PAGÃOS BRITÂNICOS EXIGEM DEVOLUÇÃO À TERRA DOS OSSOS ESTUDADOS POR CIENTISTAS
Há grupos pagãos britânicos a exigir que os ossos e os vestígios arqueológicos encontrados em locais funerários pagãos sejam recolocados nos seus devidos lugares depois de serem estudados pelos arqueólogos. Afirmam que a presença em laboratórios do que constitui restos funerários ancestrais, constitui uma afronta aos seus antepassados e à sua religião. Consideram que os ossos dos mortos estão unidos aos seus descendentes e à terra sagrada.
Alguns cientistas retrucam que, devido ao facto de a Britânia ter recebido muitos influxos de vários povos, é impossível identificar os descendentes genéticos dos pagãos anglo-saxões e de povos mais antigos. Dizem também que devolver os ossos para serem re-inumados, seria uma traição ao dever do museu para com a sociedade e uma perda para a ciência.
Não obstante, os pedidos pagãos para que haja re-enterramentos de ossos tornam-se cada vez mais comuns. O Natural History Museum, o British Museum, o Leicester Museum, o Manchester Museum, o Devizes Museum e o Duckworth Laboratory da universidade de Cambridge têm estado em conversações com grupos pagãos.
Na semana passada, o Concílio das Ordens dos Druidas Britânicos manifestaram-se junto ao museu Alexander Keiller, em Wiltshire, em prol da re-inumação dum esqueleto de criança encontrado numa escavação em Windmill Hill no ano de 1929. Este grupo neo-druídico está em diálogo com o English Heritage e o National Trust a respeito deste assunto.
«Gostaríamos que as pessoas reconsiderassem a sua relação com os ossos. Consideramos que se trata de pessoas vivas e portanto têm direitos como pessoas. Porque os ancestrais não podem dar o seu consentimento deste modo, o Concílio fala por eles.» argumenta Paul Davies, membro do grupo neo-druídico destacado para discutir este caso.
Muitos cientistas estão furiosos pela perspectiva de que as gerações futuras não tenham acesso ao material que lhes poderia dar um grande entendimento sobre as vidas dos antigos Britânicos. «O que se perderia seria muito simplesmente a única fonte material que temos para descobrir coisas sobre as pessoas do passado. Não há nada mais directo do que os restos humanos», alegou Holger Schutkowski na universidade de Bradford. Schutkowski é o líder da Associação Britânica de Antropologia e Osteoarqueologia Biológica. «Não há evidência de que os actuais grupos pagãos tenham qualquer ligação directa e não interrompida com os sistemas religiosos do passado... portanto, penso que se trata duma reclamação injustificada» conclui.
Têm sido registadas mais reivindicações desta natureza, mas vindas de mais longe - a Grécia, por exemplo, insiste em que a Inglaterra lhe devolva os mármores do Parténon; e alguns administradores de museus já concordaram em devolver certos vestígios arqueológicos aos Aborrígenes Australianos. «Trata-se duma questão de grandes dimensões para os museus de todo o país, mas que não estava a ser discutida. A discussão tinha sido deliberadamente sufocada nalguns círculos» informa Piotr Bienkowski, director do museu de Manchester.
Ora os ossos australianos foram devolvidos num clima de recriminações e complexos de culpa colonialistas. Mas os pagãos britânicos assumem uma postura mais branda e conciliadora. «Não é uma questão de exigir re-enterramento ou repatriação. Estamos é a dizer-lhes para verem o que é possível fazer em vez de arvorarmos bandeiras» esclarece Emma Restall Orr, da Honouring Ancient Dead (Honrando os Mortos Antigos), a qual reconhece valor a alguma pesquisa. Este grupo reconhece pois a validade do estudo científico, mas quer que os ossos com menor potencial para o estudo científico sejam recolocados nos locais funerários donde foram retirados.
Outros pagãos impressionam-se menos com o que a ciência tem para oferecer. «Qualquer história que é reconstruída a partir de dados será um passado imaginado, o qual usualmente acaba por se revelar como uma impressão do presente imposta ao passado» afirmou Davies. O Concílio Druídico não é contra o estudo dos restos humanos em si, mas opõe-se à sua retenção em museus. «Não são amostras, são partes de corpos, são partes de pessoas, são partes do espírito» assevera Davies.
