sexta-feira, março 05, 2010

MITO INDO-EUROPEU E GADO BOVINO

Na aurora dos tempos, dois irmãos, Manu e Yemo, viajavam com uma vaca sagrada. Os gémeos decidiram criar um novo mundo para a "humanidade". Por isso, Yemo teve de ser sacrificado e pelo seu irmão, com a ajuda dos Deuses do Céu, para produzir a humanidade. Manu criou a terra, a água, o ar e o fogo, e tornou-se no primeiro sacerdote da nova ordem mundial.
Uma vez o mundo criado, os Deuses do Céu deram gado a Trito (o terceiro homem). O gado foi roubado por uma serpente de três cabeças, o que levou Trito a procurar o monstro na sua caverna numa montanha e a matá-la com o auxílio do Deus da Tempestade, libertando assim o gado. Trito tornou-se no primeiro guerreiro.
Todos os falantes indo-europeus (Germanos, Celtas, Romanos, Gregos, Hititas, Iranianos, Hindus) desenvolveram a sua própria versão do mito da fundação, derivado de uma ancestralidade partilhada.
Manu, o progenitor da humanidade, foi também o primeiro rei a reinar nesta terra. Manu, nome hindu, é conhecido na mitologia germânica sob o nome de Mannus. Para os Germânicos, Mannus foi o progenitor das três primeiras tribos germânicas. É tentador ver aqui uma ligação às três linhagens paternas encontradas nos povos germânicos: haplogrupos I1, R1A e R1B. O gémeo de Manu, Yemo, tornou-se o Ymir da mitologia nórdica e o Yama do Hinduísmo/Budismo.
O mito da fundação romana, a história de Rómulo e de Remo, é outra variante do mito da criação indo-europeu. Mannus seria Romulus (Romanus?), matando o seu irmão gémeo Remo (Yemo, ou Iemus em Latim) para criar Roma. A lenda foi inventada séculos após a verdadeira fundação de Roma, como os nomes Mannus e Iemus adaptados à fonologia da cidade (daí os prefixos Ro- e Re-).
Os Deuses do Céu podem ser identificados como Odin e Thor na mitologia germânica, Taranis na mitologia céltica, Perun/Perkunas para os Eslavos e os Baltas, ou Zeus/Júpiter e o Seu panteão para os Greco-Romanos.
Previsivelmente, o gado tornou-se num símbolo da Divindade entre os Indo-Europeus. O touro veio a ser o veículo de Xiva no Hinduísmo, enquanto Crichna, avatar de Vichnu, é usualmente representado a montar uma vaca. No Zoroastrismo, a religião indo-europeia do povo iraniano, muito aparentada com o Hinduísmo, as terras de Zaratustra e dos sacerdotes védicos eram as dos criadores de gado.
Embora o gado não tenha usufruído da mesma sacralidade entre os Ítalo-Celtas, Germanos ou Eslavos, as vacas eram uma parte vital da sua sociedade para o transporte, a carne e o leite. O consumo de lacticínios era tão importante para os povos indo-europeus que a tolerância à lactose é agora quase exclusivamente encontrada entre os seus descendentes. A percentagem de haplogrupos Y indo-europeus (R1A e R1B) numa população é um indicador bastante bom da prevalência da persistência da lactose. Com base em testes genéticos, estima-se que a mutação da tolerância à lactose apareceu primeiro nas estepes a oeste dos montes Urais por volta de 4600 - 2800 a.c..


In «The Horse, The Wheel, and Language» p.326.