sexta-feira, outubro 10, 2008

VER «OBSESSION»

Quem quiser ver o filme «Obsession», cuja distribuição causou e causa forte polémica nos EUA, como aqui, se noticiou, quem quiser ver esta película pode, ou procurá-la no YouTube, ou, para a ver toda seguida sem estar a carregar episódio por episódio, neste artigo do Minuto Digital.

O documentário, estreado em 2005, é composto de filmagens retiradas dos meios de comunicação social árabes, intercalados com comentários de especialistas e conhecedores do mundo islâmico. Podem observar-se apelos à jihad ou guerra santa transmitidos por canais televisivos muçulmanos, incluindo a declaração, clara e inequívoca, da vontade islamista de tomar o planeta; a mesma mensagem é audível em filmagens de mesquitas e em escolas islâmicas (madrassas).
Este trabalho cinematográfico ganhou o prémio do Best Feature Film 2005 Liberty Film Festival e recebeu posteriormente outros galardões, mas, sintomaticamente, permanece quase por completo desconhecido do grande público...

E não admira que assim seja - mesmo dizendo o filme que a maioria dos muçulmanos são pacíficos, a politicagem correcta fica incomodada com o seu conteúdo, o que poderá surpreender os ingénuos que não percebam que o que a politicagem correcta realmente quer é que nada de muçulmano, extremista ou não, receba uma crítica séria e consequente. Para a claque multirracialista/multiculturalista, só se pode falar do Islão radical para se dizer que «é minoritário e não verdadeiramente muçulmano», e parou aí, não se diz mais nada que não é preciso, tudo o resto é «supérfluo» e «incita à xenofobia»...

E porquê?

Porque a hoste anti-racista e islamófila não quer que os Ocidentais percebam isto: dos mil milhões de muçulmanos que há no mundo, supõe-se que a percentagem dos que simpatizam com posições extremistas não vá além dos vinte ou trinta por cento, coisa realmente minoritária, pois é - só que vinte por cento de mil milhões são duzentos milhões. Duzentos milhões. E disseminados um pouco por todo o mundo, inclusivamente na Europa...

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Estas linhas a duas mãos, mais do que um curto ensaio, são uma narrativa de memória abreviada. Ela sustenta que a relação de Portugal com a Europa, longe de uma história de amor, é um casamento de interesse que sucedeu a um divórcio tardio e mal resolvido com as colónias. Como se um fado perseguisse esta nação que um dia se atrasou no Tempo e dele ficou refém. Até hoje.

1. Portugal entra na Europa pela direita baixa, ou seja, pelo Atlântico.

A relação do fascismo português com a construção europeia do segundo pós-guerra não foi um acto de qualquer súbita fé europeísta, ou sequer a revelação de um apurado sentido estratégico das nossas classes dirigentes. O Portugal anti-democrático que foi convidado a ser membro fundador da Nato em 1949 e que entra na defunta EFTA em 1959 é um país que joga à defesa no rescaldo de uma guerra que redesenhou o mapa-mundo sobre a morte de 20 milhões de inocentes.

Na sequência desta, o acolhimento do Portugal salazarista em instituições euro-atlânticas supostamente vocacionadas para a defesa supra-nacional de um código democrático, foi, evidentemente, uma piada de mau gosto. Neste primeiro rendez-vous do ditador com a «Europa» jogam-se, dos dois lados, finos cálculos. O contexto em que ocorre é já o da Guerra Fria. Salazar quer a cobertura dos vencedores para a manutenção do Império colonial e um enquadramento internacional protector da ordem ditatorial interna. A sua jóia para a nova arrumação mundial das forças é uma pequena metrópole anti-comunista na Europa, com vastos territórios em África e uma base preciosa para o controlo do Atlântico norte, os Açores. Do outro lado, o dote interessa. Interessa o bastante para que a promessa democrática do pós-guerra seja metida na gaveta do esquecimento. O regime português é tributário dos que perderam a guerra, mas isso é um pormenor no novo quadro. Porque o verdadeiro problema era mesmo o quadro saído da II grande guerra.

A União Soviética sai da dita com um prestígio sem par. A nação que pagou o mais alto preço, que foi o palco onde a guerra virou e que em Berlim assesta o golpe final no inimigo, jamais voltaria a alcançar tal reconhecimento.

