sexta-feira, abril 21, 2017

CAMPANHA NO TAJIQUISTÃO PARA PROMOVER A INDUMENTÁRIA TRADICIONAL CONTRA A ISLAMIZAÇÃO DO VESTUÁRIO FEMININO



No Tajiquistão, o governo recomendou à população feminina que usasse as coloridas indumentárias tradicionais tajiques, incluindo o chamado Atlas. A campanha culminou no mês passado durante o festival de Primavera Nowruz, na vila de Tursunzoda, a oeste de Dushanbe, capital do país. O Nowruz é uma herança cultural persa desta nação do ramo irânico da família indo-europeia, parente portanto dos Persas. A televisão estatal mostrou o presidente, Emomali Rakhmon, muçulmano, e outros representantes do regime, vestidos de forma ocidental, a dançarem juntamente com milhares de mulheres trajadas à maneira tradicional. As recomendações oficiais para promover o vestuário feminino nacional foram emitidas pelo Ministério da Educação em Março deste ano com o intuito de «inculcar o estilo nacional e o patriotismo», segundo disse à imprensa um porta-voz deste ministério.Acrescentou que «ninguém forçou professoras, estudantes ou crianças de escola a usar [est]as roupas». Merece destaque, entretanto, que em 2015 o próprio Rakhman afirmou publicamente, por ocasião do Dia da Mãe - que no Tajiquistão se celebra a oito de Março, Dia Internacional da Mulher, o que, segundo a  observadora Mohira Suyarkulova, do Instituto de Estudos Centro-Asiático da Universidade Americana da Ásia Central, indica uma tentativa de cercear o papel da mulher, cingindo-o à função materna  - que no passado as mulheres tajiques nunca usaram preto «nem nos funerais».
Deve notar-se que paralelamente o governo tajique tem feito campanha contra as vestes de estilo árabe que cobrem o rosto, tais como o hijab; esta acção tem por móbil travar o islamismo e incluiu até cortes de barbas forçados. 
O governo afirma que mais de mil tajiques se juntaram ao califado da Síria e do Iraque e denuncia os trajes árabes «estrangeiros» como um «sinal de radicalização».
Rakhmon diz-se muçulmano piedoso mas alguns consideram-no como um autocrata laico. Tomou as rédeas do poder no início dos anos noventa à medida que o país se encaminhava para uma guerra civil na sequência do colapso da União Soviética. No ano passado completou a última de várias peregrinações suas a Meca; a sua mulher e filha foram fotografadas a usar o hijab, precisamente a mesma vestimenta cujo uso o governo desencoraja. Recentemente, um hospital recusou receber um grupo de mulheres que usava esta peça de roupa. Um partido islâmico dito moderado foi banido em 2015 e os seus líderes foram sentenciados a duras penas de prisão na sequência de uma rusga policial. Alguns críticos alertam para a uma deriva eventualmente autoritária da parte de Rakhman.
Recorde-se que no tempo da União Soviética havia um «medo da religião como sistema de moralidade e legitimação em competição com o Estado» e que as autoridades soviéticas chegaram a promover activamente a queima de véus islâmicos, segundo conta Edward Lemon, investigador no Instituto Harriman da Universidade de Columbia em Nova Iorque. 
Nos países vizinhos, que também fizeram parte da União Soviética, há análogas campanhas a favor da indumentária tradicional feminina. O presidente do Quirguistão, Almazbek Atambayev, apoiou uma série de controversos cartazes no ano passado em que estavam representadas mulheres vestidas com roupa tradicional quirguize ao lado de mulheres vestidas com os véus escuros muçulmanos; nestes cartazes podia ler-se «Pobre nação, onde vamos nós parar?»
Curiosamente, estas campanhas etno-estético-políticas dizem respeito quase sempre à indumentária feminina, não à masculina. Suyarkulova testemunha-o: a seu ver, a recomendação acima referida emitida pelo governo tajique é o «fenómeno típico em que os corpos das mulheres vêm a ser o campo de batalha onde têm lugar as lutas políticas.»
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Fonte: http://www.arabnews.com/node/1078951/world

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Aparte o ascendente pesadamente androcrático dominante no seio dos Povos não ocidentais, o que aqui se observa mais uma vez é o confronto entre islamismo larvar, nalguns casos já desperto, emergindo do seio das massas populares islamizadas, e educação laicista das elites político-culturais sovietizadas, que perdura à superfície... é interessante referir que o presidente Atambayev, por exemplo, comentou noutra ocasião que as mulheres de mini-saia não cometiam atentados terroristas, aludindo ao modo como a liberalização dos costumes femininos é seguramente menos perigosa do que a sua islamização. Trata-se aqui de um laicismo útil aos Povos em vários sentidos, não apenas porque lhes defende a liberdade, mas também porque, neste contexto centro-asiático, fortalece as identidades étnicas como instrumento contra o islamismo, que é universalista e trans-nacional. Útil, sim - mas talvez demasiado frágil mercê da sua superficialidade sócio-político-cultural.

1 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Olha-me para isto, Caturo:

http://i.imgur.com/AFzKmk6.png

lol



21 de abril de 2017 às 22:22:00 WEST  

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