SOBRE O MONOTEÍSMO (ABRAHÂMICO)

«O monoteísmo é um erro metafísico, já que o princípio do mundo, que está fora do mundo, encontra-se mais além do número, é impessoal, indescritível, incognoscível. Acima de tudo, o monoteísmo é perigoso pelas suas consequências, dado que se trata de uma projecção do "eu" humano para a esfera divina, que substitui o amor, o respeito pela obra divina no seu conjunto pelo de uma personagem fictícia, uma espécie de rei celestial que rege os assuntos humanos e ao qual se atribuem os éditos mais absurdos. Intolerante, o Deus supostamente único não é, ao fim ao cabo, mais do que o de uma tribo. As religiões monoteístas são as que servem de pretexto para as perseguições, os massacres, os genocídios, as que combatem entre elas com o fim de impor aos outros o domínio do seu tirano celeste.»

Alain Daniélou, «O Xivaísmo E A Tradição Primordial»

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O que o autor acima diz aplica-se seguramente aos monoteístas abraâmicos universalistas, Cristianismo e Islão. Que possa dizer também respeito a outros parece-me discutível, mas, para já, tudo o que acima disse bate certo com o que se conhece da hoste de JC e da de Maomé, sendo aliás esta também apologista de JC, havendo inclusivamente quem considere o Islão como uma evolução do Cristianismo árabe. 

Que a Entidade adorada pelos monoteístas seja fictícia é outra afirmação problemática, mas compreensível quando se define essa Entidade como única possível ou implicando a impossibilidade de estatuto divino de quaisquer outras.