quarta-feira, novembro 11, 2015

AS BOCAS DE PEDRO ARROJA QUE INDIGNARAM O BE

Na terça-feira, no dia em que o Governo de direita foi derrubado na Assembleia da República, o comentador Pedro Arroja chamou às “meninas” do Bloco de Esquerda do Parlamento “esganiçadas” e disse que “não queria” nenhuma delas “nem dada”. Embora a certa altura tenha dito “aqui entre nós que ninguém nos ouve”, fê-lo no jornal diário do Porto Canal. O BE já reagiu: escreveu uma carta a Júlio Magalhães na qual pede à direcção daquele canal que emita “de imediato um pedido de desculpas formal” pela situação.
Pedro Arroja teceu várias considerações. Alguns exemplos (visíveis no vídeo desta notícia a partir do minuto 7,50s): “Aquelas esganiçadas sempre contra alguém ou contra alguma coisa”. Afirmou que “não queria nenhuma daquelas mulheres, nem dada”. E até explicou porquê: “Não conseguiria com elas, com uma delas, com uma mulher assim, construir uma comunidade, uma família. Elas estão sempre contra alguém ou contra alguma coisa. E lá em casa só havia dois tipos de pessoas, ou os filhos, ou o marido.”
Ora, assim, continuou Pedro Arroja, “o mais provável é que elas se pusessem contra o marido”: “Todas as noites, todos os dias, durante o dia no Parlamento, à noite com o marido: ‘Porque tu é que tens a culpa disto!’"
A consequência, “com o tempo”, seria pô-lo “fora de casa”. E Arroja saía: “E estou a imaginar o sentimento de alívio que sentiria nesse dia. 'Estou livre! Estou livre dela!'”
Não obstante, escreve o Bloco na carta enviada ao Porto Canal, “o carácter lúdico da prestação do Dr. Pedro Arroja”, as declarações “levantam perplexidade pelo carácter ofensivo e misógino com que se referiu a deputadas do Bloco de Esquerda”.
E citam a Lei da Televisão e dos Serviços Audiovisuais a Pedido, na qual se ressalva o respeito pela “dignidade” da pessoa e se considera que os serviços de programas televisivos e os serviços audiovisuais “não podem, através dos elementos de programação que difundam, incitar ao ódio racial, religioso, político ou gerado pela cor, origem étnica ou nacional, pelo sexo, pela orientação sexual ou pela deficiência”.
Se hoje em dia já é “absolutamente consensual que o incitamento ao ódio racial ou religioso é inaceitável”, frisa o Bloco, “o mesmo não é adquirido no que respeita ao sexo e ao género”.
Os bloquistas admitem que, uma vez que aquele jornal é emitido em directo, era “impossível” prever ou “limitar” a opinião de Pedro Arroja. Apesar disso, defendem que compete “à direcção do Porto Canal emitir de imediato um pedido de desculpas formal e estabelecer um distanciamento inequívoco relativamente” àquelas afirmações.
“É de relembrar que a desigualdade de género mata. Mais de 40 mulheres são assassinadas pelo seu companheiro e ex-companheiro todos os anos em Portugal, um flagelo que não merece qualquer complacência ou aparente inocência em comentários públicos. Por esta razão o Bloco de Esquerda declara o seu repúdio pelas declarações do Dr. Pedro Arroja e pelo não distanciamento da direcção do Porto Canal”, lê-se na carta assinada pelo deputado Jorge Campos.
O PÚBLICO tentou obter uma reacção do Porto Canal, mas não foi possível.
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Fonte: http://www.publico.pt/politica/noticia/aquelas-esganicadas-be-quer-que-porto-canal-peca-desculpa-1714156

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O BE actua incorrectamente ao exigir um pedido de desculpas. Ao fim ao cabo, o economista não insultou ninguém nem emitiu quaisquer calúnias - limitou-se a expressar a sua opinião. No máximo dos máximos pode-se admitir que o termo «esganiçadas» tenha um sentido insultuoso, seja, mas pegar por aí para acusar de insulto torna-se forçado.