O prestígio dos comunistas na Europa devastada sobe igualmente em flecha. Em regra, eles estiveram na primeira linha das múltiplas resistências armadas à ocupação nazi e, nesse processo, «nacionalizaram-se». Ou seja, enraizaram-se entre os operários e os intelectuais dos respectivos países. Em vários países, eles emergem com legitimidade para integrarem os primeiros governos de reconstrução.

Finalmente, mas não menos importante, o rescaldo da guerra trazia a pior das notícias para as velhas ordens imperiais: o dobre de finados do colonialismo puro e duro. Uma multidão de novos países anunciava a sua firme intenção de existir.

Neste panorama, o contra-ponto eram os Estados Unidos da América. A sua entrada na guerra desequilibra a máquina de guerra nazi, obrigando-a ao combate simultâneo em todas as frentes. O principal, contudo, era a geografia. Não houve guerra na América do Norte. No rescaldo, os EUA surgem como a única grande nação em condições de, simultaneamente, proteger a Europa do espectro do comunismo e financiar a sua segunda reconstrução no espaço de 25 anos.

Neste contexto, os acordos de Ialta limitaram os danos sem trancarem, de per si, a História. A URSS ganhava uma fronteira eslava alargada em troca do bloqueio à ascensão dos partidos comunistas ao poder político nos países da Europa ocidental. E a Europa ocidental reconstruir-se-ia na esfera de influência dos EUA. O resto, o chamado 3º Mundo, escrever-se-ia como tivesse que ser escrito. Mas friamente, sem que uma nova guerra global trouxesse de volta o inferno. As potências vencedoras eram, na recém criada ONU, o garante desta nascente ordem bipolar.

Cada um vê o mundo de acordo com a cadeira onde se senta e Salazar era um ditador avisado. Também ele queria fria a política. Descortina os novos alinhamentos e tendências e, provavelmente, pressente a tensão que se desenha já, indisfarçável, entre os diferentes líderes europeus, uns firmemente atlântistas, outros sonhando com uma Europa capaz de caminhar pelos seus próprios pés a partir da aliança selada entre a França e a Alemanha. Na nova ordem, Salazar prefere a velha Inglaterra, valor seguro do conservadorismo, e os EUA porque não pode deixar de ser. Ele aproxima-se da Europa pelo Atlântico, porque marítimo é, além do mais, o império que dirige. Em nada deste primeiro acto, há grama de ideia europeia. Portugal é atlântico e africano. Europeu só de empréstimo, quem se equivoca é a geografia.

2. Colonizadores e colonizados

A tensão entre atlantistas e europeístas atravessa, já nos inícios da década de 70, a reflexão sobre aquilo a que Boaventura Sousa Santos chamou a renegociação do estatuto semiperiférico da sociedade portuguesa. Com efeito, a economia portuguesa tinha-se progressivamente aberto ao exterior. Quando em 1972, Portugal formaliza um acordo de associação com a então CEE, mais não faz do que reconhecer essa realidade e garantir a sua projecção para o futuro. A nossa industrialização, apesar de tardia e subsidiária, tinha incorporado no tecido industrial actividades em novos sectores (naval, mecânico e eléctrico, sobretudo) ao lado dos tradicionais “excessos de especialização” no têxtil, vestuário e calçado. Esta alteração veio de par com a consolidação de uma mão cheia, não mais, de grupos simultaneamente industriais e financeiros gozando das mais elevadas protecções do Estado. Encontramo-nos ante história económica conhecida, mas que coexistia com uma outra, bem mais antiga e não menos monopolista, que dirigia as suas atenções para as relações entre as colónias e a metrópole e para a intermediação com os grupos económicos multinacionais interessados na extracção de matérias primas em África. Esta identidade rentista da economia portuguesa, explica muito, talvez o essencial, do atraso nacional. “Viver dos rendimentos”, eis a divisa sagrada dos que, ao longo de séculos sangraram as colónias e empobreceram o país, adiando sempre e sempre a sua industrialização.

