k8D

3 de dezembro de 2015 às 16:39:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Alguem sabe mais sobre a noticia em que a Turquia dizia que tinha provas de que o petroleo do isis estava a ir para a Russia?
É engraçado que depois da Russia dizer que tinha provas que o petroleo ia para a Turquia, os Turcos passem a batata para a Russia incriminando-a!

Engraçado que penso que nao vi nas TVs a noticia da Russia acusar que a Turquia comprava petroleo ao ISIS mas vi a noticia de que a Turquia acusa a Russia. Nao posso confirmar, mas mais uma vez os media parecem ter uma dualidade de critérios para melhorar a imagem da Turquia.

4 de dezembro de 2015 às 00:37:00 WET  
Blogger Unknown said...

Os pagaos desde a antiguidade tem bom gosto para comes e bebes as ceias alogenas devem ter sido plagiadas na casca vide ke ate as datas parecem pagãs do leste 25 etc

4 de dezembro de 2015 às 08:31:00 WET  
Blogger Unknown said...

A anatolia ja devia ter sido repartida entre gregos curdos russos assirios armenios etc idem a tracia do leste entre bulgaros e gregos etc os turcos sao uma salganhada

4 de dezembro de 2015 às 08:35:00 WET  

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