NA TURQUIA - ASCENÇÃO NACIONALISTA CURDA PELA VIA DEMOCRÁTICA TIRA PODER AOS ISLAMISTAS DO GOVERNO
Nenhum partido turco tem mandato para governar sozinho e por isso as formações políticas têm de se entender. O recado é do presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, que na primeira reação ao resultado das eleições de domingo apelou às formações políticas que preservem o ambiente de estabilidade no país. Mas o cenário para um novo governo parece complexo e paira no ar o cenário de novas eleições.
“Acredito que os resultados, que não dão oportunidade a qualquer partido para formar um governo de maioria, serão analisados de forma saudável e realista por todos os partidos”, disse Erdogan, citado pela Reuters.
Os resultados eleitorais são um revés para o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu, do Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP), mas também uma derrota pessoal para o chefe de Estado.
Depois de três mandatos como primeiro-ministro e impedido por lei de concorrer a um quarto, Erdogan ambicionava transformar a Turquia num regime presidencialista, que lhe reforçasse os poderes. Isso só seria possível através de uma alteração constitucional para a qual era necessária uma maioria de dois terços no parlamento.
O AKP ficou muito aquém dessa meta. Com 41 por cento dos votos, perdeu a maioria absoluta - que detinha há 13 anos - e viu entrar no parlamento, pela primeira vez, o partido pró-curdo HDP, que ultrapassou os 10 por cento necessários para ter lugar na assembleia.
Novas eleições
O cenário para formar governo é complexo. O segundo partido mais votado, o Partido Republicano do Povo (CHP), conseguiu 25 por cento. Mas é ideologicamente distante do AKP e já recusou qualquer aliança.
Restaria, por isso, o Partido Movimento Nacionalista (MHP). Com 16,4%, foi a terceira força mais votada. Mas a possibilidade de uma aliança parece tremida, depois do líder partidário, Devlet Bahceli, ter recusado um acordo se o AKP não fosse capaz de uma coligação com outros grupos da oposição.
"A primeira possibilidade para uma coligação deve ser entre o AKP e o HDP. O segundo modelo consiste entre o AKP, o CHP e o HDP", disse Bahceli citado pela Reuters. "Se todos estes cenários falharem, então devem ser realizadas novas novas eleições".
Dois dirigentes do AKP também disseram à Reuters que é cada vez mais provável a convocação de novas eleições.
“A possibilidade de sair um governo da atual situação é diminuta”, disse um desses responsáveis antes de uma reunião de Ahmet Davutoglu com outros líderes partidários, salientando: “Com estes resultados, eleições antecipadas parecem inevitáveis”.
*
Fonte: http://www.tvi24.iol.pt/internacional/erdogan/turquia-pode-estar-a-beira-de-novas-eleicoes
*
(...)
Selahattin Demirtas, advogado de 42 anos, é o grande vencedor das legislativas. Curdo, como os restantes líderes do HDP, abriu o partido a democratas, ecologistas e reformistas de todas as idades e identidades, às minorias culturais e sexuais, ousou propor que nas escolas se deve ensinar a religião de cada um em vez do islão sunita de Estado. Arriscou tudo e venceu. Se o partido, que pela primeira vez concorreu em bloco, tivesse ficado uma décima abaixo dos 10% não entrava no Parlamento e os seus votos seriam repartidos pelas formações mais votadas, beneficiando o AKP.
Erdogan, que nem campanha deveria poder fazer mas que apareceu em público pelo menos duas vezes por dia, roubando sempre o palco ao primeiro-ministro, Ahmet Davotuglu, percebeu que Demirtas era o seu único obstáculo. Por isso, dedicou muito tempo a atacá-lo, ora sublinhando as suas alegadas ligações ao PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão), ora as suas credenciais pouco islâmicas. “Estas pessoas não têm nada a ver com o islão”, disse Erdogan, dias depois de ter levado um Corão em curdo para um comício. “Acredito que os meus pios irmãos curdos lhes vão dar a resposta necessária no dia 7 de Junho.”
(...)
*
Fonte: http://www.publico.pt/mundo/noticia/o-pio-erdogan-esqueceu-a-modestia-e-os-turcos-nao-lhe-perdoaram-1698319?page=-1
0 Comments:
Enviar um comentário
<< Home