sexta-feira, fevereiro 11, 2011

SOBRE O ANIMISMO E A SUA DEFESA CONTRA O ATEÍSMO MILITANTE

Chamo a atenção para este artigo de Stephen T. Asma, professor de Filosofia numa universidade de Chicago. Declarando-se agnóstico, verbera todavia cirúrgicos golpes na arenga militantemente ateísta dos ateus mais destacados, nomeadamente dos chamados «quatro cavaleiros» (do apocalipse), a saber, Rich­ard Daw­kins, Chris­to­pher Hitch­ens, Sam Har­ris e Dan­iel Dennett. Faz notar que, ao contrário do que diz o quarteto ateísta, a Religião não tem como principais objectivos a explicação do mundo e a moralização da sociedade. O autor, que viveu no Oriente, observa que na religiosidade oriental actual a moralidade tem relativamente pouco peso; e que os ocidentais humanistas que apreciam o «ateísmo» teórico e o humanismo budista, ficariam embaraçados ao descobrir o conteúdo sobrenatural, ritual, verdadeiramente religioso, da verdadeira vivência budista nos países budistas. T. Asma faz a apologia deste mesmo aspecto - não é só a carga moral e filosófica, racional, de algumas religiões que deve ser promovida, como querem alguns ateus «moderados», mas sim a natureza religiosa propriamente dita, que muitas vezes faz muito de positivo pelas vidas emocionais das pessoas. E, a partir daqui, começa a salientar que a experiência religiosa de modo nenhum se deve centrar no monoteísmo, ao contrário do que pretendem implicitamente os ateístas e os seguidores de certos credos - ao fim ao cabo, os animistas ainda estão em maioria, a nível mundial, segundo Asma: dominam ainda a maior parte de África (diz ele, eu já duvido um pouco...), o sudeste asiático, a China rural, o Tibete, o Japão, a América Central e Meridional rurais, as ilhas do Pacífico... Os animistas, isto é, os que acreditam na presença de vários espíritos nas coisas (espíritos da casa, por exemplo) e que Lhes prestam culto, acabam também por estar presentes em sociedades formalmente monoteístas. De certa maneira, Asma está a referir os politeístas, ou seja, os pagãos (embora nem todos os pagãos sejam politeístas). Até o «racional» e «ateu» Budismo acaba por ceder diante dos cultos animistas, visto que nalguns países até os sacerdotes budistas fazem pequenas oferendas aos espíritos locais e caseiros, o que traz à memória, digo eu, o facto de que também o Cristianismo teve de se deixar penetrar pelo Paganismo prévio enraizado no sangue e no solo europeus.
O autor falha, a meu ver, quando dá a entender que o animismo é um ópio do povo, embora um bom ópio pois que, como diz, citando outro autor, «a consolação por males imaginários não é ela própria imaginária». E de facto esta última observação é muito verdadeira, tal como também é verdadeiro que a Religião oferece consolo, mas isso, ao contrário do que demasiadas mentes racionais e utilitaristas julgam, não significa necessariamente que a Religião seja apenas um consolo, muito menos que seja um consolo baseado numa mentira piedosa.
Diz Asma que num mundo racionalmente organizado como é o Ocidente, as explicações do mundo racionais, assentes em leis impessoais, parecem muito óbvias, mas em lugares caóticos, onde o homem pouco ou nada controla da sua própria vida, faz muito mais sentido o animismo do que qualquer explicação racional das coisas. Falta acrescentar o pormenorzito que mesmo na mais organizada e predizível das sociedades, há sempre lugar para o imprevisto e para a desgraça, ou a felicidade, inesperadas... até porque, em última análise, a morte continua a ser inevitável e, perante ela, o homem está tão desarmado como qualquer outro animal. E que um dia a Ciência possa prolongar, por meio da clonagem ou doutro meio, a vida individual, dificilmente poderá fazer de alguém invulnerável, pois que a dedicação do engenho humano para a destruição do seu inimigo é sempre elevada e não tem dado mostras de abrandar - o que só aumentará o medo da morte da parte daqueles que, precisamente por poderem prolongar indefinidamente (na teoria) a vida do próprio corpo, temerão ainda mais o acaso do que aqueles que, como todos nós desde sempre, já sabem que no fundo não têm nada a perder, porque à nascença já caminham para a morte certa...
Faz todavia bem, o autor, quando observa que, ao contrário de certos monoteísmos radicais, o animismo não está em competição com a Ciência, não a exclui, podendo, entretanto, absorver o que quiser doutras crenças sem que isso o abale.

8 Comments:

Anonymous Anónimo said...

sou ateu mas amo os animistas originais nossos pre-cernificação alogenizante..

12 de fevereiro de 2011 às 12:17:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

falei amo, mas nem sei o que esse termo pseudo-cientifico denominado amor queira dizer..

12 de fevereiro de 2011 às 12:18:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"Religião não tem como principais objectivos a explicação do mundo e a moralização da sociedade."

As religiões abraâmicas têm...

12 de fevereiro de 2011 às 18:34:00 WET  
Blogger betoquintas said...

bom, não dava para ele dar indulgência em tudo... }|D
mas ele acertou: os ateus tendem a reduzir o tema "religião" e "Deus" à sua versão monoteísta, em especial as religiões abraãmicas.

13 de fevereiro de 2011 às 12:07:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

"Religião não tem como principais objectivos a explicação do mundo e a moralização da sociedade."

As religiões abraâmicas têm...

o mal delas está justamente aí..impor o seu modo de ver o mundo e o seu moralixo..mas pior ainda é a imposição do moralixo 2.0 versão pos-classica podre..

14 de fevereiro de 2011 às 11:22:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

bom, não dava para ele dar indulgência em tudo... }|D
mas ele acertou: os ateus tendem a reduzir o tema "religião" e "Deus" à sua versão monoteísta, em especial as religiões abraãmicas.

os proto-ateus militantes sim, só não enxergam que o budismo é uma religião sem deus por exemplo..

14 de fevereiro de 2011 às 11:24:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

pra mim são falsos ateus pois descartam o deus tradicional, porem assimilam tudo o que ele quis impor via moralixos pos-yeshua/cia a la: de sempre a bunda ao outro, principalmente se este for a escoria simiesca mais abjecta e repulsiva..

14 de fevereiro de 2011 às 11:25:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

*pos-yeshua/cia a la: de sempre dar a bunda ao outro,

15 de fevereiro de 2011 às 11:57:00 WET  

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