SOBRE UMA SIMPATIA POR UM AGRESSOR NIGERIANO

O apresentador de televisão Jorge Gabriel aproveitou há pouco para meter nojo, em directo, na RTP1, quando comentava o jogo de futebol de ontem entre a Grécia e a Nigéria. Começou por considerar a equipa grega como «a nossa inimiga de longa data», o que bem se vê não passar de um ridículo exagero, baseado no que aconteceu no campeonato europeu de futebol de 2004, em que nem sequer houve qualquer confrontação ou polémica durante os jogos que Portugal perdeu. Depois, disse finalmente ao que vinha: aquilo de a Nigéria perder foi uma grande injustiça e tal porque «o jogo mudou completamente» com a expulsão indevida de um jogador nigeriano, e que o pobre rapaz até nem fez nada assim de tão grave, o jogador grego é que se atirou ao chão... Veja-se a cena:

Como se pode ver, o jogador africano não se limitou a passar uma rasteira ou a dar um encontrão mais violento numa disputa de bola - o jogador africano perseguiu o europeu pelo campo só para o agredir, com toda a impunidade que talvez tenha pensado ter, ou porque em África é mesmo assim (já o guarda-redes sul-africano também foi expulso, no jogo contra o Uruguai).

Comentário de Jorge Gabriel: «o jogador africano tinha sido provocado», ou coisa assim. Depois ainda disse que a equipa não devia ter sido prejudicada por um só jogador, e que o ideal era o jogador ter sido substituído...

Escapa-lhe por completo que em futebol, ainda para mais num jogo de tão óbvia relevância, um jogador não pode em momento algum agredir outro, nem na disputa da bola nem, muito menos, numa situação de alegada «provocação». E é responsável perante toda a equipa, e por toda a equipa, a qual terá por isso de pagar pelo erro de cada um dos seus jogadores. Em não sendo assim, qualquer selecção podia pôr em campo um pugilista disfarçado de jogador que «arrumasse» algum dos jogadores de melhor desempenho da equipa adversária e depois fazia-se de novas, «condenando» o gesto do seu jogador e substituindo-o muito calma e impunemente...
O jogador nigeriano, se não queria ser expulso, controlava-se. Não é uma criança e, por princípio, deve ser tratado como qualquer outro ser humano, a menos, claro, que por algum estranho motivo tenha alguma desculpabilização ou impunidade extra... alguma imunidade parlamentar... ou se calhar racial...

O supra-mencionado apresentador pago pelo contribuinte está pois a desculpar uma agressão, até a justificá-la, só porque, como eu já adivinhava, nutria indisfarçável simpatia pela Nigéria, equipa africana, e qual é o tuguinha merdiático que não aprecia a Mãe África? Recordo-me aliás da simpatia geral dos jornalistas tugas pela mesma selecção no Mundial de 2002, bem como do jogo entre a Nigéria e a Dinamarca, vencido pelos Escandinavos por 3-1, em que festejei cada um dos três golos da equipa europeia quase como se da selecção portuguesa se tratassem...

Importante, muito importante, é registar, bem registada, a natureza das interpretações veiculadas por uma destacada voz da televisão pública - desta vez pode-se ter uma noção muito aproximada do que esta gente é, comparando aquilo que todos vêm com aquilo que o apresentador diz do caso. E se isto é assim mesmo quando toda a gente pode ver o sucedido, como não será quando o público não pode ver o sucedido e tem de confiar apenas na palavra do apresentador/jornalista...