QUANTAS FORAM AS VÍTIMAS MORTAIS DO INCÊNDIO DE PEDRÓGÃO GRANDE?
Fará este domingo cinco semanas desde que o fogo ateou a partir de Escalos Fundeiros o incêndio mais trágico de sempre. Desde então, tem sido escrito que quase todas as perguntas sobre as causas e sobre o combate permanecem por responder.
Mas havia uma pergunta que ninguém se atrevia a publicar, embora medrasse nas redacções: quantas vítimas mortais houve de facto? Foram mesmo 64? Ou teriam sido mais, uma vez que a lista oficial não era conhecida, nenhuma lista reconstituída era completa, uma vez que tantos habitantes locais duvidam do número e há agrupamentos a questionar o número?
Se hoje aqui partilho a pergunta que em privado gera inquietação naqueles concelhos lavrados pela tragédia é porque o Expresso está em condições de dar a resposta, depois de semanas de investigação falando com famílias, fontes envolvidas no combate e rescaldo, autoridades locais e nacionais, que nos permitiram saber, um a um, os nomes e as histórias de cada uma das 64 vítimas mortais que compõem a lista oficial, mantida em sigilo pelas autoridades, por segredo de justiça, uma vez que o Ministério Público está a investigar judicialmente o incêndio.
Esta investigação permitiu-nos descobrir que os critérios oficiais excluem da lista vítimas indirectas do incêndio, as que tenham perecido sem ser por queimaduras ou asfixia. É o caso de uma mulher que morreu atropelada ao fugir de casa: é a 65ª vítima. Não está na lista oficial e poderá assim não estar nas cerimónias de homenagem às vítimas ou até nas ajudas a distribuir. Honestamente, não creio que não possa estar, não depois da publicação desta notícia, ninguém no Estado poderia dormir descansado se consentisse essa desumanidade. Mas esta frase já é opinião, que aliás assino em espaço próprio no semanário de hoje.
É a nossa manchete: Lista dos 64 mortos exclui vítimas de Pedrógão. Publicamos um memorial às vítimas, com a história dos 65 nomes ceifados ao futuro, acompanhada de uma nota editorial a explicar por que razões o fazemos, por homenagem e para dar sossego às famílias a quem já basta o luto da perda trágica. Eis os 64, eis a 65ª vítima, eis os critérios oficiais, eis a informação que permitirá clarificar todo o processo e o que há ainda por apurar.
“A morte de 64 cidadãos exige um pleno esclarecimento dos acontecimentos”, afirma João Guerreiro, o presidente da Comissão Técnica Independente que vai investigar as causas do grande incêndio e fala pela primeira vez desde que arrancaram os trabalhos dos peritos. E falámos com um responsável da Protecção Civil que contesta a “lei da rolha” (expressão é rejeitada pela Autoridade Nacional) anunciada esta semana, que tem esta frase lapidar: “Políticos desconcentram mais do que os jornalistas”. Outra notícia: o Ministério da Administração Interna contraria a sugestão do primeiro-ministro de instalar cabos soterrados para fortalecer o Siresp. Noticiamos ainda o convite sem concurso a uma empresa de um publicitário que trabalha para o PS para fazer uma campanha de prevenção aos incêndios, por €300 mil euros.
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Fonte: Expresso
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