segunda-feira, junho 15, 2015

EXTREMADURA - TERRITÓRIO DE ESPANHA - FESTEJOU O DIA DE PORTUGAL

Fonte: http://www.publico.pt/portugal/noticia/a-extremadura-comemora-o-dia-de-portugal-1639292   (artigo originariamente redigido sob o acordo ortográfico de 1990 mas corrigido aqui à luz da ortografia portuguesa)
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No dia 10 de Junho, a região da Extremadura celebra também o Dia de Camões, um Dia de Portugal que deve ser, para a nossa região, tão especial como para os nossos vizinhos do outro lado da “Raia”. O que nos une é muito mais do que aquilo que nos separam os 428 quilómetros da fronteira que partilhamos.
No ano passado, fomos a primeira região que celebrou o dia do outro país. A união dos nossos povos é cada vez mais ambiciosa e estratégica. A Extremadura tem muito para oferecer em todos os sectores socioeconómicos a Portugal e Portugal à Extremadura.
As relações empresariais em ambos lados da fronteira estão consolidadas. Mas podemos aproveitar muito mais as nossas sinergias. Desde o Governo da Extremadura, continuamos a trabalhar com o objectivo de abrir portas às novas oportunidades.
Os empresários da Extremadura continuam a olhar para o mercado português para ampliar os seus negócios. 60% das empresas extremenhas exportam para Portugal, que nos oferece, não apenas o seu território nacional, mas também a nossa saída para o mar. Pode ser, também, uma importante plataforma para aceder aos mercados dos países emergentes de língua portuguesa, como Angola, Brasil ou Moçambique.
A Extremadura tem Portugal como principal parceiro em matéria de exportações e importações. Em 2013, foram mais de 500 milhões de euros exportados para o país vizinho, enquanto as importações superaram os 455 milhões de euros.
A Extremadura é também a porta de entrada, a ligação mais directa, de Portugal para o resto da Europa.
O nosso vínculo está forjado pela história. Ambos os territórios têm aprendido a cooperar e um exemplo disso é a euro-região Euroace formada pelas regiões portuguesas do Centro e do Alentejo junto com a Extremadura. É a primeira euro-região de natureza tripartida na fronteira luso-espanhola, que nasceu para reforçar, e dar um novo impulso, às relações dos cidadãos de ambos lados da raia. Daqui surgiram já inúmeras iniciativas e projectos de cooperação.
Uma cooperação que não é apenas comercial, também é social e faz parte da nossa cultura. O adjectivo ibérico foi incorporado a uma infinidade de congressos e a numerosos certames e feiras que se celebram em ambos os lados da fronteira de forma conjunta, assim como à presença de criadores e artistas nos museus e festivais extremenhos e portugueses.
Da mesma forma, o ensino do Português na Extremadura e do Espanhol nas regiões do Alentejo e do Centro tem vindo a aumentar, nos últimos anos, a um grande ritmo. Ao longo do ano passado, mais de 100 centros de ensino pré-primário, básico e secundário da Extremadura ofereceram aulas de Português, enquanto nas escolas de línguas da região o Português é já a segunda língua mais solicitada após o Inglês.
São apenas alguns exemplos que mostram como a Extremadura sente Portugal como um povo irmão. Festejar o Dia de Camões é uma oportunidade única para continuar a aproximar ambos os povos, pelo que incentivo todos os portugueses a visitar a nossa região, num dia tão especial para todos, e que participem nas actividades organizadas com motivo desta comemoração portuguesa, que já é, também, uma festa extremenha.

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De notar que na região da Extremadura a língua tradicional é a chamada «Fala», que não é castelhana mas sim galaico-portuguesa:

A fala da Estremadura ou fala de Xálima (em estremenho: A Fala) é uma variedade linguística do galaico-português usada por cerca de 10 500 pessoas na parte mais ocidental da província de Cáceres, em Espanha, junto à fronteira portuguesa. É utilizada numa área conhecida por vale de Xálima (ou Jálama) ou vale do rio Ellas (o Eljas), no noroeste da província de Cáceres, na região espanhola da Estremadura. Foi declarada Bem de Interesse Cultural pela administração da Estremadura em 20 de Março de2001.
É também conhecida por galego da Estremadura e por valego.
Tradicionalmente, não existe um nome único que abranja as três variantes que se falam em cada um dos três concelhos do vale. Os nomes populares são:

 - o Manhego (mañegu, na sua fala), falado em São Martinho de Trebelho
 - o Valverdeiro (valverdeiru, na sua fala), falado em Valverde do Fresno
 - o Lagarteiro (lagarteiru, na sua fala), falado nas Ellas.

