sábado, janeiro 22, 2011

O QUE SE PASSA DE FACTO NA TUNÍSIA?...

Os média dominantes fazem constar que se trata de uma «contestação social» e de uma rebelião política, tão somente.

Entrementes, há uns quantos detalhes que levantam outra lebre... O presidente do Irão, que declarou «é muito claro que a nação da Tunísia se ergueu contra o ditador apoiado pelo Ocidente e usa slogans islâmicos, humanos, monoteístas e justiceiros. Por outras palavras, os Tunisinos estão a querer estabelecer a lei e os regulamentos do Islão.»
Várias outras forças islâmicas, de outras partes do mundo muçulmano, expressaram a sua grande satisfação pelo que está a acontecer na Tunísia, falando até numa «jihad» tunisina, como aqui se pode ler. E nesta outra página pode ler-se que mesmo na própria Tunísia há quem queira restaurar o domínio islâmico sobre o país, nomeadamente o Partido da Libertação.

Claro que pode sempre dizer-se que não passam tais declarações de tentativas de aproveitamento político por parte de forças islamistas, sempre prontas a cantar vitória. De qualquer modo, os sinais vão surgindo:
(...) não havia sinais visíveis de luto nacional nas ruas da capital tunisiana nesta sexta-feira, dia de oração nas mesquitas, onde pela primeira vez em 23 anos os sermões dos imãs não serão vigiados pela polícia. (...)

Não serão vigiados pela polícia... porquê?
E porque é que o eram antes?

O regime que agora caiu era laico. Ora, se a polícia vigiava os sermões, fazia-o em prol de um regime laico. E porquê? «Talvez» porque tivesse de controlar uma corrente islamista que por lá percorra os bastidores e subterrâneos da Nação?... Ora esse controlo agora acabou. Faz lembrar o caso da Turquia, onde o autoritarismo laicista e repressor kemaliano está a ser substituído por uma islamização progressiva da sociedade... faz também lembrar o Irão, onde a contestação começou, nos anos setenta, por ser laica e, num ápice, sucedeu a Revolução Islâmica e os outros opositores do regime do Xá Reza Palevi, os comunistas, foram varridos em três tempos.

4 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Mas porque querem os tunisínos voltar a um estado teocrático?
Será que no estado laico havia uma instabilidade que antes não havia? Do mesmo modo que alguns portugueses, perante a nossa situação actual, dizem frequentemete que no «tempo de Salazar é que era bom, isto não acontecia»?

22 de janeiro de 2011 às 22:38:00 WET  
Anonymous Anónimo said...

Os mérdia sempre aliados dos comunistinhas adoram falar em "lacidade", querem usar disto para justificar tudo o que fazem a Europa, principalmente para promover o maravilhosissímo e inquestionável multiculutalismo.Se a Europa tornar-se realmente islâmica, os que tanto apóiam os muslos pela Europa, os elitistas e comunistas, serão os primeiros a serem varridos do mapa, como aconteceu no Irã.A História nos ensina.

23 de janeiro de 2011 às 18:52:00 WET  
Anonymous Ademar César Faria said...

Aconselho este artigo:
Unlike in Egypt, Jordan, Algeria, and most other secular Arab autocracies, the main challenge to the Tunisian regime has not come from Islamist opposition but from secular intellectuals, lawyers, and trade unionists. The absence of a strong Islamist presence is the result of an aggressive attempt by successive Tunisian regimes, dating back over a half-century, to eliminate Islamists from public life. Ben Ali enthusiastically took up this policy in the early 1990s, putting hundreds of members of the al-Nahda party, Tunisia's main Islamist movement, on trial amid widespread allegations of torture and sentencing party leaders to life imprisonment or exile. Most influential Tunisian Islamists now live abroad, while those who remain in Tunisia have been forced to form a coalition with unlikely secular and communist bedfellows(...)

If it had been clear that Islamist opposition figures were playing a large role in the current unrest, the government would likely have doubled down on repressive measures. The Tunisian government is rooted in secular Arab nationalist ideology and has long taken its secularism and its nationalism more seriously than its neighbors. Habib Bourguiba, Ben Ali's predecessor and the father of the post-colonial Tunisian state, took over lands belonging to Islamic institutions, folded religious courts into the secular state judicial system, and enacted a secular personal status code upon coming to power.

