SOBRE UM DISCURSO DO DIRECTOR DO FBI A RECONHECER O RACISMO DOS SEUS AGENTES...

Agradecimentos a quem aqui trouxe esta notícia: http://expresso.sapo.pt/diretor-do-fbi-admite-que-ha-comportamentos-racistas-na-policia=f910724#ixzz3S8yLprNV   (artigo originalmente redigido sob o acordo ortográfico de 1990 mas corrigido aqui à luz da ortografia portuguesa)

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O director do FBI, a polícia federal americana, reconheceu que existem comportamentos racistas entre os agentes policiais. Falando a estudantes na Universidade de Georgetown (Washington), James Comey descreveu um quadro complexo em que factores sociais se aliam aos psicológicos para criar ou reforçar determinados preconceitos. O discurso é especialmente significativo por vir na sequência das polémicas geradas pelas recentes mortes injustificadas de vários jovens negros às mãos da polícia.

"Há uma coisa que acontece às pessoas que aplicam a lei", disse Comey a certa altura. "Muitos de nós desenvolvemos diferentes sabores de cinismo a que fazemos um grande esforço para resistir, porque podem ser atalhos mentais preguiçosos. Por exemplo, os suspeitos de crimes costumam mentir sobre a sua culpa, quase toda a gente que acusamos é culpada. Isso torna fácil para algumas pessoas que combatem o crime assumirem que toda a gente mente e que nenhum suspeito, independentemente da sua raça, pode ser inocente. Fácil, mas errado."

"Da mesma forma, os agentes que patrulham as cidades do nosso país muitas vezes trabalham em ambientes onde uma percentagem extremamente desproporcional dos crimes de rua são cometidos por jovens de cor", continuou o diretor do FBI. "Algo acontece com as pessoas de boa vontade que trabalham nesse ambiente. Após anos de trabalho policial, muitas vezes não conseguem deixar de ser influenciados pelo cinismo que sentem."

Em conclusão, segundo Comey, "um atalho mental torna-se quase irresistível, e talvez até mesmo racional, visto a certa luz". "Os dois jovens negros do lado da rua parecem-se com tantos outros que o mesmo agente prendeu, mas não com dois homens brancos do outro lado da rua - ainda que usem as mesmas roupas. O agente não faz a mesma associação com os dois homens brancos, seja ele branco ou negro. E isso gera comportamentos diferentes. O agente vira-se para um lado da rua e não para o outro. Temos de enfrentar o facto de que esse comportamento dificulta a relação entre a polícia e as comunidades que servem."

Não é a primeira vez que o director do FBI se ocupa deste tema. Já antes havia mostrado que queria ser um chefe da polícia federal diferente, e o discurso é um marco importante. O procurador-geral Eric Holder também várias vezes falara do assunto, e o próprio Obama fez comentários no mesmo sentido, bem como o presidente da Câmara de Nova Iorque. Bill de Blasio, que tem um filho negro, reconheceu que se preocupava com o que lhe podia acontecer se um dia fosse abordado pela polícia. Em resposta, o sindicato da polícia incitou os seus membros a virarem-lhe as costas publicamente. Centenas fizeram-no mesmo no funeral de dois agentes que foram mortos a tiro em Dezembro passado.

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Não sei se o director do FBI é da hoste anti-racista ou não. Sei é que, voluntariamente ou não, acaba por subtilmente fazer notar que ao fim ao cabo o «racismo» da polícia é racionalmente explicável e até justificável, dada a notória desproporção de crimes cometidos por negros. Depois funciona a regra da probabilidade. Se ao andar pela rua se constatar que se é muito mais vezes agredido por quem usa camisolas azuis do que por quem usa camisolas verdes, é nada menos que natural que se passe a ter mais cuidado, e distância, relativamente aos indivíduos que usem camisolas azuis...

Nada mais claro. Tem a mesma clareza que a conveniência da segregação racial, para evitar este e outro tipo de situações.