quarta-feira, setembro 01, 2021

CENSURAS SELECTIVAS E SEUS DEFENSORES - QUANDO O OPONENTE TEM OS MELHORES ADVOGADOS...

Portugal recebeu 61 refugiados afegãos entre Vernes (27) e Soles (29). No primeiro dia, o deputado André Ventura teve a sua conta no Twitter suspensa após um post em que insinuou uma ameaça terrorista por parte do Afeganistão em solo lusitano. A rede social mantém ativas contas de líderes dos Talibãs.
Conhecido como "Bolsonaro português", Ventura, que ficou em terceiro lugar nas eleições presidenciais, escreveu na publicação: "Inúmeros estudos internacionais e alertas de serviços secretos do mundo inteiro são claros em que os refugiados afegãos representam um enorme risco de terrorismo para a Europa. Mas Portugal está ansioso por receber mais de 300... Que estupidez!". 
A possibilidade de infiltração de terroristas entre refugiados afegãos também foi assinalada por oficiais russos. Além da Rússia, outros países, como Áustria e Suíça também anunciaram que não vão receber grupos vindos do Afeganistão. Já a Grécia e a Turquia estão a construir muros para impedir a migração de afegãos. Por sua vez, o Paquistão tenta fechar as fronteiras, mas refugiados têm conseguido passar uma delas.
Na sequência, o Twitter bloqueou temporariamente a conta de Ventura sob a alegação de que ele violou as regras contra conduta odiosa. De acordo com uma das políticas da rede social, não se pode promover violência, ameaçar ou assediar outras pessoas com base em raça, etnia, nacionalidade, orientação sexual, género, identidade de género, filiação religiosa, idade, deficiência ou doença grave.
Em comunicado de imprensa enviado a correspondentes estrangeiros, a direcção nacional do Chega, partido de Direita do qual Ventura é fundador e presidente, confirmou a notícia de que ele estava suspenso do Twitter por tempo indeterminado devido a uma publicação realizada sobre o perigo que poderiam representar os refugiados afegãos.
"É absurdo que um líder político europeu seja suspenso de uma rede social por se referir a uma potencial ameaça terrorista sobre o seu continente, ameaça essa já validada por vários serviços secretos do mundo. O partido repudia veementemente esta permanente perseguição e condicionamento por parte desta rede social, que acaba assim por limitar e condicionar ilegalmente a actividade política em Portugal", lê-se num trecho da nota.
Não foi a primeira vez que Ventura teve suspensa a sua conta. Dez dias antes, já havia tido o seu perfil bloqueado por 24 horas após escrever que "alguns dos incendiários, em vez de serem tratados como coitadinhos, deviam ser atirados às chamas", em referência aos incêndios florestais em Portugal.
No fim de Maio, o deputado único do Chega também fora suspenso temporariamente após um post em que escreveu que o ministro da Administração Interna, Eduardo Cabrita, devia ser decapitado. A publicação foi uma reacção de Ventura à anulação da pena de um polícia que havia chamado «aberração» ao parlamentar.
Após o caso mais recente, deste último fim de semana, o presidente do Chega apagou o tweet em que insinuava risco de terrorismo por parte de refugiados afegãos e pôde voltar à rede. No entanto, não sem se posicionar e criticar a rede noutra publicação.
Sputnik Brasil tentou entrar em contacto por dois dias com Ventura, mas a sua assessoria de imprensa não retornou as ligações nem respondeu aos e-mails e mensagens enviados. A Assembleia da República está de férias até ao dia 14 de Setembro. Ao Correio da Manhã, ele reconheceu as regras do Twitter, mas disse considerar excessiva a sua aplicação. 
"Percebo que tenha de haver regulação e controle do discurso de ódio. Mas isto é um exagero despropositado, uma perseguição política. Então não se pode escrever sobre refugiados afegãos? Sobre o perigo do terrorismo? Para onde estamos a caminhar, onde fica a liberdade de expressão?", disse Ventura, citado pelo jornal português.
Sputnik Brasil também questionou a assessoria de imprensa do Twitter sobre que políticas Ventura teria violado para que a sua conta fosse suspensa, porque continuam activas as contas de líderes dos Talibãs e se a rede social não os considerava uma organização terrorista, mas não houve respostas até ao fechamento desta reportagem. 
De acordo com Luís António Santos, doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho, diferentemente do Facebook, o Twitter não tem os Talibãs na sua lista de organizações terroristas. Isto faz com que contas como a de Zabihullah Mujahid, porta-voz do autoproclamado Emirado Islâmico do Afeganistão, permaneçam activas, com mais de 374 mil seguidores.
