CAMINHADA NACIONALISTA PARA O PODER NO OCIDENTE
Trump tornou possível o impossível.” A frase foi proferida pela líder do maior partido de Extrema-Direita francês, Marine Le Pen, poucos dias após a vitória imprevisível do candidato republicano nas eleições presidenciais dos EUA, e passou seguramente pela cabeça de muita gente ligada a movimentos nacionalistas, populistas, xenófobos e assumidamente inimigos do chamado sistema instalado, espalhados por essa Europa fora. A linha de raciocínio é simples: se Trump conseguiu ser eleito apelando ao proteccionismo, criticando a imigração e prometendo acabar com o establishment numa das maiores democracias mundiais, porque não poderá a velha Europa aspirar a algo semelhante?
Não é que o presidente eleito tenha inventado a fórmula inacabada para uma teoria anti-sistema e anti-globalização, bem pelo contrário. Os movimentos nacionalistas na Europa não foram aniquilados, obviamente, com o fim do Terceiro Reich, com o desabar do Muro de Berlim ou com a criação da União Europeia, pelo que, mesmo adormecidos, tiveram sempre uma representação significativa um pouco por todo o continente. Mas a mistura explosiva resultante da gigantesca vaga de imigração para o continente, da crise financeira, do desemprego ou do bloqueio do projecto europeu mostrou a faceta mais ineficiente dos representantes dos partidos tradicionais mais moderados. E a Extrema-Direita viu ali uma oportunidade de ressurgimento.
A forma de manifestação dos movimentos extremistas desta natureza é previsivelmente distinta de Estado para Estado. Ainda assim, é possível encontrar semelhanças entre as diferentes realidades, quer em termos de antecedentes históricos, quer em termos do que poderá acontecer nesses países num futuro bem próximo.
O Reino Unido foi um dos países mais relevantes, no quadro da realidade do continente europeu, a dar um murro na mesa e a ver crescer, de forma brutal, a importância de partidos anti-imigração e anti-europeístas. O caso mais óbvio é o do UKIP, que logrou o terceiro lugar nas eleições legislativas de 2015, com 12,6% do total de votos. As particularidades do sistema eleitoral britânico não permitiram uma maior representação do partido do excêntrico Nigel Farage no parlamento, mas a expressividade do mesmo junto dos britânicos foi um dos grandes motores para a credibilização interna da campanha que culminou na decisão pelo Brexit, em Junho deste ano, após referendo.
Enquanto os britânicos discutem a melhor forma de saída da UE, outros países do núcleo duro daquela organização preparam-se para um ano de emoções fortes, já que estão prestes a ir votos, assombrados pelo crescimento dos partidos de Extrema-Direita. O primeiro a ser posto à prova é a Áustria. Norbert Hofer, do Partido da Liberdade – que obteve 20,5% dos votos nas legislativas de 2013 –, perfila-se para ser eleito como próximo presidente do país no domingo.
Geert Wilders, o “Trump Holandês”, também quer melhorar os 10,01% que o seu partido conseguiu nas eleições parlamentares de 2012 já nas legislativas de Março do próximo ano. E nem a formalização da acusação judicial por incitamento ao ódio o impede de sonhar com a possibilidade de poder intrometer-se numa eventual solução governativa.
O caso mais mediático de impacto da Extrema-Direita na Europa está em França. Os bons resultados da Frente Nacional nas legislativas de 2012 foram confirmados nas eleições regionais do ano passado e a imprensa francesa aponta mesmo Le Pen como a candidata a abater na segunda volta das eleições presidenciais, marcada para maio do próximo ano. A Direita nacionalista tem tido tal representatividade junto dos franceses que o candidato do partido conservador, François Fillon, assentou o seu programa em temas próximos dos da Frente Nacional, como tradição, a política anti-imigração e a crítica à excessiva islamização do país.
