COMO A ASCENSÃO DA FN EM FRANÇA MUDA JÁ O DISCURSO POLÍTICO DOMINANTE

Em França aproximam-se as eleições presidenciais. A líder da formação nacionalista Frente Nacional, Marine Le Pen, está já com mais de vinte por cento do voto - mais do que os 17.9% de 2012. É provável que passe à segunda volta eleitoral. O mais significativo é que a sua mensagem está cada vez mais a ser adoptada pelos seus oponentes... Há cada vez mais políticos do «mainstream», isto é, da elite dominante, a ecoar as suas ideias: prometem soluções mais duras no campo da lei e da ordem, falam constantemente da «identidade nacional», defendem os «valores republicanos sob ameaça islâmica» e promovem um laicismo de tendência exclusivista quando não discriminatória. Mais: insistem em travar a imigração, ideal que tem sido o principal da FN desde os anos oitenta.

As associações anti-racistas bem protestam, mas o povo mostra pouco apoio aos alógenos...

Para além da tensão entre a população autóctone e os imigrantes/refugiados em Calais, sabe-se que numa sondagem de Outubro de 2015 sessenta e sete por cento da população declarou que os subsídios para as famílias e para a habitação deveriam ser entregues apenas a imigrantes da União Europeia; sessenta e um por cento gostaria que o governo deixasse de oferecer assistência médica aos imigrantes ilegais.

Mais: uma sondagem de Setembro de 2016 indica que sessenta e dois por cento da população opõe-se a receber na Europa imigrantes e refugiados que cheguem às costas italianas e gregas. Notoriamente, o nível de apoio aos imigrantes diminuiu em todo o espectro político.

Ao contrário do que sucede aparentemente no Reino Unido, a população francesa não rejeita os trabalhadores da União Europeia (UE),o que talvez tenha a ver com o facto de que em Inglaterra o ex-primeiro-ministro Tony Blair abriu entusiasticamente as portas à imigração de leste a partir de 2004. A França, em contrapartida, foi restritiva no que respeita ao acesso dos seus mercados internos. Em França também há, como na velha Albion, um desagrado popular contra a burocracia da UE, contra a perda da soberania; e há entretanto um enorme «racismo» e «xenofobia» focado em cidadãos franceses de ascendência estrangeira, particularmente os do norte africano. Entretanto, até o primeiro-ministro, Manuel Valls, declarou recentemente que é preciso «agir urgentemente para controlar as fronteiras externas (da Europa)... doutro modo as nossas sociedades serão totalmente desestabilizadas.»

Já há por outro lado sinais de uma oposição crescente a uma prática denominada «social dumping» que diz respeito à movimentação de trabalhadores dentro das fronteiras da UE - empregados que a nível temporário são enviados para fazer trabalhos noutro país da UE, recebendo nisso pagamento e protecção social inferior ao do país onde passam a trabalhar. Em Julho, o discurso de um político francês no parlamento declarou o seguinte sobre estes trabalhadores: «estes trabalhadores tiraram o pão da boca dos trabalhadores franceses». Parte da Esquerda francesa ficou estupefacta porque quem disse isto não foi Marine Le Pen ou sequer outro candidato à Direita mas sim o deputado Jean-Luc Mélenchon, candidato presidencial da Extrema-Esquerda tanto em 2012 como em 2017...

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Fonte: https://www.theguardian.com/commentisfree/2016/nov/20/french-politicians-dancing-marine-le-pen-tune-immigration?utm_content=bufferd8f05&utm_medium=social&utm_source=facebook.com&utm_campaign=buffer

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Percebe-se pois porque é que muitos políticos franceses falam já contra a imigração - as sondagens indicam que a maioria do Povo é contra esta espécie de invasão. 

Note-se como até agora o debate sobre a imigração no seio da elite política reinante tem sido «imigração vs muita-imigração». Todavia, com a ascensão da FN francesa e doutras forças nacionalistas, e com a vitória de Trump, o debate público sobre a imigração começa a ser «pouca-imigração vs nenhuma-imigração».

Isto é um resultado da Democracia. É a Democracia, e só a Democracia, que dá força ao ideário anti-imigração, porque o povo, o «povinho», que muito «boa» gente despreza, opõe-se naturalmente à vinda do «outro», e opõe-se porque prefere o «Nós». Claro que muitos retardados de merda que militam no Nacionalismo vão continuar a marrar que o povinho é estúpido e que a Democracia é satânico-judaica - e evidentemente que serão culpados de uma estupidez sem precedentes caso o combate político nacionalista contra a iminvasão do Ocidente venha a falhar. Torna-se cada vez mais óbvio que é um erro mortal da parte dos Nacionalistas ignorar o que está à frente da cara desde há pelo menos mais de uma década: o Nacionalismo continua a não ter outra aliada para além da Democracia.