Segundo alguns filólogos, existe uma forte relação entre estas falas e os dialectos portugueses falados no Concelho do Sabugal, em Portugal.
No vale, existem cerca de cinco mil falantes destas três variantes. Como consequência da emigração, existem à volta de três mil naturais da região que vivem fora e que mantêm o uso familiar da língua. Regressam no Verão, reforçando a utilização do idioma.
A fala é a língua habitual da população, com a excepção dos funcionários do estado, da polícia e de outras pessoas vindas de fora do vale. Não há perda linguística com as gerações mais novas, ainda que Valverde se possa dizer ser o concelho mais castelhanizado. A partir de 1960, o número de castelhanismos na língua falada aumentou progressivamente, devido à escola, ao serviço militar e aos meios de comunicação.
As primeiras referências filológicas conhecidas sobre a fala foram realizadas por Fritz Krüger, em 1925, e porOtto Fink, em 1929, ao estudarem o castelhano dialectal da zona. José Leite de Vasconcelos realizou uma outra investigação entre 1929 e 1933, ainda mostrando fenómenos que nunca voltaram a registar-se nos estudos seguintes, que a aproximava do Português, sendo então a opinião de se tratar de um dialecto do Português unânime.
O primeiro investigador a referir-se a esta fala como de origem galega, comparando-a com os forais de Castelo-Rodrigo (1209) e relacionando-a com a possível chegada de povoadores galegos à zona nos séculos XII e XIII foiLindley Cintra, em 1959: "O falar fundamentalmente galego, mas com leonesismos, de Castelo Rodrigo e Riba-Coa no séc. XIII, o falar também essencialmente galego da região de Xalma, outra coisa não são, segundo creio, do que falares destes núcleos de repovoadores galegos tão frequentemente recordados pela toponímia".
Clarinda de Azevedo também se refere a esta repovoação, afirmando a sua relação com um galaico-português arcaico e portanto maior proximidade com o Galego actual. José Luis Martín Galindo crê que as falas são anteriores a uma possível repovoação galega, mas esta tese não conquistou muitos partidários.
Xosé Henrique Costas González nos seus estudos afirma a galeguidade destas falas estabelecendo a sua origem na repovoação por galegos nos séculos XII e XIII e a interferência de leonesismos como consequência dum longo contacto com o leonês. A existência de palavras galegas na Serra de Gata e no sudoeste deSalamanca poderia indicar que a extensão da fala na Idade Média tivesse sido maior do que na actualidade. Frías Conde também se mostra partidário da galeguidade destas falas. José Enrique Gargallo Gil fala de um galego-português fronteiriço e arcaizante, admitindo uma maior vinculação com o galego de que com o português. Juan Manuel Carrasco González classifica a fala como a terceira variedade do galego-português.
No ano de 1999, celebrou-se un congresso sobre a Fala, com a intervenção dos principais investigadores.
Em 1992, uma sondagem realizada por José Enrique Gargallo Gil (professor da Universidade de Barcelona) a alunos falantes da fala revelou os seguintes dados, relativamente ao uso do Castelhano no seio familiar:

4 dos 29 entrevistados de São Martinho de Trebelho usam o Castelhano quando falam com a família
em Elas, o número desce para apenas 3, em 54 entrevistados
em Valverde, 25 de 125 entrevistados usa o Castelhano neste contexto.

Em 1993, foi publicada uma sondagem no número 30 da Revista Alcántara, realizada por José Luis Martín Galindo, que mostrava as seguintes percentegens de auto-identificação, em São Martinho de Trebelho:

Dialecto do Castelhano: 13%
Dialecto do Português: 20%
Língua autónoma: 67%

Deve salientar-se que na referida sondagem participaram apenas 20 pessoas, num total de 960 habitantes, não existindo a hipótese de responder "Galego" ou "variante do Galego". A ausência destas opções era lógica na altura, dado que as teorias da possível relação com o Galego eram recentes.
Em 1994, um novo estudo indica que 80% dos entrevistados aprendeu a falar Castelhano na escola, sendo a percentagem do uso da fala na família como se segue:

100% dos pais de Elas afirmam falar a língua autóctone ao conversarem com seus filhos
85% em São Martinho
73% em Valverde
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Fonte: Wikipedia, através de Facebook

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É curioso que essa zona ou pelo menos a maior parte dela tenha em tempos feito parte da Lusitânia romana, quando não até da Lusitânia dos Lusitanos, segundo alguns. Um exemplo disso é a divisão territorial romana da Hispânia no tempo de Augusto:

Agora veja-se a Extremadura actual no mapa ibérico:

Pode para já sonhar-se com um dia em que o território da Extremadura venha a fazer parte de Portugal. Mas a partir do momento em que se sonha algo já se está menos longe de o conseguir.