domingo, setembro 05, 2021

«PROCLAMAÇÃO DO REI ANITTA», O MAIS ANTIGO DOCUMENTO ESCRITO EM LÍNGUA INDO-EUROPEIA


Anitta, Filho de Pithana, Rei de Kussara, fale! Ele era querido ao Deus da Tempestade do Céu, e quando ele era querido ao Deus da Tempestade do Céu, o rei de Nesa [verbo interrompido] ao rei de Kussara. O rei de Kussara, Pithana, saiu da cidade em força e, de noite, tomou pela força a cidade de Nesa. Levou cativo o rei de Nesa, mas não fez mal algum aos habitantes de Nesa; em vez disso, fez deles mães e pais. Depois de meu pai, Pithana, suprimi uma revolta no mesmo ano. Quaisquer que fossem as terras que surgiram na direcção do nascer do sol, eu derrotei cada uma delas.

Anteriormente, Uhna, o rei de Zalpuwas, tinha removido o nosso Sius da cidade de Nesa para a cidade de Zalpuwas. Mas subsequentemente, eu, Anittas, o Grande Rei, trouxe de volta o nosso Sius de Zalpuwas para Nesa. Mas Huzziyas, o rei de Zalpuwas, eu trouxe de volta vivo para Nesa. A cidade de Hattusas [tabuleiro quebrado] traiu. E eu abandonei-a. Mas depois, quando [a cidade] passou fome, eis que a minha deusa, Halmasuwiz, entregou-ma. E de noite tomei-a à força; e em seu lugar, semeei ervas daninhas. Quem quer que se torne rei depois de mim e colonize Hattusas novamente, que o Deus da Tempestade do Céu o derrube!

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Fonte: https://lrc.la.utexas.edu/eieol/hitol/10

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Outra tradução:

Todos os países de Zalpuwa, no mar...
Uhna tempos atrás, rei de Zalpuwa teve (a estátua) do nosso dSiu
sequestrado em Nesa a (levou-a) Zalpuwa,
[...]... mas eu Anitta, Grande Rei, trouxe, (a estátua) do nosso dSiu
de [Z]alpuwa regresso a Nesa.
todavia Huzziya rei de Zalpuwa, eu trouxe-a [...]
para Nesa. A cidade de Hattusa [
[...] ... [...]. Eu obtive-a. Quando eles (a cidade)
mas a seguir ficaram famintos, eles deram ao meu dSiu 
0 trono da Deusa Halmasuit, e à noite
tomei-a pela força, e em seu lugar semeei erva daninha
Aquele que seja rei de Hattusa depois de mim
e volte a repovoá-la,
que o Deus da tormenta o esmague!
Voltei a minha cara para a cidade de Salatiuwara.
A cidade, no entanto, movimentou as suas tropas fora dela (de Salatiwara)
Vim e levei-os para Nesa.
Nesa e eu fortificamos a cidade. Após a anexação da cidade
Construí um templo para o Deus da tormenta dos céus e um templo para 0 nosso Siu.
Um templo para Halmasuit, um templo para 0 Deus da Tormenta, meu senhor, e um templo para o nosso Siu construí.  
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Fonte: 
https://digitalis-dsp.uc.pt/bitstream/10316.2/23597/1/Cadmo21_Artigo6.pdf

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Estas são algumas das traduções existentes do mais antigo texto em língua indo-europeia que se conhece hoje, datado do século XVII a.c., ou até de 1740-1725 (reinado de Anitta).
Numa outra das traduções, é referido o nome do Deus do Sol (Utu) como auxiliador do rei Anitta em lugar da referência «nascer do Sol». 
O idioma do texto é o Hitita, pertencente ao ramo anatólico da família indo-europeia. Narra, como se vê, feitos político-militares dos reis hititas Pithana e Anitta contra cidades vizinhas.
Salienta-se, a meu ver, a relevância do culto ao Deus da Tempestade, que é sempre uma figura crucial, cimeira e central em todas as religiões indo-europeias antigas, bem como a importância de uma estátua de culto, a de Sius (versão hitita do *Dyeu, Deus do Céu indo-europeu). Destaca-se também a generosidade, ou misericórdia, demonstrada ao atacar uma cidade para derrotar o seu rei sem contudo massacrar a população - e, fazendo-o notar, deixa claro que este procedimento é valorizado, contrastando notoriamente com um episódio bíblico em que Jeová ordena o genocídio completo de um Povo inteiro, o de Amalec (Primeiro Livro de Samuel). 
Outros textos há neste idioma, que eventualmente poderão aqui ser referidos futuramente.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

ele queria herdar o gado da outra elite kk ja os beduinos eram cegos mas

7 de setembro de 2021 às 03:33:00 WEST  
Blogger betoquintas said...

Caturo, se consultasse os textos da fonte citada, veria o texto onde os hititas citam sua adoração a Ishtar. ora, se fossem uma "raça branca" como queres tanto, não adotariam o culto a uma Deusa semítica. lá se vai seus delírios racistas.

28 de outubro de 2021 às 15:21:00 WEST  
Blogger Caturo said...

Os Semitas são brancos, como bem se pode ver na Síria e no Iraque (e se calhar na Antiguidade ainda o eram mais). Arde mais uma vez a tua «visão» anti-racista, herança do universalismo cristão...
De resto, há uma diferença entre adorar uma Divindade estrangeira em determinadas ocasiões, ou por necessidades políticas, e adorar uma Divindade estrangeira de maneira exclusiva. Nenhuma delas é aconselhável, mas enfim. Num caso, o culto estrangeiro não rouba lugar ao nacional; no outro, sim, rouba. O mesmo se passa com a imigração em massa oriunda do mundo não branco - ocupa espaço que pertence aos Europeus, dá em solo europeu poder a quem não é europeu.

31 de outubro de 2021 às 04:32:00 WET  

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