PAGÃOS VOLTAM À ACRÓPOLIS

A organização pagã Ellinais, que já foi referida aqui e aqui, realizou no passado dia 31 de Agosto uma manifestação seguida de oração com cerca de duzentas pessoas nas ruínas da Acrópolis, local onde se encontra o Partenon, grande monumento histórico-religioso da Grécia e da Europa construido em honra de Atena por volta de 447-432 a.c..
O protesto incidiu sobre a decisão governamental de construir na área da Acrópolis um novo grande museu. A porta-voz do grupo, sacerdotisa Doretta Peppa, descreveu o novo edifício como «uma inacreditável monstruosidade arquitectónica que insulta a herança cultural (da Grécia). Mesmo que aceitássemos que era necessário um novo museu, este deveria ser feito num estilo próximo do dos antigos edifícios. Não se trata dum museu de arte moderna.»
Muitas antigas estátuas gregas estão a ser levadas dum pequeno e antigo museu para esse novo local. Peppa afirma que era melhor que tais obras de arte tivessem ficado nos antigos templos gregos, donde têm vindo a ser retiradas por ordem do governo para impedir a sua erosão devida ao ar poluído da capital helénica.

A Ellinais realizou uma oração em grupo a Atena, Deusa da Sabedoria e Protectora de Atenas, para que fosse travada a remoção de esculturas e peças dos templos para os museus.
Argumenta a sacerdosita e porta-voz que «os elementos estruturais dum templo não devem ser movidos e preocupamo-nos com as consequências disso».

Como já aqui se leu, o grupo Ellinais, em campanha para reviver a antiga religião dos seus ancestrais, tem desafiado a proibição emitida pelo Ministério da Cultura de realizar orações em vários templos gregos.

Um facto curioso, que Peppa considera ser mais do que mera coincidência, foi que quando começou a cerimónia, começou também a chover, e a chuva só parou no final da cerimónia.

A polícia não fez qualquer gesto para deter o ritual, que durou cerca de vinte minutos.


Religiosamente falando, o grupo Ellinais afirma que o Cristianismo e o Islão têm como Deus uma figura de autoridade que está demasiado longe da humanidade e da Natureza.
Denuncia, entretanto, o poder que o Cristianismo Ortodoxo tem a nível oficial, o que dez com que os crentes dos Deuses Olímpicos tivessem já sido incomodados algumas vezes pelas autoridades, além dos problemas que tiveram nos respectivos empregos.

Como é sabido, o Cristianismo impôs-se oficialmente no País em finais do século IV; os últimos vestígios formais do culto aos Deuses antigos foram soterrados pelo poder político quando em 394 o beatíssimo imperador Teodósio proibiu os Jogos Olímpicos.
O Parténon, construido entre 447 e 432 a.c. na Acrópolis como templo de Atena, foi convertido em igreja cristã no século V, e, em 1456, os Otomanos dele fizeram uma mesquita. Actualmente funciona como museu.

O museu, no contexto, é bem o símbolo duma certa contemporaneidade: a petrificação, a historicização, o relegar as coisas para um passado compartimentado e fechado. Assim, esta transformação sucessiva da Acrópolis afigura-se a uma petrificação (museu) depois dum assassínio (transformação em igreja e em mesquita). Mas como o que é eterno poderá sempre retornar, eis que, há três dias, o local sagrado voltou a ser palco dum ritual pagão, função para a qual foi construído, evento que não se realizava há mais de mil e quinhentos anos.

Porque, tarde ou cedo, o bom filho a casa torna...