UM DOS BISPOS MAIS IMPORTANTES DE FRANÇA DEIXA CLARA A INCOMPATIBILIDADE ENTRE O CRISTIANISMO E O RACISMO

Agradecimentos a leitor que aqui denuncia a Padralhada: http://www.lepoint.fr/invites-du-point/monseigneur-di-falco/video-monseigneur-di-falco-christianisme-et-racisme-sont-contre-nature-04-05-2014-1818850_803.php

Um dos mais destacados sacerdotes da Cristandade em solo francês, o bispo de Gap et d'Embrun (Alpes-Maritimes), Jean-Michel di Falco Leandri, gravou esta semana mais um vídeo evangelizador, transmissor da doutrina cristã. Desta feita, partiu de um filme humorístico para dar um exemplo moral cristão. A película, Qu'est-ce qu'on a fait au Bon Dieu?, conta a história de um casal cristão que fica de pé atrás quando descobre que sua filha vai casar com um católico que é de raça negra. 

O bispo di Falco aproveita para, no vídeo que se pode ver a partir do link acima (não vou pôr isso aqui), evocar o racismo que ainda existe nas fileiras do Catolicismo. E manda então o inequívoco recado: 

«Cristianismo e racismo são contra-natura» 

querendo com isto dizer, obviamente, que de uma incompatibilidade visceral se trata. O vigário do Judeu Morto dá como exemplo os cristãos que se recusam a participar num encontro paroquial porque o padre é negro. E diz: «Tal atitude é indigna de pessoas que se reivindiquem cristãs». 

Já aqui tinha sido publicado um tópico sobre as charlas cristãs anti-racistas deste bispo: http://gladio.blogspot.pt/2014/02/em-franca-bispo-diz-que-discriminacao.html

E, mais uma vez, não dá com isto novidade nenhuma. O Cristianismo é de facto incompatível não apenas com o racismo mas também com toda e qualquer postura ideológica que exclua o Outro, seja o racismo, o Racialismo, o Etnicismo, o Nacionalismo, em suma, a ideologia do Nós. O Cristianismo é universalista, militantemente fraternalista - a sua moral é a própria negação de tudo o que seja espírito de estirpe, dado que este implica sempre a exclusão, a discriminação, termo que mui significativamente é neste momento demonizado pela elite político-cultural reinante, ou não fosse esta, moralmente falando, um sub-produto da mentalidade cristã, no que respeita ao seu universalismo totalitário e militante. 

O bispo di Falco faz notar o caso dos católicos que não querem aceitar padres africanos. Que católicos são estes? Gente do povo, gente de moral aparentemente sólida, que é cristã por tradição, porque foi baptizada e segue portanto a religião dos seus pais, que já era a dos seus avós. Para este tipo de cristão, o Cristianismo é «a Religião» da família, do povo. Irónica e também significativamente, este motivo para se ser cristão - o de o Cristianismo ser, supostamente, a religião da família e do povo - é ele próprio um motivo... pagão. O cristão segue o Cristianismo por um e um só motivo: porque concorda com a palavra - a palavra, as palavras, as frases, as coisas ditas, e os exemplos - de um carpinteiro judeu que viveu na Palestina há dois mil anos. Não há, em termos de coerência, outro motivo para se ser cristão. Só esse motivo é um motivo cristão. Todos os outros motivos não são cristãos.

E praticar ou dizer-se fiel de uma determinada religião porque esta religião é a dos pais, dos antepassados, é uma atitude puramente pagã. Pagã até ao âmago. Só no Paganismo é que a Religião constitui uma questão de culto nacional, étnico, culto do Povo, dos ancestrais. Só no Paganismo é que tem sentido dizer-se, como os Romanos (em «De Natura Deorum» ou «A Natureza dos Deuses», de Cícero), «Pro Aris et Focis», literalmente, «Pelas Aras e pelos Lares», querendo isto dizer «Pelos Deuses e Pela Pátria», ou, como os Celtas irlandeses, «Tongu do día toinges mo thúath!», isto é, «Juro pelos Deuses pelos Quais o meu Povo jura!». 

Deste modo, a ideia de que ser francês, português, inglês, italiano, grego, russo, etc., em suma, ser europeu, a concepção de que ser-se europeu é automaticamente ser-se cristão, constitui a maior das armadilhas identitárias de que há memória, uma contradição fulcral e absolutamente, aliás, absurdamente óbvia, que só pode ser ignorada ou negada em virtude da tapadice de alguns, ou, na melhor das hipóteses, da síntese de emotividade com fidelidade familiar e afectiva que motiva muitos bons nacionalistas. E depois os diFalcos colhem os frutos junto dos mais ingénuos: «ai és cristão? então não podes ser racista, tem paciência, mas não pode ser...» o que não pode fazer bem nenhum à convicção política dos nacionalistas que ainda se digam cristãos, que acabam por ter que se refugiar moralmente na evocação das Cruzadas e da Reconquista e na porrada que os cristãos davam nos Mouros e outras indigências destas. E em continuar a pensar no seu Deus como um idoso que nas Alturas brande o Raio (sintomaticamente uma imagem comum a diversos indo-europeus...), sem perceberem que ao dizerem-se cristãos e ao educar os filhos que tenham no culto cristão estão na verdade a veicular o pensamento e o exemplo de um judeu que antes de morrer numa cruz pregou o ódio à Família e mandou dar a outra face ao agressor...

O maior mal do Ocidente começou com a blasfémia de deitar abaixo os ídolos e altares dos egrégios Deuses do Ocidente para os substituir pelo culto totalitário desse judeu crucificado e lamentoso. Foi assim que o vírus da xenofilia obrigatória se introduziu na Europa e, para isso, só o Nacionalismo constitui antídoto.