SOBRE A RAIZ DO CULTO DO «ARIANO» NA ÉPOCA CONTEMPORÂNEA

"Stig Wikander conta-nos coisas apaixonantes sobre a história do «arianismo» na Europa. Encontrou a origem da ideia de superioridade dos Ários no anti-clericalismo de Jules Michelet e Edgar Quinet. Querendo desvalorizar (directa ou indirectamente) o Cristianismo, Michelet e Quinet exaltavam os Vedas e a «sabedoria ária». O seu anti-semitismo e o dos seus admiradores não era senão um reflexo do seu anti-clericalismo. A sua arionofilia era de natureza religiosa. O irmão do célebre sanscritista Eugène Burouf, Émile, professor de Nantes, escreveu uma História das Religiões em que demonstrava a importância e antiguidade dos Vedas. O livro teve uma enorme influência. O próprio Mallarmé o leu e afirmava que Homero arruinou a poesia épica. "Mas antes de Homero havia o quê?», perguntavaram-lhe. «Os Vedas», respondeu Mallarmé.

O anti-clericalismo «arianizante» não tinha nenhuma relação com o anti-semitismo político que surgiu mais tarde. As origens desta corrente anti-semita encontram-se no Império Austro-Húngaro e na Alemanha da segunda metade do século XIX."

In «Diário» (1945-1969), de Mircea Eliade, 31 de Julho de 1965.

* * * *

(Nota: não confundir o «arianismo» acima referido com a doutrina de Árrio de Alexandria, que nada tem a ver com o tema.)