A expansão ibérica de quinhentos teve dimensão épica bastante para ser cantada n’Os Lusíadas e importância suficiente para deslocar o centro de gravidade do “mundo conhecido” - do Mediterrâneo para as novas potências atlânticas. Mas no caso português tal aventura, prisioneira da contra-reforma e de um absolutismo que funcionalizou a burguesia nascente, dificilmente podia ir além de uma colonização de costa que privou a metrópole das suas mais dinâmicas energias. De per si, cada uma destas restrições não teria provocado a catástrofe. Mas em conjunto foram a catástrofe. No inicio de oitocentos, Portugal é uma metrópole que vive do ouro do Brasil e que parasita as vontades que espalhara pelos quatro continentes. É nessa altura que assina o mais fatal dos seus destinos – o tratado de Methuen. Este documento seria utilizado mais tarde por David Ricardo em abono da tese clássica, segundo a qual as nações têm vantagem em especializar-se nos domínios onde apresentem melhor competitividade comparada. Matematicamente, a teoria das vantagens comparativas batia certo. Na realidade, tal opção trancava por mais de 200 anos a industrialização do nosso país. Quando no século XIX, em corrida contra o tempo, exploradores portugueses atravessam África de lés a lés, colocando bandeirinhas para melhorar a posição portuguesa nas discussões do mapa cor de rosa, era a realidade de um país comercial, rentista, intermediário e já sem o ouro do Brasil, que se procurava enganar. Nesse mesmo período, em Moçambique, pedaços de território do tamanho de países eram entregues por períodos de décadas a sociedades inglesas mais ou menos falidas, do mesmo modo que mais tarde as riquezas minerais e petrolíferas de Angola iriam parar às mãos das companhias multinacionais. Quanto à metrópole, a sua independência face a Inglaterra há muito se tinha esfumado. Nós tínhamos o vinho do Porto, eles a transformação industrial do algodão das Índias…

A opção atlântica de Salazar não comportava, já se vê, qualquer novidade de monta – ela apenas prolongava para a segunda metade do século XX uma História de colonização e dependência que lhe era bem anterior. Salazar era ao mesmo tempo produto e motor de uma cultura atávica e conservadora que sempre compensara a sua pequenez de vistas com a “grandeza ultramarina”.

Esta cultura, que por comodidade diremos de fundo luso-tropical, impôs a sua congénita suspeição diante dos projectos europeus iniciados com a Comunidade do carvão e do aço e, consequentemente, insistiu sempre num alinhamento privilegiado com os teatros euro-atlânticos, designadamente a NATO.

O acordo de associação com a CEE, esse segundo rendez-vous entre o país e a Europa, é ainda um empate. Mais do que dar razão aos industrialistas não dependentes do Império, esse acto ilumina a grande contradição em que o país se encontrava mergulhado nas vésperas do 25 de Abril: para usar uma expressão cara a Mário Murteira, nação e império eram portadores de interesses inconciliáveis. As colónias e a guerra amarravam o país ao subdesenvolvimento crónico.

10 de outubro de 2008 às 14:08:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

O Sebastianismo na Mensagem



O tema do Sebastianismo é porventura o mais complexo e o mais simples de todos aqueles que assombram a história da nacionalidade. Trata-se de um drama histórico, que naturalmente fez nascer sentimentos romanticos e saudosistas, no lado da simplicidade, tal como um drama psiquico, fazendo nascer questões mais profunda, questões que dizem respeito ao ser mais intimo. Pessoa é poeta, sem dúvida, mas o seu tratamento do Sebastianismo não é poético. Ele trata o drama psiquico, se quisermos, a questão do mito enquanto assombração da alma portuguesa, a perda da identidade nacional, a perda da independencia e a restauração de valores antigos de nobreza.

Quase que pretendendo estabelecer os cânones de uma religião nacional – era de facto um dos seus objectivos – Pessoa escapeliza o mito em todos os seus aspectos. Deste modo se explica a análise paralela do papel de D. Sebastião do ponto de vista astrológico e mesmo ocultista – relembre-se a análise das Trovas de Bandarra e de Nostradamus que Pessoa efectua, tentando o enquadramento profético rigoroso. Para Pessoa, seria possivel basear uma fé na figura tornada mito do Rei desaparecido, porque Portugal se identificara perfeitamente com o drama desse desaparecimento. Portugal uma vez grande, que na juventude (desde a independencia nacional com a conquista dos Algarves á primeira batalha em Marrocos passam menos de 200 anos) qual rei-menino se aventura na guerra, fazendo da sua própria vida um lema de honra e nobreza em nome de valores mais altos que os humanos. O Rei (a Nação) que se perde na noite (decadência) renascerá na manhã de nevoeiro (renascimento ainda com resticios de morte). Identificando o regresso do Rei, a segunda vinda, ás vezes com figuras reais – D. João IV, ou mais intensamente Sidónio Pais – não deixa de o associar com um esquema maior das coisas, um renascimento espiritual em grande escala, onde Portugal seria de novo líder, porque primeiro império maritimo universal caido.

