SOBRE UM PRÓS E CONTRAS MAIS EQUILIBRADO QUE O COSTUME

Foi bom, o «Prós e Contras» de ontem. Não foi o habitual «Prós e Mais Prós Ainda», que é o que se vê quando o tema tem a ver com alógenos e imigrantes. Fátima Bonifácio, historiadora e professora, esteve lá, apesar de uma vez ter dito, no mesmo programa «A minha Europa é branca e cristã», tendo aliás havido quem lhe tenha ouvido «A Europa será branca ou não será Europa.» Em cheio no alvo, em mais de um sentido. Parece que há na direcção do programa quem perceba que certas opiniões uma vez expressas devem ser enfrentadas publicamente, para não crescerem completamente na sombra e sem controlo... como diz um ditado qualquer, mantém os teus amigos perto de ti e os teus inimigos ainda mais perto...

Claro que desta vez também havia no debate um representante da tropa imigracionista, nomeadamente Rui Marques, que chegou a afirmar que, em matéria de opinião popular, nenhuma deveria ser admitida para além da que fosse favorável ao acolhimento dos refugiados. Mas desta vez, pelo menos, teve quem o contrariasse. F. Bonifácio voltou a expressar-se com a mesma lucidez, embora mais prudentemente do que antes, fazendo notar que os valores que actualmente se querem atribuir à Europa acabam por se contradizer - a tolerância sem limites acaba por pôr em risco a sustentação de uma Europa defendida contra forças intolerantes, por exemplo. E isto qualquer comum cidadão percebe, mas vive-se actualmente num tempo em que este tipo de coisas deve ser dito em púlpitos de grande poder de alcance, quanto mais não seja como farol e ponto de referência. 

Na plateia, que de certa maneira funciona como a voz da plebe diante dos «aristocratas» convidados para o debate, não esteve mal o cidadão Salvador Costa, que na Internet criou uma petição contra o estabelecimento de alegados refugiados em Portugal. R. Marques não soube responder-lhe com clareza quando S. Costa lhe perguntou quanto receberiam de rendimento os refugiados. Na generalidade, ficou-se R. Marques por dizer que o dinheiro vinha da comissão europeia ou coisa parecida. Era preciso ter-lhe respondido que não interessa se o dinheiro vem da UE, da ONU ou de Marte - se o dinheiro aparece, então deve ir em primeiro lugar para os autóctones europeus em situação de miséria e privação, e nenhuma tergiversação serviu ou serviria para iludir esta evidência.

 Os aplausos mais audíveis foram usualmente para S. Costa, quando fazia notar que aos portugueses na penúria não tinham sido prestados os auxílios que agora se oferecem aos refugiados; também F. Bonifácio granjeou um ruidoso apoio da parte da plateia quando salientou a incoerência, típica da elite reinante, de por um lado proclamar ser crucial respeitar a autonomia dos Povos em desenvolvimento e por outro desresponsabilizá-los com desculpabilizações diversas. Há opiniões que de facto não podem continuar a ser silenciadas por muito mais tempo.