Segundo o professor universitário, o Twitter não tem a mesma estrutura que o "império" de Mark Zuckeberg para filtrar e avaliar conteúdos. Só em Algés, na Área Metropolitana de Lisboa, a multinacional Accenture mantém um prédio inteiro com centenas de estrangeiros, entre brasileiros, italianos, franceses e espanhóis, num projecto dedicado a revisar e avaliar conteúdos denunciados por usuários do Facebook. 
São eles que decidem o que permanece na rede ou é apagado, com base em rigoroso documento de políticas que vão desde a proibição de organizações terroristas até discursos de ódio, passando por bullying, nudez e violência gráfica. As regras são actualizadas e aperfeiçoadas em reuniões semanais. Nesse sentido, Santos avalia que o Twitter ainda é mais permissivo.
"O Twitter, ainda assim, tem um comportamento mais disponível para aceitar algum tipo de discurso do que o Facebook, que tem uma postura mais rigorosa, quer concordemos ou não. Na regulação de discursos, o Twitter não está no mesmo lugar. O facto mais significativo foi o impedimento da conta do ex-presidente americano [Donald Trump]. Foi um momento simbólico, mas é verdade que ainda permite que os Talibãs utilizem a rede", analisa Santos.
Mestre em Política Internacional pela School of Oriental and African Studies (SOAS), da Universidade de Londres, rejeita a comparação entre as situações da suspensão da conta da Ventura e a manutenção dos perfis de líderes dos Talibãs. Além de dizerem respeito a regras diferentes do Twitter (conduta de ódio e organizações terroristas), destaca que não se trata de regimes políticos iguais.
"É difícil comparar um político português, num regime democrático, com um discurso que, de alguma forma, desrespeita as regras de funcionamento do Twitter, a membros de um grupo radical, extremista, que tomou o poder à força num país. Não parece que sejam situações semelhantes", justifica.
Da mesma forma, Santos não considera válida a analogia feita por correligionários de Trump, que criticaram uma suposta hipocrisia do Twitter de banir definitivamente o ex-presidente norte-americano após a invasão do Capitólio e permitir que os líderes dos Talibãs mostrassem a tomada de Cabul, em tempo real, na rede.
"Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Uma é o momento de avanço de forças envolvidas numa guerra num país, e a outra é um ataque armado pelo ex-presidente de um país democrático ao seu Parlamento. Na questão do Afeganistão, quem iniciou as negociações com os Talibãs foram a administração Trump. Parece-me que há uma falha dos apoiantes do Trump em incorporar isso. É como comparar batatas com cebolas", desdenha.
Questionado pela Sputnik Brasil se a ocupação de Cabul mostrada ao vivo pelos líderes dos Talibãs nas suas contas não infringiria nenhuma política do Twitter, Santos explica, que, a partir do momento em que a rede social não admite a organização como terrorista, fica mais difícil tirar os perfis do ar. No entanto, ele acredita que as páginas sejam acompanhadas e, caso haja publicações que violem regras, elas serão igualmente punidas.
"Vamos imaginar uma publicação que dissesse 'morte à América' ou incitasse ódio ao estrangeiro. Nesse caso, diria que o Twitter teria fundamentos para retirar essa publicação. Mas parece-me que eles não foram exuberantes nas publicações que fizeram sobre os eventos que aconteceram. Parece que eles tinham a lição estudada e sabiam claramente o que podiam fazer no Twitter de forma que não fossem impedidos de continuar a fazer", sugere.
Comentarista da rádio portuguesa Renascença, Santos concorda que os Talibãs aprimoraram a sua estratégia comunicacional. Ele leva em consideração a evolução das tecnologias da informação 20 anos depois de eles terem voltado ao poder, mas também aventa duas outras hipóteses: a de que a organização tenha recrutado pessoas com competências muito além das militares e a de que tenha havido a ajuda de uma consultoria internacional na área de comunicação.
"Por um lado, passaram 20 anos, as pessoas são outras, os Talibãs podem ter conseguido a adesão de pessoas com outros tipos de competência, em línguas e comunicação. Por outro lado, podem ter ajuda na área de gestão de imagem", aponta.
De acordo com ele, essa ajuda pode ter chegado de qualquer parte do mundo e ainda não é possível perceber de onde partiu. Como o Afeganistão se prepara para voltar a ser um espaço tenso do ponto de vista geopolítico, Santos diz que primeiro é preciso identificar quem é que vai "jogar ao tabuleiro", para depois tentar entender quem ajudou.