Na Mensagem, primeira parte, D. Sebastião é um dos cinco principes infelizes e martires, e é o quinto, no que de simbólico isto tem. No Mar Portuguez, segunda parte, surge o mito, na noção providencial da história, quando Deus se revela nos instantes de fractura da história. Na terceira parte, D. Sebastião é já divinizado, surge o quinto império, enquanto império do espirito, escatológico e redentor. Depois, noutro simbolo, D. Sebastião é o Desejado, que regressa com o santo graal – a nova religião que ele mesmo vai representar. No quarto simbolo, domina o insconsciente colectivo, para no quinto simbolo surgir refulgente em nova e magnifica revelação. Na cruz morta e fatal a Rosa do Encoberto, ou seja, D. Sebastião substitui na cruz, no martirio, Jesus de Nazaré. Como nos pedira para trocar Fátima por Trancoso, Pessoa pede que troquemos o mito judaico pelo mito lusitano. Mais á frente, nos avisos, portugal é definido por esse nevoeiro que ainda permeia todas as coisas. Nevoeiro, dispersão, névoa, esperanças sem um guia, perdidas. O Sebastianismo de Pessoa, não é lirico, como o Camoniano, porque se exige a crença na espera do Encoberto, sabe que esse regresso será um regresso em carne. Pessoa procura febrilmente pistas. Analisa a trova XI de Nostradamus, chegando num momento á sua própria data de nascimento – 1888.

O Poeta que anunciara o Super-Camões nas suas primeiras aventuras na escrita, chegou a pensar que poderia ser ele próprio o regresso da esperança. Não um Rei-Filósofo como queria Platão para a sua república, mas um Rei-Poeta, que não lideraria com a razão, mas com um entendimento profundo do psiquismo nacional. Mas no fim seria fraco demais para um trabalho tão imenso. A Mensagem acabou por ficar como obra da mente que pretendia a agitar os corpos, insinuando que o regresso do Rei era demasiado poderoso para ser assumido por um só homem, mas não por todos os homens, no seu coração.

10 de outubro de 2008 às 14:18:00 WEST  
Anonymous Anónimo said...

A Europa em geral, e em especial a esquerda socialista dita “moderna”, convenceram-se que a competitividade do Velho Continente só se conquistaria através da destruição do Estado Social. Ou seja, da destruição de um património civilizacional que conduziu a Europa a um estatuto de superioridade ética, alicerçado numa sociedade onde a democracia e a economia de mercado caminham de mão dada com justiça social.

Destruir este património significaria a implosão de um modelo social que tornou universal o acesso à saúde, à educação e à reforma.

É preciso não ignorar que por mais direitos que na Europa sejam revogados, nunca chegaremos sequer perto da iniquidade social existente nos países do “capitalismo selvagem”. Ou seja, não é pela destruição do nosso modelo social que nos tornaremos mais competitivos.
Por este caminho, o desastre será inevitável: alarga-se o fosso entre os mais ricos e os mais pobres; mais dificuldades para os mais vulneráveis; mais fracturas sociais que, em última instância, colocarão em causa os equilíbrios que tornaram a Europa num espaço de tranquilidade e paz.

Os populistas do PSD são de esquerda. Já o era Santana Lopes (bem à esquerda de Sócrates no debate que os opos), e hoje é-o Luís Filipe Menezes. O texto acima é do seu blogue, num post que se chama social, não socialismo. O título não se percebe o que quer dizer, mas nunca esperei dele grande capacidade intelectual.

Com um PSD destes, para que é preciso o Bloco? São as mesmas ideias, só mudam a camisa. Os do BE usam camisa de cor única, botão desapertado; os do PSD usam camisa aos quadrados, apertadas. Mas ninguém se veste tão bem como os do PS. É isto o debate político no nosso país, qual a melhor marca de camisas.

10 de outubro de 2008 às 14:23:00 WEST  

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