Alguns cientistas dizem que os modernos grupos pagãos não têm nenhum direito a representar os ossos. «Gostariam de se ver a si próprios numa posição em que pudessem representar os vestígios pré-históricos da Britânia, mas não é o caso. Não estão de facto a falar em nome de ninguém» alegou o prof. Schutkowski.
Este ponto de vista está longe de ser consensual. Há nos museus quem reconheça que é injusto que os cientistas imponham o seu modo de ver aos pagãos. «Pensamos que há de facto um argumento intelectual para que as reivindicações pagãs sejam levadas a sério. Trata-se duma diferente mundivisão que, tal como a mundivisão científica, não pode ser nem provada nem desprovada. É nossa responsabilidade ter em conta ambos os pontos de vista. Que direito têm os cientistas de falar em nome dos ossos?», afirmou Bienkowski.
De facto, os argumentos dos cientistas enfermam de vícios lógicos derivados de modos de pensar pouco ou nada sustentáveis à luz da ética e da racionalidade.
Em primeiro lugar, ninguém tem qualquer espécie de autoridade para determinar se os modernos pagãos praticam ou não rituais efectivamente ligados às religiões antigas, não só porque nem os mais argutos investigadores do tema podem gabar-se de conhecer integralmente essas religiões antigas, mas sobretudo porque, de qualquer modo, até mesmo os rituais antigos se alteravam em diferentes épocas; e, em última análise, a validade do ritual é para ser julgada por poderes não humanos.
Em segundo lugar, é essencial afirmar o argumento étnico - neste caso em concreto, sucede que todo e qualquer britânico é naturalmente herdeiro do património espiritual pagão, quer disso tenha conhecimento quer não tenha, e quer queira quer não.
Por conseguinte, o prof. Schutkowski não tem razão em nenhum dos seus argumentos.
Alguns cientistas retrucam que, devido ao facto de a Britânia ter recebido muitos influxos de vários povos, é impossível identificar os descendentes genéticos dos pagãos anglo-saxões e de povos mais antigos. Dizem também que devolver os ossos para serem re-inumados, seria uma traição ao dever do museu para com a sociedade e uma perda para a ciência.
Não obstante, os pedidos pagãos para que haja re-enterramentos de ossos tornam-se cada vez mais comuns. O Natural History Museum, o British Museum, o Leicester Museum, o Manchester Museum, o Devizes Museum e o Duckworth Laboratory da universidade de Cambridge têm estado em conversações com grupos pagãos.
Na semana passada, o Concílio das Ordens dos Druidas Britânicos manifestaram-se junto ao museu Alexander Keiller, em Wiltshire, em prol da re-inumação dum esqueleto de criança encontrado numa escavação em Windmill Hill no ano de 1929. Este grupo neo-druídico está em diálogo com o English Heritage e o National Trust a respeito deste assunto.
«Gostaríamos que as pessoas reconsiderassem a sua relação com os ossos. Consideramos que se trata de pessoas vivas e portanto têm direitos como pessoas. Porque os ancestrais não podem dar o seu consentimento deste modo, o Concílio fala por eles.» argumenta Paul Davies, membro do grupo neo-druídico destacado para discutir este caso.
Muitos cientistas estão furiosos pela perspectiva de que as gerações futuras não tenham acesso ao material que lhes poderia dar um grande entendimento sobre as vidas dos antigos Britânicos. «O que se perderia seria muito simplesmente a única fonte material que temos para descobrir coisas sobre as pessoas do passado. Não há nada mais directo do que os restos humanos», alegou Holger Schutkowski na universidade de Bradford. Schutkowski é o líder da Associação Britânica de Antropologia e Osteoarqueologia Biológica. «Não há evidência de que os actuais grupos pagãos tenham qualquer ligação directa e não interrompida com os sistemas religiosos do passado... portanto, penso que se trata duma reclamação injustificada» conclui.
