quinta-feira, dezembro 09, 2004

ALEXANDRE DA MACEDÓNIA

Vi ontem o filme «Alexandre» e constatei o que já esperava: é óbvio que está carregado de mensagem política, a saber, uma apologia do multirracialismo, defendido por Alexandre como modo de alcançar aquilo a que se pode chamar mundialismo - um governo único para todos os povos, misturados entre si, num espaço comum a todos pertencente.
Esta intenção do filme é evidente, não só nas asserções que a personagem principal profere, mas também na sua escolha para noiva principal uma mulher de outra raça, tendo o realizador chegado ao ponto de apresentar uma actriz negra para desempenhar o papel da eleita do «rei do mundo». No meio de tantas mulheres de esplêndida beleza, o conquistador macedónio acaba por preferir precisamente uma negra. O caso torna-se ridículo quando se sabe que a negra em questão é aqui uma filha de um chefe tribal da Ásia Ocidental. Chefes tribais negros na Ásia Ocidental? Aldrabice demagógica.

Os amigos de Alexandre, seus velhos camaradas de armas macedónios, opunham-se-lhe no seu sonho - não queriam misturas com outras gentes, desejavam viver em liberdade na sua terra e não estavam dispostos a ter de curvar-se perante um líder, exaltando por isso o modelo de Filipe, pai de Alexandre, que decidia tudo em assembleia, entre iguais. Ou seja, eram verdadeiros ocidentais como eu nunca vi representado em nenhuma outra película.
Não me lembro de alguma vez ter visto, em filme algum, um grupo de personagens a dizer coisas tão acertadas como esses macedónios, em especial Cleitos...

Não deixa de ser verdade que, pessoalmente, nunca simpatizei com Alexandre, nem com César, nem com outras figuras de conquistadores, tais como Napoleão ou Carlos Magno, seja por um motivo, seja por outro. Há quem se identifique com tais indivíduos - a mim, só me despertam o sentimento de rivalidade, na melhor das hipóteses...

Tecnicamente, o filme é excelente, contendo a mais bem conseguida e espectacular cena de batalha que alguma vez contemplei em cinema, com excelente banda sonora durante o combate, magnífica visão superior, com as tropas em formação, a poeira do deserto como névoa e uma altiva águia planando por sobre o magno confronto entre Ocidente e Oriente. Só por isso já vale a pena ver o filme outra vez.

Em termos de edificações, vestimentas e interiores, o fausto helénico e babilónico, é apresentado de modo irrepreensível.

Saliento também o bom senso e realismo histórico que levou o realizador a representar amplamente, e bem quanto a mim, a religião dos Gregos. Diferentemente do que sucede nos outros filmes históricos recentes, Tróia e Artur, esta película evidencia a mentalidade religiosa da época (só uma vez é que tem Alexandre a blasfemar, enfim, é suspeito...). Aparecem numerosas estátuas de Divindades, uma delas realmente esplêndida, significando Zeus com o seu raio.

Achei no entanto exagerada a ênfase dada à suposta homossexualidade ou bissexualidade de Alexandre. Nunca li em lado nenhum que Alexandre tivesse sofrido horrores sentimentais pela morte de um amante... dir-se-ia que o realizador quer «vingar-se» do filme «Tróia», criticado por alguns devido ao facto de não representar a suposta relação homossexual entre Aquiles e Pátroclo... efectivamente, ao longo desta obra sobre o filho de Filipe da Macedónia, refere-se muitas vezes o paralelismo entre o par Alexandre/Hefaísto e Aquiles/Pátroclo...

Também nunca ouvi dizer que o macedónio em questão fosse tão influenciado ou obcecado pela mãe...

No fim, há uma bela observação por parte do idoso narrador - bela, não em termos ideológicos, mas na atitude: diz ele que Alexandre falhou, mas falhou em grande, valendo mais o seu fracasso do que o sucesso de muitos, tal era a grandeza do seu sonho e da sua ousadia.

Seria bom que tal estado de espírito, o de querer ir tanto mais além quanto possível, animasse os nacionalistas europeus.


Sobre a questão da bissexualidade, os Gregos já barafustam:

19/11/2004 - 16h54
Gregos negam que Alexandre tenha sido bissexual como no filme de Oliver Stone

Por Karolos Grohmann

ATENAS (Reuters) - Um grupo de advogados gregos está ameaçando processar o estúdio Warner Bros e Oliver Stone, diretor do ansiosamente aguardado "Alexandre", por sugerir que Alexandre, o Grande, tenha sido bissexual.
Os advogados já enviaram ao estúdio e ao director uma carta extrajudicial exigindo que incluam nos créditos do título uma observação dizendo que o filme é fictício e que não se baseia nos documentos oficiais sobre a vida do governante macedónio.
"Não estamos a dizer que somos contra os gays, mas estamos a dizer que a produtora deve deixar claro para o público que este filme é ficção pura e que não é um retrato fiel da vida de Alexandre", disse à Reuters na sexta-feira Yannis Varnakos, que lidera a campanha lançada por 25 advogados.
De acordo com o Web site MSNBC.com, Oliver Stone teria dito, na próxima edição da revista Playboy, que o retrato pintado de Alexandre em seu filme pode causar ofensa a algumas pessoas.
"Tratamos da questão da bissexualidade dele. O filme pode ofender a algumas pessoas, mas a sexualidade naquela época era uma coisa diferente", comentou o cineasta na entrevista.
O filme estrelado por Colin Farrell e Angelina Jolie vai estrear apenas em 24 de novembro, nos Estados Unidos, mas Varnakos falou que já reuniu informações suficientes sobre seu conteúdo para sugerir que o filme faz "referências inapropriadas".
"Não assistimos ao filme, mas, segundo as informações que já nos chegaram, ele contém referências à alegada homossexualidade de Alexandre, fato que não consta de nenhum arquivo ou documento histórico sobre Alexandre", disse o advogado. "Ou eles deixam claro que se trata de uma obra de ficção, ou levaremos o caso adiante."
Não é a primeira vez que gregos se irritam com sugestões de que Alexandre teria sido homossexual e teria tido casos com rapazes.
Dois anos atrás, centenas de gregos da província setentrional da Macedónia, onde Alexandre nasceu, invadiram um simpósio arqueológico depois que um participante fez uma palestra sobre a homossexualidade de Alexandre.
Um dos maiores líderes militares de todos os tempos, Alexandre, que nunca foi derrotado em batalha, conquistou cerca de 90 por cento do mundo conhecido da época antes de morrer de forma misteriosa aos 32 anos. O império que ele formou cobria desde o Mediterrâneo até o Afeganistão.
Varnakos falou que, do mesmo modo que Oliver Stone tem o direito de expressar-se livremente, o público deve ter o direito de saber.
"Não podemos sair por aí dizendo que John F. Kennedy (ex-presidente dos EUA) foi do time de basquete dos Los Angeles Lakers, e a Warner não pode sair por aí dizendo que Alexandre foi gay", disse Varnakos.