NOVO ESTUDO INDICA QUE OS EUROPEUS PODEM TER PRECEDIDO OS ASIÁTICOS EM SOLO AMERICANO
Notícia de há uns mesitos valentes mas muito actual: http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2012/03/120315_livro_america_vr.shtml
Um livro escrito por dois arqueólogos americanos gerou
controvérsia na comunidade científica ao defender que os europeus, e não povos
provenientes da Ásia, foram os primeiros colonizadores do continente
americano.
O livro, lançado recentemente em Washington, aponta novas descobertas
arqueológicas, indicando que a América foi colonizada inicialmente por europeus
da Idade da Pedra, que cruzaram o Atlântico de barco durante a última Era
Glacial, há cerca de 20 mil anos.
Com Across Atlantic Ice: The Origin of America’s Clovis Culture
(Através do Gelo do Atlântico: A Origem da Cultura Clóvis da América, em tradução
livre), Dennis Stanford, do Museu Nacional Smithsonian de História Natural, em
Washington, e Bruce Bradley, da Universidade de Exeter, no Reino Unido, deram
início a uma polémica entre os seus colegas arqueólogos.
É que eles defendem uma teoria considerada radical sobre quem foram os
primeiros americanos e quando estes chegaram ao Novo Mundo.
Across Atlantic Ice traça as origens dos solutrenses, que ocuparam o
norte da Espanha e França, e de seus supostos descendentes da cultura Clóvis -
surgida no final da Era do Gelo e assim baptizada por conta dos artefactos
encontrados perto da cidade de Clóvis, no Novo México (EUA). O povo da cultura
Clóvis era considerado o mais antigo habitante das Américas, com cerca de 13 mil
anos.
"O livro é bem pesquisado, interdisciplinar e sério. Mas os dados científicos
concretos ainda não estão lá para provar ou refutar a teoria", disse à BBC
Brasil Tom Dillehay, renomado arqueólogo da Universidade Vanderbilt, no
Tennessee. "Estamos pesquisando teorias para explicar o povoamento das Américas.
Esta hipótese é uma das possibilidades, mas os dados genéticos e
bioarqueológicos actuais assinalam que a Sibéria, e não a Europa, foi o ponto de
entrada."
Há vários anos Stanford e Bradley têm afirmado que os seres humanos da Idade
da Pedra eram capazes de fazer a viagem através do gelo do Atlântico. Mas ainda
não contavam com provas suficientes que apoiassem tais indícios. Agora, no
entanto, eles dizem ter indícios que sustentam a teoria.
Dezenas de ferramentas de pedra em estilo europeu, que remontam a um período
entre 19 mil e 26 mil anos atrás, foram descobertas em seis locais diferentes ao
longo da costa leste dos Estados Unidos. Três deles estão localizados na
Península Delmarva, em Maryland. Outros dois foram encontrados na Pensilvânia e
em Virgínia. Pescadores acharam o último no fundo do mar, a 96 km da costa de
Virgínia.
De acordo com a dupla, a completa ausência de qualquer actividade humana no
nordeste da Sibéria e no Alasca, num período anterior a 15,5 mil anos atrás, é
outro argumento fundamental para a teoria deles. Também defendem que os europeus
podem ter sido parcialmente absorvidos ou destruídos pelos índios asiáticos
originários.
Além disso, alguns marcadores genéticos para a Idade da Pedra dos europeus
ocidentais simplesmente não existem no nordeste da Ásia. Mas já aparecem em
pequenas quantidades entre alguns indígenas norte-americanos, o que indicaria
uma herança genética desses primeiros habitantes.
Também alguns exames de DNA antigo extraído de esqueletos com 8 mil anos na
Flórida revelaram um alto nível de um marcador genético europeu.
Mas há especialistas que discordam deles.
"Os argumentos do livro merecem ser completamente e conscientemente
analisados", afirmou Gary Haynes, arqueólogo da Universidade de Nevada. "Tenho
certeza de que existem muitas pessoas do público em geral e arqueólogos que
aceitarão as teorias, mas não estou convencido."
Haynes disse sentir-se eticamente obrigado a ser céptico. De acordo com ele,
"as teorias são apenas parcialmente sustentáveis com os indícios disponíveis.
Alguns dos argumentos não são lógicos, não foram analisados, ou se baseiam em
pressupostos não comprovados e proposições".
Haynes enumera uma série de factores que refutam a teoria defendida no livro.
Entre eles, destaca que o DNA encontrado em populações nativas americanas não
indica uma origem na Europa Ocidental, mas uma ascendência asiática.
O mesmo, de acordo com ele, pode ser dito com relação ao material genético
encontrado - tanto nos antigos quanto nos modernos - esqueletos dos nativos
americanos.
Além disso, não há esqueletos humanos nas Américas mais velhos do que os da
cultura Clóvis; as idades da cultura Solutrense na Europa e da Clóvis nas
Américas são amplamente separadas.
(...)
Bradley, por sua vez, considera positivas as críticas a sua teoria. Esse é o
caminho natural, diz ele, com a colaboração dos críticos trazendo provas
adicionais ou interpretando os indícios actuais.
Segundo Bradley, a arqueologia raramente produz certezas. "Sentimos que as
descobertas actuais são muito atraentes, mas para esta teoria ganhar aceitação
esmagadora é preciso haver provas adicionais", disse.
O livro é resultado de mais de uma década de trabalho. Stanford e Bradley
afirmam que estão apenas no início da jornada e seguem investigando outros
locais no Tennessee, em Maryland e no Texas, onde esperam encontrar mais provas
que sustentem a teoria. Também estão programadas pesquisas no Maine e na costa
oeste americana.
Mas é possível que a maior quantidade de indícios venha do fundo do oceano -
nas áreas onde os europeus teriam saído do gelo para a terra seca.
Em meados deste ano, Bradley estará em São Paulo e, possivelmente, no
Uruguai, para pesquisar indícios de povos primitivos ao longo do lado oriental
do continente.
3 Comments:
Ora aqui está uma possibilidade que não interessa nada aos clérigos da SMIARMUDO: vir a descobrir-se que os nativos americanos não detêm a primazia dos direitos sobre os territórios americanos seria catastrófico para a narrativa do homem branco opressor.
«Também defendem que os europeus podem ter sido parcialmente absorvidos ou destruídos pelos índios asiáticos originários.»
Europeus vítimas de opressão e genocídio por parte dos índios?
Há quem diga que os habitantes originais das Américas foram os Bascos, absorvidos pelas tribos ameríndias, isto há uns bons milhares de anos; realmente, constatou-se que algumas tribos da família Na Dene apresentam uma fisionomia vagamente caucasóide, e mais: alguns investigadores aventam a hipótese de existir uma família linguística chamada "Dene-Caucásica", que englobaria não só as línguas do grupo Algonquino como também o Euscara, as línguas caucásicas (Georgiano; Abkhaz; Tchetcheno-Ingush, etc) e a família Sino-Tibetana, talvez ainda o Burushaski - muitas dúvidas neste caso.
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