No fim do próximo verão será a vez de a Alemanha ir a votos. As eleições para o Bundestag de 2013 foram o primeiro teste do mais recente movimento nacionalista alemão, a Alternativa para a Alemanha – criado nesse mesmo ano –, que logrou transformar uma percentagem pouco expressiva de votos numa vitória inédita nos estados de Baden-Württemberg, Renânia-Palatinado e Saxónia-Anhalt nas eleições regionais deste ano. Merkel já anunciou a intenção de se candidatar a um quarto mandato e mantém o favoritismo. Mas até lá muita coisa pode mudar, nomeadamente na vizinha França, pelo que a chanceler ainda tem muito trabalho pela frente.
Confirmando-se a eleição de Hofer na Áustria – mesmo que com poucos poderes executivos –, completa-se um trio de países na Europa central onde a Direita mais populista conseguiu encontrar o seu espaço. O Lei e Justiça venceu as eleições polacas em 2015 e tem chocado de frente com a UE, e na Hungria foi o Fidesz do “pequeno ditador” – palavras de Juncker – Viktor Orbán que reclamou os louros nas legislativas de 2014. Na mesma eleição, o Jobbik, outro partido extremista, conseguiu mais de 20% do total de votos.
A norte, o cenário é bastante consensual, e não pelos melhores motivos. Na Dinamarca, Suécia, Finlândia e Noruega, os partidos nacionalistas e anti-imigração obtiveram entre 12% e 21% nas mais recentes eleições parlamentares realizadas e prometem crescer ainda mais.
Na Turquia e na Rússia, Erdogan e Putin governam com mão de ferro, mas nem isso impede que os partidos mais à Direita tenham conseguido resultados interessantes nas respectivas eleições.
Já o sul da Europa é demasiado incaracterístico. Em Portugal, o PNR tem pouca expressão; em Espanha, os nacionalismos regionais não dão espaço à Extrema-Direita; e em Itália operam pequenos partidos neo-fascistas de expressão também regional. Relativamente à Grécia, o caso muda de figura. O Aurora Dourada foi o terceiro partido mais votado em Setembro de 2015 e os Gregos Independentes juntaram-se mesmo ao governo.
A porta que Trump escancarou está bem aberta para os partidos da Extrema-Direita europeus. O sucesso ou fracasso dos seus representantes, no próximo ano de eleições, pode ser o empurrão de que uns precisam ou o muro que outros terão de escalar.
Tudo começa na Áustria.
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Fonte: http://sol.sapo.pt/artigo/536242 (Artigo originariamente redigido sob o acordo ortográfico de 1990 mas corrigido aqui à luz da ortografia portuguesa.)
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Até a «anti-racista» Suécia tem afinal um dos partidos nacionalistas mais fortes da Europa, o SD - Democratas Suecos - e isto aconteceu em meia dúzia de anos...
É como digo há anos - quanto mais os Nacionalistas falam em discurso directo ao povo, mais o povo vota nos Nacionalistas, seja em que país for. Confirma-se portanto que a Democracia é uma aliada natural do Nacionalismo - apesar de durante décadas a elite reinante no Ocidente, militantemente universalista e anti-racista, ter tentado impingir ao «povinho» a salganhada a que chama «multiculturalismo», a verdade é que o povo não embarcou nessa. Saliento, como salientei no texto a azul, o facto de que num dos países mais influentes da Europa, a França, o combate presidencial se situa agora no campo pleno da ideologia nacionalista: uma candidata genuinamente nacionalista enfrenta um representante do sistema que precisa de usar o ideário nacionalista para lhe fazer frente, porque sabe que é nisso que o povo vota.
Se o Nacionalismo vier a falhar na Europa e nos EUA e o Ocidente acabar por ficar submergido pela maré islamo-africana, isso não será culpa da Democracia mas sim da referida elite reinante que andou décadas a encher as terras do poente com alógenos; e será também culpa da imbecilidade dogmática e da estúpida incompetência dos autistas de merda que militam no Nacionalismo e durante décadas desprezaram a Democracia, que foi sempre, como continua a ser, a maior arma do Nacionalismo.
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