Têm sido registadas mais reivindicações desta natureza, mas vindas de mais longe - a Grécia, por exemplo, insiste em que a Inglaterra lhe devolva os mármores do Parténon; e alguns administradores de museus já concordaram em devolver certos vestígios arqueológicos aos Aborrígenes Australianos. «Trata-se duma questão de grandes dimensões para os museus de todo o país, mas que não estava a ser discutida. A discussão tinha sido deliberadamente sufocada nalguns círculos» informa Piotr Bienkowski, director do museu de Manchester.
Ora os ossos australianos foram devolvidos num clima de recriminações e complexos de culpa colonialistas. Mas os pagãos britânicos assumem uma postura mais branda e conciliadora. «Não é uma questão de exigir re-enterramento ou repatriação. Estamos é a dizer-lhes para verem o que é possível fazer em vez de arvorarmos bandeiras» esclarece Emma Restall Orr, da Honouring Ancient Dead (Honrando os Mortos Antigos), a qual reconhece valor a alguma pesquisa. Este grupo reconhece pois a validade do estudo científico, mas quer que os ossos com menor potencial para o estudo científico sejam recolocados nos locais funerários donde foram retirados.
Outros pagãos impressionam-se menos com o que a ciência tem para oferecer. «Qualquer história que é reconstruída a partir de dados será um passado imaginado, o qual usualmente acaba por se revelar como uma impressão do presente imposta ao passado» afirmou Davies. O Concílio Druídico não é contra o estudo dos restos humanos em si, mas opõe-se à sua retenção em museus. «Não são amostras, são partes de corpos, são partes de pessoas, são partes do espírito» assevera Davies.
Alguns cientistas dizem que os modernos grupos pagãos não têm nenhum direito a representar os ossos. «Gostariam de se ver a si próprios numa posição em que pudessem representar os vestígios pré-históricos da Britânia, mas não é o caso. Não estão de facto a falar em nome de ninguém» alegou o prof. Schutkowski.
Este ponto de vista está longe de ser consensual. Há nos museus quem reconheça que é injusto que os cientistas imponham o seu modo de ver aos pagãos. «Pensamos que há de facto um argumento intelectual para que as reivindicações pagãs sejam levadas a sério. Trata-se duma diferente mundivisão que, tal como a mundivisão científica, não pode ser nem provada nem desprovada. É nossa responsabilidade ter em conta ambos os pontos de vista. Que direito têm os cientistas de falar em nome dos ossos?», afirmou Bienkowski.
De facto, os argumentos dos cientistas enfermam de vícios lógicos derivados de modos de pensar pouco ou nada sustentáveis à luz da ética e da racionalidade.
Em primeiro lugar, ninguém tem qualquer espécie de autoridade para determinar se os modernos pagãos praticam ou não rituais efectivamente ligados às religiões antigas, não só porque nem os mais argutos investigadores do tema podem gabar-se de conhecer integralmente essas religiões antigas, mas sobretudo porque, de qualquer modo, até mesmo os rituais antigos se alteravam em diferentes épocas; e, em última análise, a validade do ritual é para ser julgada por poderes não humanos.
Em segundo lugar, é essencial afirmar o argumento étnico - neste caso em concreto, sucede que todo e qualquer britânico é naturalmente herdeiro do património espiritual pagão, quer disso tenha conhecimento quer não tenha, e quer queira quer não.
Por conseguinte, o prof. Schutkowski não tem razão em nenhum dos seus argumentos.
3 Comments:
acho que é acima de tudo uma questão de respeito pelos antepassados, que é coisa que hoje em dia já sabemos não abunda... de qualquer modo não vejo mal em serem feitas pesquisas arqueológicas, se feitas com o devido respeito pelos restos mortais pas pessoas e que os voltem a colocar no sítio... se os vestígios forem devidamente catalogados e registados, não vejo necessidade de os ter ali 'sempre à mão'...
lembro-me também de ter lido qualquer coisa há anos na revista time ou algo assim sobre os indíos norte americanos fazerem exigências semelhantes. e acho bem.
Precisamente. Estudem tudo o que tenham a estudar e depois devolvam os ossos e os despojos funerários aos respectivos sítios mortuários.
mas o ser humano nao é de confiança e se voltassem a meter no sitio decerto os ossos e objectos desses mortos desapareceriam em segundos
penso que é melhor ficarem guardados num sitio seguro.
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