TESTEMUNHOS PAGÃOS LOCAIS SOBRE A GUERRA NA UCRÂNIA

Estátua de Beregynia, Deusa ucraniana da Fertilidade e do Povo, colocada há duas décadas na Praça Maidan em substituição de uma estátua de Lênine; Beregynia representa aqui a independência nacional.
Tenho para mim que esta é a versão local, ucraniana, de uma antiga Deusa que também foi adorada na Gália sob o nome de Berecynthia, que por Sua vez foi para aí levada pela romanização, pois que Berecynthia é um dos nomes de Cíbele, Deusa de origem frígia que veio a ser adorada em Roma desde 204 a.e.c. e que foi referida na Eneida como tendo contribuído para salvar a estirpe troiana em fuga de Tróia e a caminho de Itália.

Artigo da revista pagã online «The Wild Hunt» («A Caçada Selvagem», elemento das crenças pagãs europeias):
Esta é uma atualização do nosso relatório anterior sobre os pagãos na Ucrânia. Hoje (14 de Março) marca-se o 19º dia da invasão russa com reportagens actuais de vários meios de comunicação observando que as forças russas continuam avançando muito lentamente em Kiev principalmente do norte e do leste. No Soles, a Rússia realizou ataques aéreos em Lviv e em outros lugares da Ucrânia Ocidental perto da fronteira polaca.

Um novo “corredor verde” ou rota de evacuação segura para fora de Mariupol foi finalmente estabelecido hoje, depois de várias tentativas falhadas na semana passada. Segundo relatos, pelo menos 160 carros contendo civis foram autorizados a deixar a cidade, chegando a Berdyansk e indo em direção a Zaporizhzhia.

O jornalista e documentarista americano Brent Renaud foi morto pelas forças russas em Irpin, na Ucrânia, relatado pela primeira vez pela polícia da região de Kiev em postagens nas redes sociais no Soles. Desde que a morte de Renaud foi relatada pela primeira vez, amigos e colegas partilharam lembranças em homenagem. Renaud é o primeiro jornalista estrangeiro a ser morto na Ucrânia desde a invasão russa.

A situação está a ficar muito pior. Para nós que reportamos, mesmo à distância, é impossível manter a voz fora das histórias. Os acontecimentos são horríveis.

As cidades sitiadas pelos Russos ainda sofrem sob uma barragem de artilharia. Os civis muitas vezes não conseguem escapar sem temer serem mortos. Correm o risco de ficar sem comida, água e remédios. Algumas cidades começaram a  cavar valas comuns.

Somando-se a isso está o comportamento repelente de alguns meios de comunicação – como os serviços de notícias controlados pelo Estado da Rússia e da China – enganando colectivamente populações inteiras sobre a guerra e os motivos da Rússia para a sua invasão da Ucrânia.

Dizemos-lhe que é surreal falar com alguém na Ucrânia e ouvir explosões. Aconteceu mais de uma vez e certamente é algo que nenhum de nós jamais pensou que faríamos enquanto reportávamos para The Wild Hunt (TWH). E, no entanto, está aqui e a acontecer com uma regularidade chocante.

A TWH conseguiu obter algumas actualizações de pagãos, pagãos e politeístas. Ouvimos Tito da TEMPLVM, uma organização religiosa sediada na Ucrânia e focada na construção de Templos e Altares de acordo com a tradição seguida pelos antigos Romanos. Anteriormente, informámos sobre a acção do TEMPLVM para colocar os indivíduos em segurança.

Titus disse que o TEMPLVM havia “esvaziado com sucesso o primeiro lote de refugiados – mulheres e crianças – através da fronteira e, depois de voltar para casa, garantiu que as famílias da nossa comunidade recebessem comida, água e medicamentos por pelo menos 5 dias. Isto foi possível graças ao apoio da comunidade politeísta internacional”.

Titus acrescentou mais tarde: “Graças à ajuda da comunidade politeísta internacional, conseguimos tirar uma família pagã de 7 pessoas de Kharkiv, que está a ser bombardeada e agora estão seguras no TEMPLVM”.

Em Kiev, um membro da Ordo Templi Orientis (OTO) disse que permanecerá durante a invasão. Vamos chamar-lhe Olin porque mesmo o seu nome espiritual pode não protegê-lo de ser identificado se os Russos assumirem o controle. Existem muitas possibilidades de que um indivíduo possa ser acidentalmente denunciado por reportagens ocidentais e depois alvo dos Russos por ter partilhado as suas experiências.

“Mesmo se fosse possível, não me iria embora. Aqui estão os meus parentes e entes queridos, a minha terra natal, a minha propriedade e os meus gatos. Se eu puder ajudar de alguma forma, devo estar aqui”, disse Olin. Acrescentou que, até onde ele sabe, nenhum dos seus irmãos e irmãs da OTO deixou a Ucrânia e que eles estão em contacto constante um com o outro. Disse que só a oportunidade de contacto já ajuda tremendamente.

Olin disse que, quando conversámos, estava preocupado com o que aconteceu em Kharvkov: “[O] agressor está a bombardear áreas residenciais há vários dias e esse é o caso em muitas cidades”.

A preocupação vem com consequências práticas, como conseguir dormir e descansar. Olin disse que “Nos primeiros dias, era difícil dormir, pois eles bombardeavam constantemente. Especialmente depois de o foguete atingir um prédio residencial perto do trabalho. Agora ficou mais fácil e confortável dormir na casa de banho.”

Mas o stress está sempre presente. Olin disse: “Tento fazer práticas individuais quando não estou sob stress – na maioria das vezes de manhã, todas as manhãs inspiram optimismo. A experiência anterior ajuda muito, quando já se sabe que a morte não é tudo, há menos medo, é mais controlável.”

