segunda-feira, julho 05, 2004

FUTEBOL - MODERNO DUELO ENTRE AS NAÇÕES?

É bom que a agressividade animalesca das massas possa ser dirigida para uma actividade na qual nem ninguém morre nem ninguém fica mutilado.

Já fantasiei até, de modo algo jocoso, sobre um hipotético mundo futuro no qual as disputas entre Estados se resolvessem, não à lei da bala, mas pela lei da bola.. para decidir, por exemplo, se as ilhas Malvinas pertenciam à Argentina ou ao Reino Unido, realizava-se um desafio de esférico corrente na relva entre os melhores futebolistas de ambos os países...

Não obstante, é mau que o sentido de tribo, de povo, de estirpe, seja desse modo desviado. Enquanto os indivíduos massificados gritam, ululantes, pelos seus heróis da bola, os seus próprios povos correm cada vez mais o risco de se diluirem no mar da mistura racial e étnica. Aliás, a cada vez mais frequente importação e nacionalização de jogadores leva a que as nações encarem de ânimo leve ou mesmo de modo favorável essa entrada de estrangeiros.

Com efeito, se o jogador x, que é de outro país, foi nacionalizado e joga bem pela selecção nacional, a maioria terá tanto mais tendência a encarar a vinda de imigrantes com bons olhos quanto mais «futebolizada» estiver, perdoe-se o neologismo. No âmbito do futebol, o mais importante é que a «nossa» equipa ganhe, seja lá como for, seja quem for que marque golos.

Por isso, num contexto em que só o golo interessa, tudo o resto é de nenhuma importância. Quem mais se interessa por futebol, mais relativiza a importância de tudo o que não é futebol, e tem um apego cada vez menor à genuína identidade nacional, pois se jogador x, que até é estrangeiro, faz a «nossa» selecção ganhar, «pouco» interessa a sua origem.

Cuidado pois com o efeito potencialmente abastardante do futebol.