Não significa isto que Pedro Arroja tenha falado bem. Na verdade, nunca ouvi nada da boca de tal beato que não metesse nojo. No outro dia disse ele que é bom a nossa educação católica ter-nos habituado a rezar aos santos em vez de ir logo a Deus, ao contrário do que fazem os protestantes, e é por causa disso que no mundo católico, Portugal incluído, temos esta maravilhosa cultura da cunha, enquanto os Povos germânicos são muito mais secos e directos, mas o que é bom é mesmo esta nossa cultura da cunha e das relações de afectividade entre nós - sim, o economista e professor universitário Pedro Arrroja estava mesmo a defender a cultura da cunha.
Mais recentemente, chegou ao cúmulo da beatice totalitária ao condenar a liberdade de expressão como valor em si e a considerá-la responsável pela violência islâmica no caso do massacre cometido em França contra os caricaturistas do Charlie Hebdo. Lembrando que este jornal também ridicularizou o Cristianismo, chega mesmo ao ponto de dizer que os caricaturistas «estavam mesmo a pedi-las» (sic). A seu ver, a liberdade só é liberdade quando se faz «o bem» ordenado por «Deus», entenda-se, aquilo que a sua religião diz que é o bem. Quem fala desta maneira e depois vem ridicularizar as deputadas do BE, mostra só o que realmente tem na cabeça: intolerância da mais primária grosseiramente disfarçada de «respeito pelos Valores» (como se só os seus valores merecessem respeito). A sua solução, conclui, era acabar com a liberdade de expressão e passar a baixar portanto a bolinha diante de «Deus», o abraâmico, claro está... 

Na charla do vídeo acima, o fulano começou por dizer que os Portugueses são como Cristo, que também era imprevisível (porque, diz ele, ninguém esperava que agora chegasse ao poder um governo de coligação esquerdista), e está sempre a puxar a brasa à sardinha da Cristandade, mas o que tem mais piada é que a seguir manifesta-se contra a «divisão do país» que, segundo ele, é feita pelos partidos, e assegura ele que este governo de Esquerda vai dividir as pessoas e etc, e isto tem piada porque o próprio Cristo, que Arroja tanto ama, é que veio dividir as famílias, incitando ao ódio entre os familiares, com todas as letras: «se não odiardes a vossa família e a vós próprios, não sereis dignos de mim»; «julgais que vim trazer a paz?, não, vim trazer a guerra, vim trazer o fogo, e que quero eu se não que ele se ateie? Vim virar pai contra filho, sogra contra nora (etc.)».

Pelo meio notou-se-lhe um repúdio subtil pela Democracia, a qual lhe escapa no seu sentido óbvio. Afirma ele que «um partido serve para partir» (3:08), i.e., para dividir a sociedade, argumento muito típico da Extrema-Direita anti-democrática. Isto é não compreender que os partidos são algo que, como o próprio nome indica, diz respeito ao que já está partido, ou seja, existem para dar voz a diferentes tendências dentro da sociedade. E em Democracia pode-se discordar sem se odiar, aliás, quem não é capaz de concordar em discordar não está capaz de viver democraticamente. Quem na verdade veio pregar o ódio no seio do povo não foi pois a Democracia, foi o Judeu Morto.
As considerações que Arroja tece seguidamente sobre os símbolos vão do ridículo ao cómico, sobretudo quando partem da boca de um cristão: diz que o punho é violência, enquanto o próprio símbolo da Cristandade é um símbolo de morte violenta e o próprio JC incitava, repita-se, ao ódio; diz que o vermelho é uma cor violenta, talvez não se lembrando que é das cores mais frequentes na vestimenta dos bispos; diz «quantas pessoas já terão morrido vítimas de foices e de martelos», às tantas também podia dizer que as setas dos emblemas do PSD e do CDS podem ser mísseis nucleares, e ambos os partidos de Direita são a favor da OTAN e pronto «está lá tudo», como também pode dizer que o PNR quer com o símbolo pôr o País a arder nalguma guerra civil racial. 
A partir daí piora a converseta, com comentários do mais saloio a respeito das deputadas bloquistas, também frequentes, de resto, entre o pessoal mais chauvinista-labrego, que acham muito estranho uma mulher levantar a voz para se ouvir. Bocas daquelas mandam-se entre marmanjos já bem bebidos nalguma taberna, aí têm desculpa. Claro que tinha de ficar mal visto e se calhar até fica contente em atrair o ódio da malta de Esquerda. Insiste, para mal da sua arenga, na crítica à atitude fracturante do BE, incorrendo novamente na mais grosseira contradição, vindo da boca de um devoto do Crucificado...
Em suma, mais uma barracada total da parte do prof. Pedro Arroja.