Mas Olin também ficou sem incenso. “Eu queimava regularmente incenso para os Deuses, infelizmente, acabou, e apenas lojas críticas funcionam na cidade.”

Não temos notícias de Olin há alguns dias desde que a Rússia iniciou novos ataques à capital ucraniana.

Sabine é uma pagã em Mykolaiv e fez contacto há alguns dias. Eles disseram “é ruim. Muito mau."

Uma hora depois, recebemos outra mensagem: “Os Russos estão a bombardear novamente. Ouvi dizer que muitas casas e prédios foram destruídos. Tenho de partir. O meu pai vai ficar e despediu-se, não vos vejo mais tarde. Adeus."

A BBC informou que Mykolaiv estava sob forte ataque. “O governador de Mykolaiv, Vitaliy Kim, está de uniforme, explicando como soldados ucranianos, ajudados por novos reforços, empurraram as tropas russas para trás.” Kim acrescentou: “Estamos a vencer esta luta, mas não esta guerra”.

A TWH também conseguiu entrar em contacto novamente com Yulia na Mércores, 9 de Março, para avaliar a sua situação e tentar entender a realidade de uma guerra que se aproxima cada vez mais.

“A luta aCtiva por Chernihiv continua pelo segundo dia, mas as forças ucranianas estão a defender a minha cidade. Os ocupantes estão a bombardear residências civis e outros alvos não militares, por isso ouvimos regularmente tiros de armas de alto calibre, incluindo, nos últimos dois dias, ataques aéreos e foguetes. Oiço este som quase permanentemente e alguns deles chegam muito perto, é assustador, é como a guerra soa”, disse ela à TWH.

Para Yulia, como para muitos ucranianos presos em Chernihiv e outras cidades cercadas pelo exército russo, a vida quotidiana transformou-se numa existência um tanto triste, caracterizada por idas diárias ao bunker: “Acordamos sempre por volta das cinco ou seis da manhã, quando a sirene toca. Então, se necessário, escondemo-nos, se não, apenas tomamos o pequeno-almoço normalmente. Geralmente ficamos em casa e quando a sirene toca, corremos para o bunker. Passamos algo como cinco a seis horas no bunker por dia, às vezes menos, às vezes mais, depende dos bombardeamentos dos ocupantes russos.”

Quando não está escondida no seu apartamento ou escondida no subsolo, Yulia tem pouco a fazer além de tentar obter bens essenciais. “Lojas de alimentos, farmácias e outras lojas funcionam quando não estão a ser bombardeadas, mas as filas são enormes. Há uma selecção pobre de alimentos e remédios, mas ainda estamos bem. Nos quatorze dias de guerra, não passei fome”.

Quando questionada se notou a manifestação de simpatia e ajuda vinda do exterior, Yulia expressa muito apreço: “As pessoas apoiam tanto a minha nação hoje em dia, muito obrigada! Muitos estão a comprar itens digitais para me apoiar, e muitas pessoas no exterior ofereceram abrigo, no entanto, acho mais seguro ficar em casa.”

Ainda assim, nos últimos dois dias, a luta só ficou mais intensa dentro e ao redor da cidade natal de Yulia, Chernihiv. De acordo com Vladyslav Atroshenko, o major da cidade citado pelo New York Times, a cidade está actualmente a ser cercada pelas forças russas, milhares de pessoas perderam as suas casas devido aos bombardeios, e a administração local ficou sem terra para enterrar os seus mortos.

Quando questionada como acha que a guerra terminará, Yulia hesita. “Normalmente, sou uma pessoa que planeia tudo, mas não agora. Quando é guerra, não se sabe o que vai acontecer, como vai acabar e quando.”

No entanto, permanece implacável e continua a elogiar os seus compatriotas que estão a arriscar as suas vidas no campo. “Parte do dinheiro que recebi dos meus seguidores e amigos no exterior neste período doei às forças ucranianas. Todos estão a fazer a sua parte: soldados lutam, a polícia e as unidades de protecção da cidade controlam a cidade, os voluntários apoiam todos, e todos os outros civis estão a doar dinheiro e não incomodam os outros, apenas ajudam. É óptimo que permaneçamos juntos e fortes, um país vencedor deve ser assim e estou orgulhosa”.

Perdemos contacto com Yulia por alguns dias, mas felizmente, a 12 de Março, escreveu que ela e a sua família ainda estavam bem, apesar da falta de suprimentos.

Acrescentou: “No momento, a conexão com os Deuses é a coisa em que acredito e desejo que tudo termine o mais rapidamente possível e com uma vitória”.

Para os leitores que desejam ajudar o povo ucraniano, abaixo estão algumas ONGs a serem consideradas. As seguintes ONGs afirmaram que estão a apoiar diretamente os ucranianos:

• Aldeias de Crianças SOS Ucrânia – uma organização empenhada em cuidar de órfãos e famílias vulneráveis.
• A Cruz Vermelha Ucraniana oferece atendimento de emergência para pessoas independentemente de nacionalidade ou estatuto.
• Come Back Alive Foundation é uma associação empenhada em apoiar os soldados ucranianos, principalmente através de compras médicas e logísticas
• A Nova Ucrânia é uma organização 501(c)3 dedicada a aumentar a consciencialização sobre a Ucrânia nos EUA e em todo o mundo e fornecer ajuda humanitária à Ucrânia.

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Nota do editor: a TWH acompanhará os eventos na Ucrânia e actualizará os leitores à medida que o conflito progride. Se você é leitor na Ucrânia ou tem conexões com o país e gostaria de falar com a TWH sobre as suas experiências, envie-nos uma mensagem para ukraine@wildhunt.org.

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Fonte: https://wildhunt.org/2022/03/stories-during-siege-an-update-on-ukraine-pagans.html