Bourguiba, like Mustafa Kemal Ataturk in Turkey, viewed Islamists as an existential threat to the very nature of the Tunisian state. He viewed the promotion of secularism as linked to the mission and nature of the state, and because Islamists differed with him on this fundamental political principle, they were not allowed into the political system at all.
(...)
This history is vital to understanding why the protests were successful in removing Ben Ali's government. There is an appreciation within the corridors of power in Tunis that the Islamists are not at the top of the pile of the latest unrest. The protesters, though they represent a threat to the political elite's vested interests, have not directly challenged the reigning creed of state secularism.

Ben Ali's fate may have been sealed when military officers -- who had been marginalized by the regime as it lavished money on family members and corrupt business elites -- demonstrated a willingness to stand down and protect protesters from the police and internal security services. However, a military coup would also represent no ideological challenge to the regime -- the state's mission of advancing secular nationalism will continue even after Ben Ali's removal from power. And in the event that the military willingly cedes power and holds new elections in six months, the decimation of the Islamist movement over the last two decades means that any serious challenger is bound to come from a similar ideological background.

Lamento, Caturo, mas terás de te convencer que nem todos os muçulmanos querem teocracias, e de deixar de ver líderes islâmicos onde eles não estão...

29 de janeiro de 2011 às 19:01:00 WET  
Anonymous Ademar César Faria said...

Ah, e sobre os iranianos, lê isto:
As Tunisian President-for-Life Zine el-Abidine Ben Ali fled into ignominious exile two weeks ago, democrats around the world found hope in the notion that Tunisia's Jasmine Revolution would spread to Iran. The images of demonstrations from Sidi Bouzid to Tunis reminded Americans of the massive 2009 protests that gave rise to Iran's opposition Green Movement, and as pro-democracy movements inspired by Tunisia emerged in Egypt and Yemen, many observers saw a chance for Iran to be next.(...)

Despite the examples of Ben Ali and Egypt's beleaguered President Hosni Mubarak, Iran's leaders are far from running scared. In fact, Tehran is taking a distinctly more triumphalist understanding of the roots and effects of the Tunisian protests than American commentators would expect from another authoritarian Middle Eastern government -- particularly from one facing its own challenges from opposition forces.

In the week following Ben Ali's frantic flight to Saudi Arabia, reactions from Iranian officials and state-supported media were, as always, bold and self-assured. But this is no skin-deep grandstanding designed to force a positive spin on an unsettling example of political upheaval. Where Washington sees an anti-authoritarian uprising, Tehran describes a 1979-style rejection of a U.S.-supported secularist: Ahmadinejad referred to the Tunisian uprising as an expression of the people's will for an Islamic order, and the Iranian Majlis voted overwhelmingly to support the "revolution."

(...)

As for Ahmadinejad's critics, their point of view is not too different. The most important political fault line in Iran currently lies between hard-liners and more moderate conservatives within the Islamic Republic's establishment -- not between the government and the opposition. Optimistic Western observers might hope to see moderate conservatives take a different view from that of their archconservative rivals. But on the issue of Tunisia, the conservatives seem to be marching in lock step. While they have been more likely to read the events in Tunisia as a revolt against authoritarianism as such, even some of Ahmadinejad's main conservative critics see the uprising as evidence of the reach of the Islamic Revolution. A commentator in the often critical Mardom-Salari daily wrote that it was clear that Iran had shown Tunisia that "Islamism is superior to non-Islamic and secular governments in Islamic countries."

Basicamente, o que se verifica no Irão é um esforço de spin comunicacional com vista a transformar uma revolução verificadamente não-islâmica numa pulsão islamista. Não indicia, como mostra o texto que te mostrei antes, que os líderes da revolta sejam islamistas, ou sequer que os islamistas tenham um peso sócio-político digno desse nome na Tunísia.

29 de janeiro de 2011 às 19:13:00 WET  

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