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Fonte: https://br.sputniknews.com/sociedade/2021083117958892-por-insinuar-risco-terrorista-de-afegaos-twitter-suspende-conta-de-andre-ventura-mas-nao-do-taliba/

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Curioso - o Twitter é mais «disponível a aceitar algum tipo de discurso do que o Facebook», mas ambas as redes censuram sempre os mesmos e deixam impunes, também, outros tantos mesmos: representantes da Ultra-Direita são bloqueados, até expulsos, enquanto porta-vozes de um radicalismo incomparavelmente mais violento, o islâmico, ficam frequentemente impunes. 

Não é surpresa nenhuma - é, aliás, previsível como o cagar, quando se sabe que a «religião» dominante no seio de todos os mé(r)dia «mainstream» é a do anti-racismo militante, daí que, aos seus olhos, e de acordo com a sua sensibilidade, é claro que o branco «racista» é incomparavelmente pior que o alógeno assassino ou genocida.

O modo como, a seguir, o doutor em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho tenta legitimar ou desculpabilizar a censura do Twitter torna-se ainda mais esclarecedor: começa por dizer que a comparação entre Ventura e os Talibãs é inaceitável, sem ir  mais além disso; ora claro que a comparação é inaceitável, Ventura é um bom burguês de um país pacífico, os Talibãs torturam e matam a rodos, pelo que o procedimento do Twitter é nada menos que escandaloso, mas o dr. Santos não chega a dizer nada disso...

Quando, seguidamente, afirma que a comparação entre Trump e os talibãs também não é válida porque Trump fez um «ataque armado» ao parlamento ao passo que os Talibãs estavam «envolvidos numa guerra num país», «esquece» que, antes de mais nada, está a simplificar grosseira e caluniosamente o procedimento de Trump, que em momento algum incitou fosse quem fosse a aparecer de armas diante do Capitólio, muito menos a invadi-lo, tanto que depois disso se demarcou do acto, ao passo que os Talibãs só são «forças envolvidas numa guerra num país» porque eles próprios, Talibãs, iniciaram essa guerra.
Ou seja, a diferença entre os Talibãs e quaisquer trumpianos que hipoteticamente quisessem realmente tomar o poder pela força, é, tão somente, uma questão de dimensão, não de qualidade - isto sem esquecer que nunca o governo de Trump espancou mulheres por mostrarem os tornozelos nem assassinou dissidente e LGBTs, diferençazitas que os doutores deste jaez estão completa e integralmente à vontade para ignorar ou menorizar, é que é um à vontade absoluto, como nem o mais desonesto e inescrupuloso advogado teria lata de protagonizar se em tribunal defendesse um violador homicida.

A seguir, este mestre em Política Internacional pela School of Oriental and African Studies (SOAS), da Universidade de Londres, opta por uma performance de absoluto tecnicismo sobre o porquê de o Twitter não censurar os Talibãs - pois se isso não está escrito nos parâmetros do Twitter, pois enfim, é como é... os Talibãs espancam mulheres por não usarem a vestimenta devida, matam dissidentes e LGBTs e preparavam-se para retomar tão distintas actividades ao nível nacional, mas se o Twitter não proíbe que gente assim apele à revolta, certo, certíssimo, o «árbitro» tem de deixar passar porque não viu a «falta». 
Um diz «não podemos aceitar que nos roubem as eleições, isto não pode ser, devemos continuar no poder para prosseguir a nossa política» (que nunca por nunca desrespeitou os direitos humanos e até lançou uma campanha mundial de descriminalização dos LGBT), o outro diz «vamos deitar este governo abaixo para podermos voltar a pôr as mulheres, os dissidentes e os gays "nos eixos" à pancada e a tiro», depois «claro» que quem representa a elite intelectual no Ocidente acha que só o primeiro é digno de censura...

Diz, depois, o comentarista da Renascença, que «os Talibãs podem ter conseguido a adesão de pessoas com outros tipos de competência, em línguas e comunicação. Por outro lado, podem ter ajuda na área de gestão de imagem», quando a verdade é que os Talibãs pouco ou nada precisam disto, quando têm Twitters e seus defensores do seu lado ou prontos a desculpabilizá-los ou a considerá-los como jogadores políticos como outros quaisquer - só o «racismo!!!» é crime e por isso está à partida desautorizado, mas um governo e uma ideologia que espanca mulheres e assassina dissidentes, enfim, é lá a cultura deles...


1 Comments:

Blogger lol said...

Sim mete nojo so os de sempre importam na hierarquia red..o face me censurou por menos que o twitter pois nao falei de politica ja o twitter apenas por seguir direitistas so permitem a existencia de comunas a nossa e anulada grande "democracia" que eles fingem proteger ditadura de um so lado o deles

2 de setembro de 2021 às 18:44:00 WEST  

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